REVER MELANCHOLIA Não foi por acaso que me lembrei de Melancholia, um filme de Lars Von Trier que é, antes de mais, uma enorme provocação. Põe-nos perante a catástrofe eminente num tempo, como é o nosso, repleto de ameaças de catástrofe global. Podemos interrogar-nos se já estamos a viver um filme idêntico sem nos dar conta. Todos os dias, nos jornais, espreita a possibilidade da guerra atómica, pelo carregar do botão de um Putin qualquer. Há também a ameaça omnipresente da hecatombe climática, que nos é escancarada em intervenções cada vez mais radicais dos militantes anti-sistema. Num outro plano sentimo-nos à mercê de uma nova pandemia descontrolada que, a qualquer momento, pode ser desencadeada pela nova promiscuidade das espécies que o aquecimento global propicia. E como se tudo isto não bastasse ainda temos todos a nossa catástrofe pessoal do envelhecimento e do fim da vida. Ou seja, o problema de enfrentar uma catástrofe definitiva nunca está suficientemente longe e a necessidade de o encarar é uma questão permanente, mesmo quando tentamos pô-la para trás das costas. A catástrofe mostrada neste filme não é uma catástrofe qualquer, é a irremediável e radical aniquilação da humanidade, de todas as formas de vida e da própria Terra, provocada pelo choque iminente com outro planeta significativamente chamado Melancholia. Na medicina arcaica o termo "melancholia" era usado para designar aquilo que hoje chamamos estados depressivos. O motivo imediato do filme é o casamento de Justine, uma jovem bastante "melancólica", que decorre num palacete opulento erguido numa extensa propriedade rural. De crise em crise, de episódio em episódio, a depressão de Justine leva ao abortar da festa e do próprio casamento. Os convidados, e o próprio noivo, acabam por debandar, deixando Justine na companhia da irmã, do cunhado e de um sobrinho ainda criança. Quando a inevitabilidade da colisão dos planetas se confirma, e após o suicídio do cunhado de Justine, às duas irmãs e à criança nada mais resta do que soltar os cavalos e aguardar a chegada do planeta Melancholia que se agiganta no horizonte. A grande originalidade do filme, e a força do seu impacto, estão no tratamento intimista que adopta contra todos os clichés das superproduções holywoodescas. A riqueza, o marketing (Justine é figura de proa numa agência de publicidade) e a ciência (incapaz de prever a trajectória dos planetas), os grandes ídolos pagãos do nosso tempo, são reduzidos a uma escala ridícula. A dimensão da hecatombe e a inevitabilidade do seu desfecho transformam tanto o medo como a tristeza em coisas totalmente deslocadas e quase absurdas. As imagens iniciais do filme, uma espécie de prólogo que permite diferentes interpretações, são como que uma premonição da destruição final, mostrada com uma beleza extrema e pungente. Cavalos afundam-se no solo e pássaros caem do céu, em câmara lenta e ao som da música de Tristão e Isolda. A experiência de ver este filme é sem dúvida inesquecível e, no limite, uma catarse de todos os medos e inseguranças. Num plano quase religioso do tipo panteísta. Pela sua ambição e intemporalidade constitui uma obra prima. E o planeta Melancholia pode afinal ser apenas uma criação horrenda e metafórica da depressão profunda que esmaga Justine.
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