Era uma vez uma fábrica militar que dava pelo nome de FNMAL, Fábrica Nacional de Munições para Armas Ligeiras, e que nos anos oitenta foi integrada, juntamente com outras, na INDEP, Indústrias Nacionais de Defesa. Ficava ao fundo da Avenida de Moscavide.
Durante mais de trinta anos vi da minha janela a sua imponente chaminé de tijolo.
Centenas de pessoas que ainda hoje vivem em Moscavide trabalharam nesta fábrica e, muitas delas, passaram dentro da FNMAL a maior parte das suas vidas.
Em 2001 as instalações da FNMAL foram encerradas e nunca mais voltaram a funcionar.
Durante anos os edifícios aguardaram, no seu recolhimento e decadência, aquilo que o destino lhes reservasse.
No dia 12 de Fevereiro de 2007 apercebi-me de movimentações pouco usuais para alguém que passa frequentemente no local. Pareceu-me que se preparavam para a demolição. Quem ? porquê ? ninguém no local me soube explicar.
Desde essa data, nos últimos dois meses, a maquinaria abateu-se sobre os velhos pavilhões.
Como pretendia saber o que se estava a passar e o que se preparavam para construir no local dirigi-me à junta de Freguesia de Moscavide onde o próprio Presidente me disse, com a maior das calmas, que nada sabia sobre o assunto.
Deixei o meu contacto para me telefonerem quando conseguissem a informação pretendida. Até hoje.
Enviei uma mensagem electrónica para o Município de Loures pedindo informações sobre o projecto mas, apesar de ter sido registada com o número 18184 de 16/02/2007, a pergunta nunca mereceu qualquer resposta.
Entretranto os trabalhos continuavam.
Então resolvi, no dia 3 de Abril de 2007, dirigir-me presencialmente ao atendimento do Departamento de Gestão Urbanística da Câmara Municipal de Loures.
Para meu grande espanto comunicaram-me que nada sabiam sobre projectos para os terrenos da velha FNMAL em Moscavide. Simpaticamente sugeriram que me dirigisse ao Departamento de Projectos Estruturantes (ou seria Estorturantes ?) pois aí concerteza que saberiam esclarecer-me.
Lá fui, bastante esperançado, mas a única coisa que me disseram foi que uma empresa de nome MAVIFA solicitara autorização para demolir a antiga fábrica, aparentemente já depois de ter iniciado os trabalhos.
Sobre o futuro disseram-me, a muito custo, que um projecto para o local fora reprovado pela vereação e que se aguardava a reformulação do mesmo para eventual aprovação.
Entretanto a fábrica estava quase totalmente demolida.
E transformara-se, depois de triturada, num conjunto de montículos de terra.
Qual não é o meu espanto quando hoje, 10 de Abril, apenas uma semana depois de ter estado nos Projectos Estruturantes de Loures, vejo à porta da demolida fábrica este flamejante cartaz:
Eu para já não tenho nada contra o projecto, nem contra a empresa OBRIVERCA que o vai fazer (propriedade de um famoso dirigente desportivo), nem contra a indústria da construção em geral, mas que tudo isto cheira a esturro lá isso cheira.
No mínimo, no mínimo, houve um total desprezo pelo direito dos cidadãos à informação levando a suspeitar que se está a tentar esconder qualquer coisa.
Não há por aí ninguém disposto a fazer uma reportagem jornalística sobre tudo isto ? ou um trabalho académico no domínio da sociologia ?
Eu possuo, e posso disponibilizar, umas centenas de fotografias das operações de demolição e dos interiores da fábrica tal com eram imediatamente antes da demolição.
7 comentários:
Caro amigo,
Temos alguma informação que talvez lhe possa interessar.
O que se passa é que uma empresa chamada Mavifa comprou os terrenos em causa, tendo feito entrar na CM Loures um proposta onde se propõe a construir 46000m2 de actividades económicas e 15000m2 habitação com 6 andares acima do solo. Nada se diz ou se sabe acerca de serviços sociais, espaços verdes ou mesmo estacionamento. O que temos por certo é que esta proposta vai aumentar a pressão sobre os serviços sociais, já de si escassos, em Moscavide e obviamente aumentar o tráfego rodoviário e o consequente nível de poluição.
O Bloco de Esquerda defendeu no seu programa autárquico que aquela zona fosse reconvertida ou recuperada para serviços, emprego, serviços sociais, espaços verdes e de lazer. Achamos que seria possível e muito positivo fazerr regressar o emprego a uma área que chegou a empregar muitas centenas de pessoas da zona oriental de Lisboa.
