quarta-feira, junho 13, 2007

França e Itália, análise retrospectiva




A 10 de Abril de 2006 a Renovação Comunista publicou um comunicado, cheio de optimismo, sobre as manifestações em França e as eleições em Itália:


Renovação Comunista

Comunicado

A Europa está hoje a viver um dia particularmente significativo no plano político. Em França, o governo de Chirac-Villepin foi obrigado a retroceder na lei sobre o Contrato do Primeiro Emprego (CPE), mercê da luta popular e das manifestações que têm trazido muitos milhões de franceses para a rua desde há várias semanas. Esta lei, particularmente gravosa para os jovens detentores do primeiro emprego, autorizava o despedimento ao fim de dois anos sem qualquer tipo de justificação. Uma forte mobilização dos jovens a que se juntaram os sindicatos e os partidos de esquerda obrigaram ao recuo da direita, abrindo espaço para a sua derrota nas eleições do próximo ano.

Em Itália, de acordo com as projecções realizadas à boca das urnas, a União do centro-esquerda, liderada por Romano Prodi e de que fazem parte os Democratas de Esquerda e a Refundação Comunista, derrotou os partidos da direita liderados pelo actual primeiro-ministro Sílvio Berlusconi. Apesar da heterogeneidade político-ideológica da União, este resultado foi possível devido aos esforços de convergência desenvolvidos pelas forças democráticas que a constituem, que se apresentaram às eleições com um programa de recuperação económica e de melhoria dos benefícios sociais para os mais carenciados.

A Renovação Comunista saúda a luta dos democratas de todos os quadrantes ideológicos que em França e Itália conseguiram, com êxito, travar uma encarniçada escalada neoliberal das forças de direita, criando condições para o desenvolvimento de políticas alternativas que ponham cobro ao desmantelamento do Estado social.


Lisboa, 10 de Abril de 2006

A Comissão Permanente da Renovação Comunista



No dia seguinte publiquei uma reacção ao referido comunicado com o seguinte teor:



Pelo contrário quer o caso da França quer o da Itália revelam, de forma dolorosa, as debilidades da "esquerda".

Na França desencadearam uma luta extremamente aguerrida por um objectivo ridículo. O problema não é o CPE mas sim o facto de o "sistema" capitalista já não estar em condições de assegurar o sustento das novas gerações que insistem em ser assalariadas.

De caminho abriram caminho para o Sarkozy e fizeram mais uma demonstração da pusilanimidade e impotência de um Estado de quem, no entanto, tudo esperam.

Trata-se de uma vitória de Pirro de uma esquerda incapaz de "inventar" um futuro diferente para a sua juventude.
O que vai acontecer é que o patronato continuará alegremente a deslocalizar para a China e para a Índia...

Em Itália, onde não se chega a perceber se a política é para rir ou para chorar, a "esquerda" arregimentou uma molhada cuja única lógica parece ser o facto de todos odiarem Berlusconi, o que é pouco para um projecto.

Apesar disso não conseguiram ter uma vitória convincente contra um adversário que é uma anedota (ao menos em Portugal o Sócrates afinfou uma maioria absoluta à conta do Santana...)

Como é que alguém se pode congratular com tais exemplos ?


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Na altura fui, como é costume, mal compreendido.
Como se as minhas críticas fossem a causa dos problemas.

Passado pouco mais de um ano já é possível ver quem é que estava a ser realista na sua apreciação e quem é que estava a tomar os desejos por realidades.
A situação da esquerda em França e na Itália é desastrosa mas, como é habitual, ninguém parece interrogar-se sobre os erros que foram cometidos.
Quando é que nós começamos a aprender com os erros em vez de os varrermos para debaixo do tapete ?
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