sexta-feira, março 22, 2024
A grande lição dos votos em Baleizão
quinta-feira, março 21, 2024
Política de ficção
quinta-feira, março 14, 2024
sábado, março 09, 2024
Vergonha
sexta-feira, março 08, 2024
E SE?
segunda-feira, fevereiro 05, 2024
Pobres Criaturas
sexta-feira, dezembro 15, 2023
REVER MELANCHOLIA
REVER MELANCHOLIA
Não foi por acaso que me lembrei de Melancholia, um filme de Lars Von Trier que é, antes de mais, uma enorme provocação.
Põe-nos perante a catástrofe eminente num tempo, como é o nosso, repleto de ameaças de catástrofe global.
Podemos interrogar-nos se já estamos a viver um filme idêntico sem nos dar conta.
Todos os dias, nos jornais, espreita a possibilidade da guerra atómica, pelo carregar do botão de um Putin qualquer.
Há também a ameaça omnipresente da hecatombe climática, que nos é escancarada em intervenções cada vez mais radicais dos militantes anti-sistema.
Num outro plano sentimo-nos à mercê de uma nova pandemia descontrolada que, a qualquer momento, pode ser desencadeada pela nova promiscuidade das espécies que o aquecimento global propicia.
E como se tudo isto não bastasse ainda temos todos a nossa catástrofe pessoal do envelhecimento e do fim da vida.
Ou seja, o problema de enfrentar uma catástrofe definitiva nunca está suficientemente longe e a necessidade de o encarar é uma questão permanente, mesmo quando tentamos pô-la para trás das costas.
A catástrofe mostrada neste filme não é uma catástrofe qualquer, é a irremediável e radical aniquilação da humanidade, de todas as formas de vida e da própria Terra, provocada pelo choque iminente com outro planeta significativamente chamado Melancholia.
Na medicina arcaica o termo "melancholia" era usado para designar aquilo que hoje chamamos estados depressivos.
O motivo imediato do filme é o casamento de Justine, uma jovem bastante "melancólica", que decorre num palacete opulento erguido numa extensa propriedade rural. De crise em crise, de episódio em episódio, a depressão de Justine leva ao abortar da festa e do próprio casamento.
Os convidados, e o próprio noivo, acabam por debandar, deixando Justine na companhia da irmã, do cunhado e de um sobrinho ainda criança.
Quando a inevitabilidade da colisão dos planetas se confirma, e após o suicídio do cunhado de Justine, às duas irmãs e à criança nada mais resta do que soltar os cavalos e aguardar a chegada do planeta Melancholia que se agiganta no horizonte.
A grande originalidade do filme, e a força do seu impacto, estão no tratamento intimista que adopta contra todos os clichés das superproduções holywoodescas.
A riqueza, o marketing (Justine é figura de proa numa agência de publicidade) e a ciência (incapaz de prever a trajectória dos planetas), os grandes ídolos pagãos do nosso tempo, são reduzidos a uma escala ridícula.
A dimensão da hecatombe e a inevitabilidade do seu desfecho transformam tanto o medo como a tristeza em coisas totalmente deslocadas e quase absurdas.
As imagens iniciais do filme, uma espécie de prólogo que permite diferentes interpretações, são como que uma premonição da destruição final, mostrada com uma beleza extrema e pungente. Cavalos afundam-se no solo e pássaros caem do céu, em câmara lenta e ao som da música de Tristão e Isolda.
A experiência de ver este filme é sem dúvida inesquecível e, no limite, uma catarse de todos os medos e inseguranças. Num plano quase religioso do tipo panteísta.
Pela sua ambição e intemporalidade constitui uma obra prima.
E o planeta Melancholia pode afinal ser apenas uma criação horrenda e metafórica da depressão profunda que esmaga Justine.
segunda-feira, outubro 02, 2023
sábado, setembro 30, 2023
CADERNO REIVINDICATIVO Dos Trabalhadores do Facebook (que somos todos nós)
Hora da publicação: 15:09 0 comentários
Etiquetas: digitalismo-pós_capitalismo, Fernando Penim Redondo
quarta-feira, julho 05, 2023
Viagem a Itália
Em Junho 2023 fiz a minha sétima viagem a Itália. A primeira foi em 1976, durante um mês, de automóvel. A segunda durou dois meses, em 1979, em trabalho. Seguiram-se outras visitas em 1991, 1992, 1998 e 2005.