Informo também que a Assembleia de Freguesia de Moscavide (não a Junta) aprovou um pedido de esclarecimento à CM de Loures que nunca obteve resposta. Saliento que este pedido de informação foi aprovado por unanimidade (BE, CDU, PS, PSD) mas foi uma imposição do PS, no formato, porque o mesmo PS impediu que se fizesse um requerimento à CM… achava que era extemporâneo. O PS como poderá saber, tem maioria absoluta na Moscavide e maioria na CM, portanto têm todo e qualquer poder.
Eu, depois de ter enviado também um pedido de informação urgente à JF de Moscavide, que também nunca foi respondido, dirigi-me (como cidadão do Concelho) à Assembleia Municipal de Loures para obter informação perante o Sr. Presidente da Assembleia. Por duas vezes estive na Assembleia Municipal, intervi no período do público, e nunca me enviaram qualquer tipo de resposta.
Temos a informação neste momento, que a JF de Moscavide, tutelada pelo seu presidente Sr. Daniel Lima, deu um parecer positivo e condicionado ao projecto, ou seja, acha bem, mas terá posto algumas condições.
Não conhecemos o teor do documento da JF, nem quais as condições. Tentamos obter o máximo de informação a nível institucional, mas os responsáveis políticos que dominam os cargos bloqueiam o acesso À informação e cometem ilegalidades gritantes no acesso à informação. Estamos a tentar obter por via institucional e legal mais informação.
De qualquer forma, não estamos parados naquilo que mais interessa, que é a informação à população e a tentativa de despertar os cidadãos para a defesa daquilo que é de todos, daquilo é público, daquilo que a todos afecta, seja o preço e o negócio da água, os impostos ou a falta de transparência e rendição das Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia às empresas de construção e ao negócio da china em que se tornou a especulação imobiliária através do uso do solo.
Gostaríamos muito que pudesse assistir e participar nas próximas assembleias de freguesia no sentido de colocar as questões necessárias e tentar obter as respostas através da pressão sobre os orgãos autárquicos. Devo dizer que a presençã da população e as questões levantadas por esta é uma das coisas que o PS em Loures tenta evitar e daquilo que mais tem medo, ou seja, de se expor e à sua política, e de fornecer explicações aos cidadãos.
Um abraço
Rui Maia
Representante do Bloco de Esquerda na Assembleia de Freguesia de Moscavide
Do DN de hoje:
Demolições da Obriverca paradas em Moscavide por falta de licença
Uma nova urbanização da Obriverca promete nascer dos escombros da antiga Fábrica Nacional de Munições e Armas Ligeiras, em Moscavide. Um imenso cartaz no local dá essa garantia, mas o presidente da construtora, Eduardo Rodrigues, confirmou ao DN que o projecto ainda não foi aprovado pela Câmara de Loures.
A Obriverca, que irá construir em terrenos pertencentes a uma imobiliária do empresário Armando Gertrudes Martins, a Mavifa, iniciou as demolições há cerca de um mês, mas suspendeu os trabalhos após a visita ao local dos fiscais municipais, que embargaram a obra por não se encontrar licenciada.
Populares disseram ao DN que a empreitada foi embargada vários dias depois de terem sido feitas as demolições e quando esses trabalhos estavam quase concluídos. "Até andou por aí um helicóptero a sobrevoar a fábrica", adiantou uma fonte.
O presidente do Grupo Obriverca disse ao DN que a empresa pediu uma autorização prévia para iniciar as demolições, já que era necessário prevenir acidentes pessoais no interior das antigas instalações fabris. "O pedido foi deferido e só demolimos os edifícios em ruína iminente. Os outros continuam de pé", afirmou. Como o local estava a ser habitado há muitos anos por toxicodependentes e sem-abrigo, Eduardo Rodrigues admitiu preferir pagar a multa à eventualidade de ali morrer alguém numa derrocada.
A produção fabril na antiga unidade industrial de Moscavide, que, juntamente com a fábrica de Braço de Prata e da Pólvora, integra as áreas militares na zona oriental de Lisboa e Loures, cessou em meados da década de 80, mas só foi completamente abandonada há quase dez anos, quando se foram embora os últimos dez funcionários. Desde então, os terrenos estiveram para venda, acabando por ser comprados no ano passado pela Mavifa "por pouco mais de 32 milhões de euros", esclareceu Eduardo Rodrigues, lamentando não os ter comprado antes por "cerca de 20 milhões".
A construção do Condomínio Oriente, que passará também por um fundo imobiliário fechado, cujo nome não foi revelado pelo presidente da Obriverca, "cumpre todos os requisitos do Plano Director Municipal de Loures", afiançou.
Aludindo a uma área que se encontra classificada pelo PDM como de uso industrial misto, o presidente da Obriverca adiantou que "só 25% serão para habitação". A maior parte do espaço será ocupada com comércio e serviços, espaços verdes, estacionamentos subterrâneos e equipamentos públicos.
No projecto de arquitectura patente no local da antiga fábrica, os promotores imobiliários garantem a cedência de 15 mil metros quadrados para a construção de um pavilhão multiusos e um centro de dia. Ressalvando que as negociações ainda estão a decorrer, Eduardo Rodrigues salienta que o "mais provável é ser a Obriverca a construir esses equipamentos públicos, que ficarão inseridos na nova urbanização".
Foi a garantia dessa cedência que levou a Junta de Freguesia (JF) de Moscavide a dar parecer positivo ao projecto. O presidente Daniel Lima disse ao DN que esses 15 mil metros quadrados são essenciais para construir "o centro de saúde, o pavilhão desportivo, a esquadra de polícia e o centro de dia". Outro problema que a JF espera ver resolvido é o do estacionamento, já que a urbanização irá disponibilizar "2500 novos lugares para o público", afirmou o autarca.
Paula Sanchez
O Público de 17 de Abril, pela pena de Luís Filipe Sebastião, publicou:
Loures embarga demolições em Moscavide por falta de licença
A maior parte dos edifícios da antiga Fábrica Nacional de Munições de Armas Ligeiras, em Moscavide, foi reduzida a entulho sem licença da Câmara de Loures. A autarquia embargou os trabalhos de demolição, enquanto decorre a apreciação de um projecto imobiliário da Obriverca.
Seis anos após ter deixado de laborar, a antiga unidade fabril começou a ser demolida em Março. As máquinas avançaram sobre as instalações. Só sobraram os edifícios que ladeiam a portaria e outras cinco dependências, que não terão ido abaixo porque, entretanto, os trabalhos foram embargados pela Câmara de Loures.
O vereador do Urbanismo, João Domingues, confirmou ao PÚBLICO que o proprietário solicitou autorização "para limpeza do terreno e demolição de algumas edificações que não ofereciam condições de segurança". No entanto, no auto de embargo emitido contra a empresa Mavifa, de 5 de Abril, constatou-se a "execução de trabalhos de demolição de diversas edificações sem licença".
Uma informação técnica municipal salientou que, perante "o estado em que a obra se encontra, já não é possível averiguar a veracidade das questões de salubridade e do risco de derrocada das edificações" que eram referidas. O vereador do Urbanismo admite que no projecto em apreciação na câmara para aquele espaço "todos os edifícios eram para ser demolidos". Mas João Domingues notou que os trabalhos só deviam ter lugar após a emissão de uma licença especial e que, "como houve uma prevaricação, alguém tem de ser responsabilizado por isso".
Eduardo Rodrigues, da Obriverca, que constituiu um fundo imobiliário com o proprietário, justificou o avanço dos trabalhos porque "havia fachadas que estavam em risco" e o espaço era invadido por pessoas que ali procuravam abrigo. O projecto prevê a construção de 80 fogos, em blocos até seis pisos, 3000 lugares de estacionamento, pavilhão desportivo, centro de dia e edifício multiusos.
O empreendimento não preservará qualquer memória da unidade fabril, nem sequer a antiga chaminé, porque, segundo Eduardo Rodrigues, "estava podre". A torre em tijolo serviu para escoar fumos de uma velha caldeira a vapor Badcock & Wilcox, cuja salvaguarda foi defendida pela historiadora de património industrial Deolinda Folgado, na revista Pedra e Cal, mas que, entretanto, desapareceu. Nas investigações do atentado de 11 de Março, em Madrid, foram apreendidas 25 munições de 9mm fabricadas na unidade de Moscavide.
DN, 17 Abril 2007:
Moscavide. Demolição de antiga unidade industrial aguarda emissão de Licença
A intervenção da Obriverca na antiga Fábrica Nacional de Munições e Armas Ligeiras, em Moscavide, não viola o Plano Director Municipal (PDM) de Loures. Quem o afirma é o vereador do Urbanismo, José Pedro Domingues, desmentindo assim o Bloco de Esquerda.
O embargo das obras na desactivada Fábrica de Munições prende-se com o facto "de a empresa proprietária dos terrenos estar a extravasar aquilo para que foi autorizada", garantiu o autarca ao DN. Ou seja, a autorização municipal previa apenas a demolição de alguns edifícios, "por razões de salubridade e segurança, e foi constatado que estavam a ser demolidos outros para os quais não havia licenciamento",explica José Pedro Domingues.
