terça-feira, junho 19, 2007

Devolver a palavra ao povo



A confusão autárquica em Lisboa e a convocação de eleições, com Carmona e parte da vereação arguidos num processo, foi apenas o culminar de um longo estertor de acções e omissões em que quase todos os partidos estão comprometidos.

Quando as principais forças políticas tomaram finalmente a decisão de derrubar o executivo insistiram num mote de belo efeito: “devolver a palavra ao povo”. Não como uma inevitabilidade para a qual tinham contribuído mas sim como uma receita infalível para a resolução do imbróglio.

Cabe então perguntar se as eleições que se aproximam nos permitem, ao menos, ter a esperança de que os problemas de Lisboa se resolvam ?
Infelizmente, à luz das primeiras sondagens, a resposta a esta pergunta parece ser NÃO. Vejamos porquê:

- Tínhamos uma câmara apoiada por uma maioria na Assembleia Municipal. Agora parece que vamos ter guerra entre as duas instituições.

- Tínhamos uma maioria possível, na Câmara, pela simples aliança de dois partidos da mesma área política. Agora não se vislumbra o contorno de uma nova maioria.

- Tínhamos cinco partidos que se digladiavam na Câmara. Agora teremos quatro ou cinco partidos e mais dois independentes que o são em conflito com os partidos. Não parece mais fácil de conciliar.

- Tínhamos um Presidente independente embora eleito nas listas de um partido. Agora teremos um Presidente que é um alto dirigente partidário, ex-ministro, autor de leis autárquicas controversas e favorável à Ota.
Parece assim provável a invasão da Câmara pelas guerras contra o Governo do PS e portanto as convergências na Câmara, dadas as divergências a nível nacional, serão ainda mais difíceis.

São dados como certos no executivo camarário António Costa, Negrão, Carmona, Roseta, Ruben e Sá Fernandes. Eis então o que falta decidir :

- O Ruben levará com ele algum camarada ?
- O “Zé” terá a companhia de algum bloquista ?
- O Telmo entra ou não entra ?
- O Negrão fica à frente do Carmona ?
- A Roseta fica à frente do “Zé” ?
- O Carmona e a Roseta elegem quantos acólitos ?
- O Costa terá maioria se se aliar ao Negrão ?

Se esta última hipótese acontecer voltam a mandar em Lisboa os dois partidos que votaram tudo o que foi decidido nos últimos anos.

“Devolve-se a palavra ao povo” para isto ?
.

Sem comentários: