quarta-feira, abril 25, 2012

Abril e os arrependidos de Novembro

.




Sargento Lima Coelho (presidente da Associação Nacional de Sargentos) adverte que o “poder político não está acima dos valores da Constituição”, nem acima “do compromisso que assumiu com o povo português”.
RR.SAPO.PT
_______________________________


Entendemos ser oportuno tomar uma posição clara contra a iniquidade, o medo e o conformismo que se estão a instalar na nossa sociedade e proclamar bem alto, perante os Portugueses, que:
- A linha política seguida pelo actual poder político deixou de reflectir o regime democrático herdeiro do 25 de Abril configurado na Constituição da República Portuguesa;
- O poder político que actualmente governa Portugal, configura um outro ciclo político que está contra o 25 de Abril, os seus ideais e os seus valores;
Manifesto da Associação 25 de Abril – «Abril não Desarma»

O 25 de Abril não é propriedade de ninguém mas, se tivesse que ser de alguém, pertenceria principlamente às centenas de militantes que durante décadas lutaram e sofreram para que tal madrugada fosse possível, para que a Revolução pudesse aparecer como um passe de mágica tirado da cartola. 
Para que existisse um Otelo foi preciso que muitos gastassem as suas vidas em tipografias clandestinas, para que surgisse um Salgueiro Maia foi preciso que muitos penassem décadas nas cadeias, para que houvesse Capitães de Abril foi preciso que morressem de armas na mão milhares de patriotas africanos. 
Por isso fizeram muito bem, os valentes revolucionários de Abril, ao devolver rápidamente a palavra ao Povo que os tinha produzido.

Passados todos estes anos, sem que os direitos fundamentais tenham sido postergados e tendo nós um governo democráticamente eleito, considero verdadeiramente deplorável que haja hoje militares a tomar posições públicas sobre o curso da política portuguesa que roçam o paternalismo e o desprezo pela vontade popular. 
Que estatuto, que "superioridade moral" os impede de frequentar uma Assembleia da República onde se sentam todos os partidos eleitos pelos portugueses e, entre eles, o Partido Comunista Português cujo contributo para o derrube do fascismo é incomensurável?  
O que podemos esperar quando qualquer sargento se sente competente para substituir o Tribunal Constitucional?

Alguns que hoje mostram repugnância pelo actual estado de coisas parecem ter descoberto, tarde demais, que esta era uma das possibilidades abertas pelo 25 de Novembro de que foram os executantes. 
É bom não esquecer que nessa data foi posto um ponto final nos sonhos vanguardistas para uma democracia popular. É quase ridículo ver agora os mesmos que pegaram em armas para o impedir fazerem tábua rasa das instituições do regime para se arvorarem, sem  mandato popular, em fiscais da sua pureza.

.

1 comentário:

antónio m p disse...

Sem ofensa e com estima, creio que exagera na crítica.

Os militares em causa denunciaram com o seu gesto, muito daquilo que você e eu denunciamos nos nossos blogues e é justo e legítimo que o façam. O resto é alarido do jornalismo-comentarismo que temos. De resto, eles também não tinham "mandato para" fazer o golpe revolucionário...

Quanto áqueles que entre eles foram cúmplices do 25 de Novembro, e com eles o Soares e o Alegre (!), esses sim, deviam ser denunciados. E não são.