Parti para este filme de Hany Abu-Assad , como a maior parte dos espectadores, numa atitude de voyeur.
Aquilo que mais me intriga no fenómeno dos bombistas suicidas não é o facto de tantos estarem dispostos a perder a vida mas sim a pobre “administração” do seu sacrifício.
Quando alguém está disposto a morrer dispõe de um poder enorme o que, em minha opinião, não se reflecte nos resultados dos atentados que muitas vezes se limitam a matar meia dúzia de pessoas sem qualquer valor “estratégico”.
Nesse aspecto o filme ajudou-me muito pois fornece um quadro em que nos é proposta uma reflexão sem maniqueísmos.
O ritual suicida, tal como é mostrado, constitui um acto de “libertação” individual ancorado na religiosidade em vez de constituir uma assumida forma de luta com objectivos claros e perpectivas de futuro. Os atentados são fundamentalmente uma saída para o insuportvel individual e não o sacrifício de alguns para uma libertação colectiva.
Constituem uma atitude emocional servida “a quente” (as horas cruciais que precedem as acções são milimetricamente controladas e encenadas) em vez de uma pensada e maquiavélica construção com vista a provocar efeitos desvastadores ao inimigo.
Em contrapartida a acção do exército israelita parece muito mais “fria” (no filme é referido um episódio em que o exército israelita invade uma casa e pergunta ao propritário qual das pernas quer que lhe partam).
Dos dois candidatos a suicidas aquele que revela firmeza até ao fim não é aquele que se quer vingar da violência dos israelitas mas sim aquele que não pode mais suportar o fardo de ter tido um pai colaboracionista.
A exploração desta faceta emocional pelos “responsáveis” políticos, que recorrem complementarmente à manipulação das crenças religiosas, acaba afinal por se revelar uma fraqueza, uma forma fácil mas limitada de manter as aparências de resistência.
Como fica patente no filme, esta estratégia inviabiliza qualquer tentativa de usar a inteligência para combater um inimigo tenaz e muito mais poderoso.
Um grande e corajoso filme.
"Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário", no Museu de
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