terça-feira, janeiro 20, 2009

Regresso a Ganturé

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O Google Earth possibilitou-me um inesperado regresso a Ganturé, na Guiné. Há quarenta anos, a 7 de Setembro de 1968, fui mandado para "ocupar posição in the middle of nowhere". Pela foto acima parece que o local continua descampado. Era então um conjunto de vagas ruínas abandonadas pela exploração da mancarra (amendoim) quando começou a guerra.
O meu comandante, que era suposto comandar a acção, "deu parte de doente" à hora do embarque e, por tabela, vi-me inesperadamente com 200 fuzileiros nos braços para realizar a operação. Parti do cais do Pidgiguiti que ainda hoje se pode ver em Bissau através do Google Earth.

Quando cheguei a Ganturé, numa curva do rio Cacheu no Norte do país, tive que desembarcar muitas toneladas de equipamento debaixo de uma chuva diluviana e improvisar a guarda para a passarmos a primeira noite.




Salvo um ou outro bombardeamento de canhão sem recuo a que éramos sujeitos de vez em quando a vida lá se normalizou durante alguns meses. Recordo que foi neste local que soubemos pelo rádio clandestina, e festejámos, a queda da cadeira de Salazar ocorrida precisamente no dia da nossa chegada.


O local era inóspito, quente e cheio de mosquitos, e só havia "ar condicionado" quando acelerávamos no rio Cacheu.



O nosso cozinheiro, um minhoto de gema, organizava fantásticos defiles marciais para animar a pasmaceira em que vivíamos.




Esta é a fotografia "de família" com os homens do meu pelotão.

(clicar nas fotos para ampliar)
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Dedico este post ao novo site "GUERRA COLONIAL"
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3 comentários:

  1. Anónimo09:43

    Mais ou menos por essa altura eu estava em Farim, uns quilómetros mais acima. Creio que vocês eram os responsáveis pela chegada da LDG com os mantimentos de Bissau. E também eram os responsáveis quando ela não chegava :)

    Mais tarde fui uns tempos para Cuntima, na fronteira com o Senegal, onde na altura estava o então capitão Vasco Lourenço - sempre com aspecto de tudo menos de militar:)

    Mas a parte da comissão que mais apreciei foi a que passei em Paris. Ou não seja a fronteira local para atravessar :)

    nelson anjos

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  2. Caro Nelson,

    fui muitas vezes a Farim, escoltar comboios de batelões, com as LDM's.

    Ainda aí tenho fotografias a tomar banho numa piscina em Farim (penso que pública).

    Quem sabe se nesses tempos nos encontrámos...

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  3. Anónimo11:30

    ... piscina? ... em Farim? - só se era para oficiais de patente superior.

    Nós, a tropa macaca, tomávamos banho de balde, no mato quando chovia, ou na travessia das bolanhas :)

    nelson anjos

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