segunda-feira, janeiro 22, 2007

Para memória futura

Passado um ano sobre a eleição de Cavaco Silva, que não apoiei e em quem não votei, não resisto a fazer uma breve súmula de intervenções dos quatro "candidatos da esquerda".

Para quê ?

Talvez eu ainda não me tenha conformado com a falta de seriedade nascida da falta de ideias, talvez eu ainda acredite que a esquerda devia mesmo exibir uma forma qualquer de "superioridade moral", talvez eu ainda não tenha desistido de ter esperança numa nova vaga mesmo nova ...






Mário Soares apresentou ontem o seu programa eleitoral, começando por se demarcar, contra os que, por "messianismo revanchista" da direita, "reclamam abertamente a subversão do regime constitucional". Soares defendeu que o regime semipresidencial "não está esgotado", ainda que possa ser "aperfeiçoado e aprofundado". Foi neste quadro de estabilidade de regime que Soares afirmou o que quer quanto à outra estabilidade, a política. Para, aqui, marcar uma diferença em relação àquele que pareceu eleger, ao longo da intervenção, como principal adversário: Cavaco Silva. Porque, disse Soares, quer "estabilidade política e concertação social" e uma "modernização feita sem convulsões". Ou seja, "estabilidade, mas não a qualquer preço".

Mário Soares, DN 26/10/2005

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Confrontado com declarações suas em que chamava a atenção para os riscos que uma vitória de Cavaco traria para o regime político, Alegre desdramatizou esses riscos - "Acho que ele [Cavaco] se vai portar bem" - e insurgiu-se contra o que chamou de "diabolização" do adversário social-democrata, que considerou "uma pessoa séria e íntregra, mas crispado, que tende a crispar a vida política" e que "tem uma tendência para se cingir apenas aos problemas económicos". No entanto, Alegre acabaria por reconhecer que "se ele [Cavaco] for eleito, e com certo tipo de apoiantes que tem (...), pode haver alguma tentação presidencialista".

Manuel Alegre, DN 08/11/2005

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O candidato presidencial apoiado pelo PS lembrou que já esteve no estrangeiro em contacto com comunidades portuguesas, e constatou que agora também Cavaco vai estar fora do País, "o que lhe permite continuar numa posição de não fazer pré-campanha. É uma posição que lhe agrada certamente, mas vai-se tornando uma espécie de candidato-esfinge".

Mário Soares, DN 11/11/2005

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"A democracia pode ser empobrecida e mutilada, caso se verifique uma vitória de Cavaco com estes apoios." Os apoios a que o líder comunista e candidato presidencial do PCP se referia são os "grandes grupos económicos", nomeadamente banqueiros, que apoiam o antigo governante.

"Torna-se cada vez mais claro o seu projecto de uso da Presidência da República para uma intervenção executiva ao arrepio dos limites constitucionais", disse. O líder explicou mesmo que esta candidatura foi "encenada e preparada (...) pelos sectores mais à direita da sociedade." E irónico "Creio que a decisão de se candidatar não foi tomada, na sua casa, com a família. "

Jerónimo de Sousa, DN 12/11/2005

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"Dou a voz a Cavaco Silva, que ele agora não quer falar 'Como é que nos vemos livres deles? Reformá-los não resolve o problema, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e, portanto, diminuiu também a receita do IRS. Só resta esperar que acabem por morrer.' Cavaco Silva, 2 de Março de 2002." A citação do antigo governante, numa conferência na Faculdade de Economia do Porto, foi feita com ênfase por Louçã. Que, no seu discurso, haveria de repetir até à exaustão o "deixá-los morrer" como a solução preconizada pelo "candidato da direita" para o problema da função pública. A plateia, onde se sentavam cerca de uma centena de apoiantes, reagiu ao nome do ex- -primeiro-ministro com apupos e assobios.