Assim, até que novo pedido seja apresentado e aprovado pela câmara de Loures, as obras ficarão suspensas, pese embora "a empresa tenha prevista a demolição da totalidade dos edifícios" para ali erguer uma urbanização que contemplará uma área mista de habitação, comércio e serviços.
Sobre uma eventual violação do PDM, como denunciado pelo Bloco de Esquerda, João Pedro Domingues é categórico: "Se assim fosse eu arriscava-me a perder o mandato. Mais ainda, o PDM prevê um índice de construção de habitação de 30% da área e a proposta constante na câmara é de apenas 25%- É certo que ainda não nos chegou qualquer projecto, mas para já não há na intervenção da Obriverca qualquer violação ao PDM."
ANA GOULART, Loures
Expresso, 14/07/2001:
INDEP encerrra
O INDEP vai fechar a fábrica de munições até ao final do ano, disse ontem ao EXPRESSO Navalhas Garcia, da direcção do Sindicato dos Metalúrgicos. Os cerca de 250 trabalhadores da empresa que fabrica balas ficam desempregados, conforme comunicou ontem a administração do INDEP à Comissão de Trabalhadores.
O EXPRESSO tentou sem êxito falar com a administração do INDEP, que não se mostrou disponível. A mesma fonte afirma que os empregados estão a receber uma proposta de indemnização de um mês e meio por ano de trabalho.
«Como é possível que o Indep, que tem um património avaliado em 10 milhões de contos, se prepare para retirar apenas um milhão de contos para indemnizações?», interroga-se Navalhas Garcia. A comissão de trabalhadores foi informada de que o negócio não é rentável devido à concorrência estrangeira. Quarta-feira há um plenário nas instalações de Moscavide.
O Diário de Notícias e o Público, a 17 e a 18 de Abril, referiram nas suas páginas a demolição da velha fábrica da INDEP em Moscavide.
Como observei e documentei fotográficamente esse processo posso esclarecer o seguinte:
- 12 de Fevereiro: eram evidentes os trabalhos preparatórios da demolição para quem passava à porta da fábrica
- 13 de Fevereiro: contactei o Presidente da Junta de Moscavide que estava consciente do facto mas que me disse desconhecer o projecto
- 2 de Março: já havia vários edifícios demolidos
- 16 de Março: enviei uma mensagem electrónica à Câmara Municipal de Loures em que referia as demolições em curso e pedia informações
- 20 de Março: é demolido o maior edifício da fábrica, e o mais emblemático, bem com a grande chaminé.
- 21 de Março: dirigi-me à loja de atendimento ao público da CML no LoureShopping e tentei, sem sucesso, perceber o que estava a acontecer
- 3 de Abril: fui ao atendimento público do Departamento de Gestão Urbanística e também ao Departamento de Projectos Estruturantes onde a demolição em curso já era conhecida
- 5 de Abril: finalmente, segundo o Público e com a maior parte dos edifícios derrubados, a Câmara de Loures embarga as demolições.
Sendo estes os factos constata-se que só ao fim de quase dois meses, e quando já pouco se podia fazer, a Câmara de Loures resolveu actuar. Isto apesar dos avisos e perante acções de demolição que chegaram a ter grande espectacularidade.
Conclusão: parece tratar-se de um conluio entre a CMLoures e a empresa proprietária dos terrenos, possívelmente com o intuito de evitar embaraços resultantes de qualquer tentativa de preservar objectos de arqueologia industrial. A CMLoures fechou os olhos e a empresa derrubou por forma a criar um facto consumado.
Os argumento avançados para justificar a demolição, como por exemplo o perigo de derrocada, não me parecem credíveis à luz de observações que fiz no local e que tenho documentadas.
Não me pronuncio sobre as vantagens, ou oportunidade, de demolir a velha fábrica mas não posso aceitar a falta de transparência que rodeou todo este caso. É muito grave que o dever de informar os cidadãos, e até os partidos representados na Assembleia de Freguesia e na Assembleia Municipal, tenha sido sistematicamente desrespeitado.
Talvez este caso seja apenas mais um, no meio de muitos outros, mas não abdico de o denunciar.
Queria apenas dizer uma coisa para ficar bem claro.
Realmente a fiscalização esteve nesta obra e fizeram o trabalho que lhes competia...agora se infelizmente não obteve resultados dessa diligência é mesmo ESTRANHO.
Podemos dizer que foi relatada a situação na altura e foi encaminhado para quem de direito analisar a situação, agora se essa situação foi parar a uma gaveta sem fundo... ????????
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