Em Outubro do ano passado escrevi um post intitulado "Arma de arremesso de Bush ? " em que me interrogava sobre a condecoração dada pelo presidente americano ao Dalai Lama.
Toda esta trapalhada dos incidentes no Tibete vem confirmar os meus piores receios.
O candidato republicano, um homem musculado, só pode ser beneficiado se aumentarem as tensões em volta do principal concorrente económico da América.
A proximidade dos jogos olímpicos, cuidadosamente escolhida, proporciona também uma excelente oportunidade para impedir a China de brilhar.
Sendo o Tibete uma parte incontestada da RPC, que a comunidade internacional aceita sem reservas, como se esperava que as autoridades reagissem às destruições e agressões (pouco budistas) desencadeadas sem qualquer razão que as justifique neste momento ?
Será que se pretende inverter uma evolução do PC chinês, que todos reconhecem, no sentido de paulatinamente aliviar os entraves à liberdade civil dos chineses ?
Alguns chineses com quem tenho falado não menosprezam de forma alguma as transformações ocorridas nos últimos anos mas entre nós até há quem o faça.
No Público de hoje Jorge Almeida Fernandes escreve um texto sintomaticamente intitulado "A obsessão chinesa do caos". Presumo que o citado autor já deve ter governado vários estados com mais de mil milhões de habitantes e que, da sua larga experiência, já concluiu que a China não tem razões para tais receios. Este tipo de irresponsáveis, a que se juntam os nossos "budistas" de trazer por casa, está sempre pronto para mais uma campanha a favor dos perseguidos, especialmente se se encontram a milhares de quilómetros e estão na moda.
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Rice e Sarkozy pedem a Pequim que dialogue com o Dalai Lama
24.03.2008 - 19h33 Agências
Washington e Paris pediram às autoridades chinesas que sejam contidas na reacção aos protestos no Tibete e defenderam um diálogo franco entre Pequim e o Dalai Lama, líder espiritual e chefe do governo tibetano no exílio.
“Acreditamos que a solução para o Tibete terá de passar por uma política mais sustentável por parte do Governo chinês”, declarou a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, reagindo às promessas feitas por Pequim de esmagar a revolta.
Considerando “inaceitáveis” os motins registados na primeira semana de protestos em Lhasa, Rice voltou a pedir “contenção” aos militares chineses e sublinhou que só uma solução política “poderá resolver os problemas do Tibete e responder às reivindicações do tibetanos”.
“Acreditamos que o Dalai Lama pode desempenhar um papel favorável neste processo”, afirmou a chefe da diplomacia americana, lembrando “a crença do líder tibetano na não-violência”, a sua “autoridade mortal inatacável” e o facto de ele já ter declarado “que não pretende a independência política para o Tibete”.
Rice garantiu que os EUA “vão continuar a encorajar o diálogo porque, em última análise, esta é a única política sustentável para o Tibete”.
Pequim classifica o Dalai Lama como o líder dos separatistas tibetanos, apesar de ele ter afirmado publicamente que abdicou de reivindicar soberania política para o território, administrado há meio século pela China. Nas últimas semanas, as autoridades chinesas acusaram-no de ter orquestrado os motins, com a intenção de levar várias nações a boicotar os Jogos Olímpicos de 2008.
Sarkozy pede diálogo
Posição semelhante foi adoptada pelo Presidente francês, Nicolas Sarkozy, que depois de duas semanas de silêncio escreveu ao seu homólogo chinês pedindo-lhe contenção na resposta militar aos protestos e uma aposta no diálogo para a pacificação do território.
Sarkozy “enviou uma mensagem ao Presidente Hu Jintao transmitindo-lhe a sua profunda emoção após os recentes acontecimentos trágicos”, adianta um comunicado da presidência.
Na missiva, o Presidente francês diz esperar que “o diálogo promovido nos últimos anos pelas autoridades chinesas e os representantes do Dalai Lama seja rapidamente retomado”, a fim de permitir que “todos os tibetanos sintam que podem viver plenamente a sua identidade cultural e espiritual no seio da República Popular da China”.
A reacção francesa à repressão movida pela China aos manifestantes tibetanos tem sido muito discreta por comparação à posição assumida pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que na semana passada acusou Pequim de estar na origem dos motins e se disponibilizou para um encontro com o Dalai Lama.
Segundo Pequim, duas dezenas de pessoas perderam a vida nos motins registados no dia 14 em Lhasa, capital do território, mas a oposição no exílio diz ter dados de que pelo menos 130 pessoas foram mortas pelos militares nas duas semanas de protestos, que se estenderam também a regiões vizinhas do Tibete.
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