Voltei agora por causa de uma neta, a quem queria mostrar por onde começar a folhear aquele enorme livro.
Desenrasco-me bem naquele país, e foi assim desde o primeiro dia, por ter visto muitos filmes italianos na minha juventude; o neorealismo, os grandes cómicos, e os "Antonionis" todos.
"Questa volta", pela primeira vez, parti de Portugal já com várias coisas reservadas (e em alguns casos pagas) pela internet. Aluguei carro, comprei bilhetes de combóio e de barco, reservei entradas em monumentos e, claro, reservei alojamentos.
Como já sou velho não tenho tanta paciência para aventuras e incertezas.
Há 47 anos andei por lá um mês sem saber onde dormiria na noite seguinte, sem cartões de crédito e sem telemóveis.
Resolvi entrar por Bolonha, ao centro, de onde podia dar um salto a Veneza, confortávelmente, de combóio. E depois partir de carro para sudoeste ao encontro de Florença, Pisa e Luca ou, mais para sul, Siena e San Gimignano. Em La Spezia fiz um pequeno cruzeiro para ver, pela primeira vez, o colorido das Cinque Terre debruçadas sobre o mar da Ligúria.
Já conhecia quase todos os lugares por onde passei excepto:
- La Spezia, cidade portuária no Mediterrâneo, sem comentários
- As "Cinque Terre", antigas aldeias de pescadores, agora transformadas em coqueluche turística; ruas estreitas apinhadas, praias escassas e com "areia de cascalho". Abaixo das expectativas criadas pelos folhetos turísticos. Salva-se a paisagem.
- Lucca. Esta excedeu as expectativas pela beleza das suas igrejas e pela encantadora praça oval que foi construída sobre os restos de um anfiteatro romano. É pena deixarem lá entrar camionetas de reabastecimento das lojas.
Mas também houve revelações nas cidades já conhecidas:
Bolonha
- O museu onde podemos, através de um dispositivo de "realidade virtual", visitar a cidade no tempo do império romano, na idade média ou no século XVIII.
- A basílica de S. Stefano, um encantador complexo de sete igrejas amalgamadas, cujo perímetro foi crescendo ao longo de muitos séculos.
Siena
- Tive finalmente a oportunidade de ver desfilar na Piazza del Campo as bandeiras das "contrade", uma espécie de confrarias dos nascidos em cada uma das 17 freguesias da cidade
San Gimignano
- Voltei a maravilhar-me com as suas torres medievais mas, desta vez, descobri os maravilhosos frescos do seu duomo. Fabuloso.
Pisa
- Subi, pela primeira vez, ao topo da famosa torre inclinada para mostrar à minha neta que ainda não estou arrumado.
Veneza
- Desta vez fui de combóio, a partir de Bolonha. Saí do combóio, atravessei uma pequena praça, tomei o vaporetto para a Piazza San Marco. Prático, e cómodo.
Em geral tive a sensação de menores multidões de turistas, talvez por ser ainda Junho.
O serviço nos restaurantes, e não só, pareceu-me descuidado e um pouco caótico.
Somos também surpreendidos por coisas um tanto arcaicas como lançar moedas numa gaveta para pagar a autoestrada. Ou então ter que indicar a matrícula do automóvel quando se tira um talão de estacionamento numa máquina de rua.
Mas a quantidade e qualidade histórica e estética é esmagadora.
sábado, junho 17, 2023
Impressões do Japão
quarta-feira, abril 19, 2023
segunda-feira, abril 17, 2023
quinta-feira, março 16, 2023
domingo, março 12, 2023
terça-feira, janeiro 31, 2023
Eutanásia
terça-feira, janeiro 10, 2023
A última vez que fomos felizes
Hora da publicação: 23:21 0 comentários
Etiquetas: curiosidades, economia-crises-ciclos, estatística-números
domingo, janeiro 01, 2023
quinta-feira, dezembro 22, 2022
domingo, dezembro 11, 2022
sábado, novembro 05, 2022
domingo, setembro 04, 2022
O Facebook é a antítese do Marx.
