Regressei há poucos dias de uma viagem ao Japão. Globalmente não tive grandes surpresas, mas algumas realidades ultrapassaram o que esperava.
Claro que previa tecnologia por toda a parte, os complicados viadutos de Tóquio, as multidões despejadas para o Metro quando os escritórios se encerram, o combóio “Bala”, os museus de Hiroshima, os templos e os jardins. Mas não imaginava que ia encontrar uma sociedade tão organizada e tão cívica, ao pé da qual alemães e escandinavos parecem latinos desordeiros.
Apesar das permanentes multidões, não há papéis nem beatas no chão (e há muitos japoneses fumadores), as casas de banho dos locais públicos estão tão limpas como nos hotéis de cinco estrelas, não é pensável que um combóio se atrase um minuto e que cada carruagem não pare exactamente onde o seu número é indicado no cais (e onde os futuros passageiros esperam, ordeiramente e em fila).
Todas as ruas dos centros das cidades e os locais públicos têm uma espécie de calhas no meio das áreas destinadas a peões, onde os cegos se deslocam. Quando a calha termina ou há um cruzamento, o relevo é diferente para que o utilizador, ao detectá-lo, se possa orientar. São milhares de quilómetros de listas amarelas que nos ficam na memória.
Quanto a recolha e reciclagem de lixo, cheguei a contar doze tipos diferentes de contentores lado a lado.
Por decoro, não descrevo todas as funcionalidades de que dispõe uma simples sanita.
Noutro registo e com todas as limitações de uma visão de simples turista, impressiona, evidentemente, o elevado nível de vida e o que se vai ouvindo e lendo. É verdade que os japoneses dizem estar apenas a sair de um longo período de recessão, que acabaram os empregos para a vida inteira e chegaram o trabalho precário e os contratos a prazo.
Importam 60% do que comem porque é mais barato do que produzir. Criam poucas vacas, mas as que por lá crescem são massageadas e bebem cerveja para a carne ficar mais tenra – o que se sente, no prato e na carteira, quando se tem a sorte de encontrar um bife.
Com a idiossincrasia do medo da invasão dos produtos chineses, era inevitável procurar saber o que se passa num país com preços tão astronomicamente altos e geograficamente tão próximo da China. Sim, há lojas chinesas com produtos mais baratos, mas isso não parece ter importância. O que é essencial é que a China continue a crescer e consistentemente – é que o Japão exporta tanto para aquele país e investe tanto em empresas chinesas que seria um desastre se se desse qualquer tipo de “crash”.
Outra coisa que impressiona é que o Japão parece um país fechado sobre si próprio. Se estamos habituados, há muitos anos, aos turistas japoneses no ocidente, o que é verdade é que há 123 milhões a alimentarem sobretudo um turismo interno muito forte. E vêem-se tão poucos ocidentais que não é raro cumprimentarem-se quando se cruzam na rua. Na Expo Universal de Aichi, onde passei um dia, não vi um único não oriental fora dos respectivos pavilhões. (A propósito da Expo, não vale mesmo a pena a deslocação. Parece que alguns pavilhões temáticos são bons, mas as filas de espera são de várias horas. Quanto aos outros, formam um conjunto que nem sequer é bonito e já nem constituem grande novidade. Mas há uns melhores que outros e deve ser difícil encontrar algum pior que o de Portugal. O mínimo que se pode dizer é que é soturno - não encontro palavra adequada mais meiga para o caracterizar.)
É difícil o turista encontrar fora dos hotéis quem fale razoavelmente inglês, o que não é de estranhar porque há poucos estrangeiros. Levantar dinheiro em ATM’s que aceitem cartões internacionais também é uma odisseia porque são raros. Comprar bilhetes para o Metro em máquinas com instruções em japonês é uma experiência a não perder – o que vale é que há sempre um simpático nipónico por perto que, com gestos e vénias, lá vai explicando o que é preciso fazer.
Dito isto, gostei do Japão? Gostei muito de lá ter ido.
O campo é muito bonito, mas achei as cidades feiosas (Xangai dá cartas a Tóquio e de que maneira!), as pessoas feíssimas (porque será que tantas têm as pernas tão tortas, como se tivessem vivido sempre a cavalo?), a comida intragável.
Gostei dos japoneses? Não deu para os entender. São extremamente delicados mas adivinha-se que podem tornar-se facilmente violentos, pragmáticos mas altamente supersticiosos, aparentemente ocidentalizados mas com raízes profundamente diferentes.
Nos últimos anos, faz-me sempre impressão olhar para a Europa vista de fora.
Foi a partir de Tóquio que segui a cimeira do Conselho Europeu em Bruxelas.
Assim não vamos para parte nenhuma. E há outros que vão indo – aparentemente, para onde querem.
Claro que previa tecnologia por toda a parte, os complicados viadutos de Tóquio, as multidões despejadas para o Metro quando os escritórios se encerram, o combóio “Bala”, os museus de Hiroshima, os templos e os jardins. Mas não imaginava que ia encontrar uma sociedade tão organizada e tão cívica, ao pé da qual alemães e escandinavos parecem latinos desordeiros.
