quarta-feira, julho 06, 2011

Ao cuidado dos portugueses de partida para férias




Detesto o falatório avulso sobre as agências de rating. Sempre que nos descem o rating lá vem todo o bicho careto pronunciar-se sobre a maldade delas e a injustiça da decisão.

Trata-se de um discurso absurdo que, dada a sua inutilidade, deve contribuir para novas descidas do rating.

A ganância das agências de rating é um dado que não merece discussão. Elas servem os interesses dos negócios e comportam-se exactamente como seria de esperar. Quando a propósito delas se invocam aspectos morais e se apela à sensibilidade isso para elas significa apenas que não fazemos ideia do que são negócios e que, portanto, há um grande risco de não cumprirmos os nossos compromissos.

A primeira coisa a fazer, sem retóricas, é tentar perceber porque é que nos tornámos vulneráveis às suas classificações e também como é que podemos sair dessa situação.
Sem fazer estardalhaço, devemos depois disciplinadamente aplicar-nos, custe o que custar, a trabalhar para nos libertarmos do jugo.
Esqueçam pruridos, esqueçam nuances e esqueçam os clubismos se realmente querem ser livres.
É difícil? Claro. Mas não é impossível.
Muito mais difícil foi transformar a China miserável dos anos 70 na China do século XXI.
A China está-se nas tintas para as agências de rating, excepto quando elas ameaçam despromover o seu principal devedor- os Estados Unidos.

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9 comentários:

J Eduardo Brissos disse...

Se bem percebo o que dizes a China no fim de contas está como nós, preocupa-se quando as agências de rating afectam os seus interesses (no caso o nível do rating dos USA onde a China tem as suas poupanças, a maior parte em DÍVIDA).

F. Penim Redondo disse...

A China está do lado dos que usam as agências de rating para avaliar os riscos que correm, é digamos cliente. A China não ganha nem perde com as avaliações (a não ser que queira vender os títulos de dívida), mas usa-as como sintomas para avaliar o risco de os seus empréstimos não serem pagos.
O nosso caso é o oposto, estamos do lado daqueles que são vigiados. Somos efectivamente prejudicados.

o castendo disse...

Boa tarde,
«Sem fazer estardalhaço, devemos depois disciplinadamente aplicar-nos, custe o que custar, a trabalhar para nos libertarmos do jugo.
Esqueçam pruridos, esqueçam nuances e esqueçam os clubismos se realmente querem ser livres.»
Pois.
Lamento mas discordo.
Para sermos livres temos de acabar com a exploração do homem pelo homem. Digo eu.
E, pelos vistos, também discordamos das origens e dos desenvolvimentos posteriores desta fase (começada em Agosto de 2007)da crise do sistema capitalista.
E, parece-me, também discordamos que a ÚNICA solução é a ruptura revolucionária com este estado de coisas.
Fraternais saudações

F. Penim Redondo disse...

Amigo Castendo, já que falámos da China (e também podíamos falar de Cuba), parece que há uns milhões de comunistas que são um bocado mais pragmáticos quando se trata de tirar os seus países do buraco.

o castendo disse...

Pois.
Mas em ambos os casos, concorde-se ou discorde-se das soluções implementadas, há uma diferença fundamental e abissal:
Quem detém o fundamental do PODER político e económico (e/ou as suas alavancas) são os comunistas. Logo quem reparte a riqueza?
Mas vamos à prática: num regime capitalista à União Europeia mais de 600 milhões de chineses teriam sido tirados do atraso e da miséria em 20 anos?
Desculpar-me-às mas para mim o critério fundamental de avaliação das políticas ainda é o de quem detém o poder económico e/ou político e a quem servem essas políticas...

J Eduardo Brissos disse...

"A China não ganha nem perde com as avaliações (a não ser que queira vender os títulos de dívida)"
Portugal também não ganha nem perde com as avaliações (a não ser que queira vender títulos de dívida) :).

E é bom que a China vá rezando para que tudo corra bem pelos USA, senão fica como aqueles fornecedores que perdem a dívida e o cliente.

E como muito bem chama a atenção o Castendo, de facto este capitalismo aqui da Europa está mesmo uma merda. Não é que não se esforcem a tentar "convencer-nos" da superioridade do modelo chinês mas a malta está renitente.

F. Penim Redondo disse...

Brissos, a diferença é que a China pode decidir não vender mas nós não podemos decidir não pedir emprestado.
Antonio, eu também acho que tudo seria mais fácil para Portugal se tivesse um partido com a autoridade do PC chinês, mas não é esse o caso.
Não me parece que seja aceitável, política e moralmente, só colaborar na salvação do país quando a maioria do povo finalmente votar no PCP.
Antes disso teremos uma ditadura reaccionária.

J Eduardo Brissos disse...

Penim,
"a diferença é que a China pode decidir não vender"

Se a coisa der para o torto, podem de facto decidir não vender. Talvez não possam é decidir vender.

Aliás parece-me que, na pratica, o tempo de decidir vender (a não ser em quantidades homeopáticas) já foi chão que deu uvas (é só tentar imaginar o que acontecia se a China amanhã começasse a despejar Dívida dos USA no Mercado).

Whatever, mais importante é tentares resolver com o António isso de quem deve "colaborar na salvação do país". Pela minha parte estou um bocado renitente em alinhar neste PSC, processo de "salvação" em curso. Mas sou um gajo sempre aberto a um bom argumento...

o castendo disse...

Desculpa lá o mau jeito, mas palavra que não me passou pela cabeça que tu acreditasses que estas medidas ditas de austeridade «salvassem» o país...
O PEC 1 foi só há pouco mais de 1 ano e as taxas de juro estavam entre os 3 e os 4%. Hoje , 4 PECs e 2 Orçamentos do Estado passados estamos nos 19%...
Já agora eu aprendi há muitos, muitos anos, que não há bons orçamentos, nem maus orçamentos. Há orçamentos bons para uns e maus para outros.
O país dos grandes grupos económicos e financeiros e alguns outros está efectivamente a salvar-se. Quanto ao resto, alguns milhões, não me parece que seja, ou vá ser, o caso.