O Facebook é a antítese do Marx.É uma "fábrica" que trabalha com matéria prima gratuita (que nós damos) e cujos trabalhadores se limitam a criar e manter a infraestrutura. Vendem publicidade mas no seu produto não há incorporação de trabalho vivo.
As televisões também vendem publicidade mas, para isso, todos os dias têm que produzir programas (a maior parte dos quais são realmente deploráveis, mas envolvem trabalho).
O Facebook pode aumentar as vendas para o dobro sem ter que contratar mais trabalhadores. Ou seja, não vive da exploração dos próprios trabalhadores mas sim dos otários que publicam fotografias e textos. Como no caso deste post, que deve ter feito Marx revolver-se no túmulo.
Hora da publicação: 17:15 0 comentários
Etiquetas: digitalismo-pós_capitalismo, Fernando Penim Redondo, marx-marxismos
terça-feira, julho 26, 2022
Os slides que nunca mostrarei
Os slides que nunca mostrarei
Em 1996 fiz uma das viagens mais belas da minha vida, da qual guardo paradoxalmente uma memória triste.
Saímos de Sacramento, de casa da minha irmã, com os dois filhos (com 21 e 25 anos), numa "banheira" alugada.
Queria mostrar aos rapazes algumas maravilhas naturais da América.Passámos pelo Yosemite, atravessámos o parque das Sequóias Gigantes, e descemos até ao sul, à latitude de Los Angeles.Inflectimos para o interior, pelo deserto do Mojave, sempre dormindo nos motéis, como se estivéssemos num filme americano. Sempre a abrir no fast food, guardando senhas de um para obter desconto no próximo. Para os rapazes era o delírio.
Como não podia deixar de ser parámos em Las Vegas e deambulámos de casino em casino, ofuscados pelo neon.O passo seguinte foi o Grand Canyon, onde não tivemos coragem de descer mesmo até ao fundo, e depois o grande deserto pintado dos filmes do farwest. Acontece que chegámos já de noite e com uma trovoada de relâmpagos. O carro avançava na escuridão e, de vez em quando, um relâmpago mostrava os pináculos de rocha à nossa volta. Inesquecível.
Acordámos no dia seguinte, na pitoresca Mexican Hat, onde nos deliciámos com um pequeno almoço servido por "índias" e alegrado pelos colibris que bebiam nos ibiscos vermelhos.Então metemo-nos num jeep, com um velho navajo, e passámos o dia por rochedos e grutas, que tresandavam a desaparecidos rituais indígenas.Não quero maçar-vos com mais detalhes, que seriam muitos e saborosos, mas desapropriados.De barriga cheia, tomámos a direcção do regresso. Não sem antes dar um salto ao ponto mais baixo do planeta em Death Valley.
Eu tivera a precaução de reservar alojamento a uns 70 km de Los Angeles, para evitar entrar à noite naquele dédalo de autoestradas onde já antes havia penado.
O local aprazado da pernoita era S. Bernardino, e eu reservara dois quartos no motel. Quando lá chegámos percebemos que não era bem aquilo que tínhamos imaginado.Não por sermos os únicos brancos do bairro, isso não nos incomodava. A questão é que o nosso motel tinha uma frequência bizarra de travestis espadaúdos e "loiras" demasiado bronzeadas, e nas esquinas próximas pareceu-nos haver um correpio de comércio suspeito.Nunca me ocorreria classificar aquele motel como tendo "ambiente familiar".Acantonámos a família toda num dos quartos, o que nos permitiu imaginar como se sentiriam os bravos da cavalaria quando sitiados pela tribo Apache.
A noite decorreu sem sobressaltos e no dia seguinte visitámos Los Angeles, e depois tomámos a estrada do Pacífico até Monterey e S. Francisco.Uma viagem e peras que os putos nunca mais esqueceram nem esquecerão, durante a qual eu tinha feito uns vinte rolos de slides com a minha fiel Pentax.