Apesar das permanentes multidões, não há papéis nem beatas no chão (e há muitos japoneses fumadores), as casas de banho dos locais públicos estão tão limpas como nos hotéis de cinco estrelas, não é pensável que um combóio se atrase um minuto e que cada carruagem não pare exactamente onde o seu número é indicado no cais (e onde os futuros passageiros esperam, ordeiramente e em fila).
Todas as ruas dos centros das cidades e os locais públicos têm uma espécie de calhas no meio das áreas destinadas a peões, onde os cegos se deslocam. Quando a calha termina ou há um cruzamento, o relevo é diferente para que o utilizador, ao detectá-lo, se possa orientar. São milhares de quilómetros de listas amarelas que nos ficam na memória.
Quanto a recolha e reciclagem de lixo, cheguei a contar doze tipos diferentes de contentores lado a lado.
Por decoro, não descrevo todas as funcionalidades de que dispõe uma simples sanita.
Noutro registo e com todas as limitações de uma visão de simples turista, impressiona, evidentemente, o elevado nível de vida e o que se vai ouvindo e lendo. É verdade que os japoneses dizem estar apenas a sair de um longo período de recessão, que acabaram os empregos para a vida inteira e chegaram o trabalho precário e os contratos a prazo.
Importam 60% do que comem porque é mais barato do que produzir. Criam poucas vacas, mas as que por lá crescem são massageadas e bebem cerveja para a carne ficar mais tenra – o que se sente, no prato e na carteira, quando se tem a sorte de encontrar um bife.
Com a idiossincrasia do medo da invasão dos produtos chineses, era inevitável procurar saber o que se passa num país com preços tão astronomicamente altos e geograficamente tão próximo da China. Sim, há lojas chinesas com produtos mais baratos, mas isso não parece ter importância. O que é essencial é que a China continue a crescer e consistentemente – é que o Japão exporta tanto para aquele país e investe tanto em empresas chinesas que seria um desastre se se desse qualquer tipo de “crash”.
Outra coisa que impressiona é que o Japão parece um país fechado sobre si próprio. Se estamos habituados, há muitos anos, aos turistas japoneses no ocidente, o que é verdade é que há 123 milhões a alimentarem sobretudo um turismo interno muito forte. E vêem-se tão poucos ocidentais que não é raro cumprimentarem-se quando se cruzam na rua. Na Expo Universal de Aichi, onde passei um dia, não vi um único não oriental fora dos respectivos pavilhões. (A propósito da Expo, não vale mesmo a pena a deslocação. Parece que alguns pavilhões temáticos são bons, mas as filas de espera são de várias horas. Quanto aos outros, formam um conjunto que nem sequer é bonito e já nem constituem grande novidade. Mas há uns melhores que outros e deve ser difícil encontrar algum pior que o de Portugal. O mínimo que se pode dizer é que é soturno - não encontro palavra adequada mais meiga para o caracterizar.)
É difícil o turista encontrar fora dos hotéis quem fale razoavelmente inglês, o que não é de estranhar porque há poucos estrangeiros. Levantar dinheiro em ATM’s que aceitem cartões internacionais também é uma odisseia porque são raros. Comprar bilhetes para o Metro em máquinas com instruções em japonês é uma experiência a não perder – o que vale é que há sempre um simpático nipónico por perto que, com gestos e vénias, lá vai explicando o que é preciso fazer.
Dito isto, gostei do Japão? Gostei muito de lá ter ido.
O campo é muito bonito, mas achei as cidades feiosas (Xangai dá cartas a Tóquio e de que maneira!), as pessoas feíssimas (porque será que tantas têm as pernas tão tortas, como se tivessem vivido sempre a cavalo?), a comida intragável.
Gostei dos japoneses? Não deu para os entender. São extremamente delicados mas adivinha-se que podem tornar-se facilmente violentos, pragmáticos mas altamente supersticiosos, aparentemente ocidentalizados mas com raízes profundamente diferentes.
Nos últimos anos, faz-me sempre impressão olhar para a Europa vista de fora.
Foi a partir de Tóquio que segui a cimeira do Conselho Europeu em Bruxelas.
Assim não vamos para parte nenhuma. E há outros que vão indo – aparentemente, para onde querem.
4 comentários:
Joana,
um post bem escrito e um japao bem apanhado para um "passer-by", mas a parte de
"as pessoas feíssimas (porque será que tantas têm as pernas tão tortas, como se tivessem vivido sempre a cavalo?), a comida intragável..." e' completamente evitado nos termos que utilizou!!!!!!!!
Em relação ao comentário anterior: "feíssimas" e "intragável" são, necessariamente, apreciações objectivas, mas, no meu entender, não são propriamente ofensivas! Os japoneses acham - e dizem - que os ocidentais são parecidos com porcos. E, de facto, para eles, somos bastante cor de rosa...
continuo a achar ofensivo tanto o seu texto como a sua infeliz justificacao. Uma pessoa japonesa ao ler o seu texto e a sua justificacao achara' a decerto ofensiva.
Como e' que pode afirmar tal coisa em nome duma nacionalidade?
enfim, de mal a pior...
profundamente lamentavel
:(
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