Francisco Louçã, DN 13/11/2005

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"Não dormirei descansado com uma vitória de Cavaco Silva", disse ontem, no Funchal, Jerónimo de Sousa horas antes de se reunir num jantar com apoiantes da sua candidatura.
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O que preocupa o PCP "são as dinâmicas e os apoios do grande capital financeiro, especulativo e imobiliário, reunidos em torno de Cavaco Silva e que comportam objectivos que colidem com o actual projecto constitucional", designadamente, "sectores ultra neo-liberais" que poderão "condicionar e conduzir Cavaco Silva para uma intervenção que não corresponde àquilo que a nossa Constituição refere".

Jerónimo de Sousa, DN 19/11/2005

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Jerónimo de Sousa foi ontem ao Alentejo tentar convencer a população de Mora de que Cavaco Silva "não pode" chegar a Presidente da República, sob pena da sua eleição "desvalorizar, empobrecer e mutilar" a Constituição portuguesa, como alegadamente pretende "o grande capital" que apoia o candidato da direita a Belém.

Jerónimo de Sousa, DN 20/11/2005

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Jerónimo de Sousa acusou a direita de querer apropriar-se da Presidência da República através da candidatura de Cavaco Silva. Num almoço, ontem, com centenas de apoiantes no Bairro Alentejano, concelho de Palmela, o candidato do PCP afirmou que "a direita política e dos interesses económicos joga na vitória da candidatura de Cavaco Silva a possibilidade de, finalmente, fazer um ajuste de contas com o que resta de Abril, com o que resta de transformação e realização de Abril".
Jerónimo de Sousa, DN 21/11/2005

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Curiosamente, viria a congratular-se com a reacção do candidato apoiado pela CDU, sublinhando que Jerónimo de Sousa tem "toda a razão", quando diz que "ele e os trabalhadores não dormirão descansados, porque se lembravam do que aconteceu no passado. Eu também não dormirei e quero dizer aqui que estou de acordo com ele", sublinhou, ouvindo um dos aplausos mais efusivos da tarde, superado apenas pelo momento em que se mostrou convicto da vitória nas eleições.Soares começou por desvalorizar as sondagens, revelando não se preocupar "com as boas, nem com as menos boas". Disse que continua no seu caminho, alegando que quem vai elegê-lo "é o povo português e não as sondagens, nem a comunicação social". Mais à frente, Soares fez uma confidência - assim a adjectivou - aos jovens presentes, "para ficar entre nós e para dizerem aos vossos amigos. É que sem dúvida, eu não tenho dúvida nenhuma que vou ganhar esta eleição e que vou voltar a ser Presidente da República de Portugal."

Mário Soraes, DN 24/11/2005

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Soares considera que Cavaco Silva é um "homem com talento e grande conhecimento das coisas económicas", mas falta-lhe "sensibilidade social para defender os direitos, garantias e liberdades dos portugueses num momento em que isso possa estar em causa". Lembrou a propósito que, quando Presidente da República, ouviu de Cavaco queixas contra uma greve geral que então qualificava como "força de bloqueio", para frisar que, já nessa altura, teve que alertar o ex-chefe do Governo para o facto de a greve ser um direito constitucional.

Mário Soraes, DN 26/11/2005

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O candidato a Presidente da República Manuel Alegre desafiou ontem Cavaco Silva a explicar o que entende por "cooperação estratégica", acusando-o de, quando foi primeiro-ministro, ter "investido na teoria das forças do bloqueio". "Quando foi primeiro-ministro investiu na teoria das forças de bloqueio e hoje defende uma coisa estranha, a 'cooperação estratégica'", afirmou em Coimbra. Ao discursar durante um almoço com apoiantes, Manuel Alegre sublinhou que deve haver "uma cooperação institucional" entre os órgãos de soberania e que o Presidente da República "é o comandante supremo das Forças Armadas e não o comandante supremo do regime".

Manuel Alegre, DN 27/11/2005

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O candidato presidencial Jerónimo de Sousa exortou ontem os seus apoiantes a concentrarem-se na primeira volta e comparou o seu concorrente Cavaco Silva ao "macaco sábio, que não vê, não ouve e não fala" mas tira partido do silêncio.

Jerónimo de Sousa, DN 28/11/2005

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