Agora imaginem o que sentiriam se perdessem todas as imagens de uma viagem como esta, de certa forma irrepetível.Foi precisamente o que me aconteceu. Regressado a Lisboa, e tendo posto os rolos a revelar, foi-me comunicado pelo gerente da loja que um saco com todos os meus slides (cerca de 800) havia sido roubado.
É verdade que obtive uma indemnização, mas continuo a não me conformar com aquele "buraco" nas minhas extensas memórias fotográficas.
São os slides que nunca mostrarei e, pior do que isso, os slides que eu próprio nunca vi.
quinta-feira, julho 21, 2022
"The cold is in the head"
quinta-feira, junho 30, 2022
Quando há demasiados aeroportos
Hora da publicação: 13:09 0 comentários
Etiquetas: cartoons2022, Fernando Penim Redondo, governo Costa
quarta-feira, abril 27, 2022
Adeus Senhor Haffman
terça-feira, abril 19, 2022
O IMPLICADO
O IMPLICADO
Fui ver, há dias, o filme com este título dedicado à vida de Salgueiro Maia e, em particular, à forma como o "regime" lidou com a sua "rebeldia".
Não é fácil retratar um homem que carrega o fardo da pureza revolucionária, na morte tal como em vida.
Tenho muitas dúvidas acerca da atribuição destes epítetos, como se estivéssemos a estabelecer um padrão ideal de comportamento.
As escolhas que Maia fez na sua vida, são legítimas e mesmo louváveis; mas delas não pode resultar uma condenação em abstracto de quem tenha tomado caminhos diferentes.
Depois de uma revolução realizada por militares não é própriamente um crime que alguns de entre eles queiram ter carreira política na fase posterior. O que eles fizerem, e a forma como eles o fizerem, deverão ser a base de qualquer julgamento que deles queiramos ter.
Da mesma forma se procedeu quanto à "antiguidade" da militância política. Mesmo quando se dizia: "este acordou para a política quando tal deixou de ser perigoso e passou até a ser uma forma de vingar na vida".
Mesmo nesses casos não passou de um dichote sem consequências notórias.
Outra "clivagem", que nunca teve efeitos nefastos, poderia ter ocorrido entre os militantes políticos clandestinos que lutaram durante décadas contra o fascismo, e os militares que o derrubaram num acto súbito e de curta duração. Nunca houve grandes queixas por terem sido os militares a receber os louros do 25 de Abril apesar de os militantes políticos também terem feito um longo e silencioso sacrifício para o alcançar.
Voltando ao nosso Salgueiro Maia, o filme retrata-o como alguém que assumia com veemência os "valores militares" embora de forma crítica que não fechava os olhos a injustiças.
Havia nele também as qualidades e os defeitos do provincianismo, uma reprovação tácita dos gestos mundanos e cosmopolitas.
A sua convicção, e a sua coragem, tinham algo de telúrico. A sua coragem em momentos chave pode realmente ter decidido a sorte do 25 de Abril.
Em consequência desta renovada atenção dada ao Salgueiro Maia acabei por descobrir algumas afinidades e coincidências.
Ele, tal como eu, chamava-se Fernando José. Uma fórmula que há muito passou de moda. Hoje não conheço nenhum jovem com tal nome.
Tínhamos quase a mesma idade, ele nasceu em 1944 e eu em 1945. Ele nasceu imediatamente antes e eu depois de a Grande Guerra terminar.
Ele, tal como eu, fez a guerra da Guiné. Chegou lá dois anos depois de eu ter regressado a Lisboa.
Mas o que mais me encantou foi descobrir uma fotografia de Salgueiro Maia quando era criança e compará-la com outra que me foi tirada na mesma idade (eu sou o da esquerda).
O penteado, a roupa, o sorriso e a postura são extremamente parecidos, quiçá obedecendo às mesmas regras de um ritual da época (meados dos anos cinquenta).
Um toque irresistível é dado pelos emblemas na lapela. Ele era do Benfica e eu, já então, do Sporting.
Nesse plano estávamos em lados opostos mas algo me diz que ele seria um daqueles benfiquistas com quem até gosto de trocar brincadeiras.
segunda-feira, abril 11, 2022
sexta-feira, março 04, 2022
quinta-feira, fevereiro 17, 2022
António Passaporte em Cascais