LISBOA
a minha cidade comove-me
pois estes passos que se cruzam
vêm de há séculos caminhando
sobre estas pedras que ressoam
esta teia de gente sem destino
de trabalho de crime ou de cantigas
ponto de encontro átrio e viagem
de quem caminhando pisa sempre o mesmo chão
e não há outra cidade para mim
por mais gente que cruze as suas ruas
pois só minha cidade me alimenta
com a fome e o suor dos que passaram
só aqui se cumpre a minha vida
mais um passo do passado para o futuro
só aqui eu consigo acreditar
que tudo o que fazemos faz caminho
aqui é que eu faço filhos com os meus velhos sapatos
de quem sempre me despeço com desgosto
e nada me anima como subir estas calçadas
arfando e respirando este ar poluído
aqui é que me gasto como quem gasta as solas
e a morte faz sentido junto destas pedras
que me protegerão como uma mãe
sossegada e fresca como um beco
aqui onde o vento cheira a mar
é que apodrecemos voluntariamente
com o desplante dos cigarros
com que queimamos a impaciência
aqui é que os sons e as cores
falam a língua da memória
e só posso desculpar aqueles que partem
para não morrer de fome
aqui é que devemos entregar-nos à vida
para ela fazer de nós o que entendermos
aqui partilhando as ruas com todos
pois na rua somos quase iguais
aqui na nossa cidade não há lonjuras
entre nós só os preconceitos
a nossa cidade é o sonho quase feito
a grande festa que só espera um foguete
nela viajo estas noites clandestinas
que são o fel de cada manhã
na minha boca que não desiste
do segredo escrito pelas solas dos séculos
sobre as pedras lisas como crâneos semi-enterrados
continuaremos a cruzar-nos em todos os sentidos
da rosa dos ventos e da palavra
e só por causa disso eu não me canso
Lisboa, 1979
(Publicado em "O Diário", 1987)
O Governo com o maior número de Calimeros da história da democracia
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[image: calimero.jpg]
Alguém devia dizer a Luís Montenegro, por exemplo Marcelo II, O Velhaco, e
ao grupo de incompetentes por si nomeados para ...
Há 55 minutos
2 comentários:
Votar ou não votar... Heis a questão!?!?!?!?!?!??!?!?!
Votar, se nenhum candidato agradar votar em branco, que representa voto de protesto, ao invés de estar a "oferecer" o seu voto a força mais votada.
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