Clique na imagem para ver uma entrevista dada por Chavez em 1998.
4 comentários:
Anónimo
disse...
"Tem sido criticado por se encontrar com Hugo Chavez, o homem que ainda há pouco tempo encerrou um canal de televisão..."
Mário Soares: "Chavez não fechou um canal de televisão. Apenas, no final da concessão, não lhe renovou a licença. Era um canal de uma imensa agressividade e impertinência para com o Presidente da República eleito. Vi em Caracas algumas emissões e sei o que era."
terça-feira, 4 de dezembro de 2007 Democracia confirmada
1. A proposta de reforma constitucional de Chávez perdeu de 50,7% a 49,3% dos votos válidos, segundo os últimos números a que tive acesso. Os dois blocos receberam pouco mais de 4 milhões de votos, a oposição quase 4,5 milhões, Na última eleição presidencial, a oposição teve quase o mesmo, 4,3 milhões, enquanto Chávez bamburrava com 7 milhões. Votaram, portanto, desta vez, cerca de 3 milhões a menos, fazendo a abstenção saltar de 25% para 44%. A abstenção verificou-se principalmente entre os mais pobres, onde Chávez alcança sempre seus melhores percentuais.
Ninguém pode afirmar com certeza como votariam esses 3 milhões, antes que um boa e honesta pesquisa o investigue, mas a hipótese de que o Sim foi derrotado sobretudo pela abstenção parece razoável. Com a condição, claro, de que se acrescente o reconhecimento do próprio Chávez de que o governo bolivariano e seu esquema político falharam na mobilização.
2. O resultado da eleição desmoraliza definitivamente a propaganda imperialista, ecoada pelos midiocratas e midiotas nacionais, de que a Venezuela “caminha para a ditadura” ou “já é uma ditadura”.
É a primeira ditadura do mundo em que o governo, depois de vencer oito eleições consecutivas em nove anos — incluindo duas eleições presidenciais, uma constituinte e um plebiscito revocatório — aprova emendas constitucionais livremente debatidas no Congresso, submete-as a um referendo atacado dia e noite pela imprensa transnacional made in USA, perde por pouco mais de 1 ponto percentual, e a única conseqüência é que o presidente faz um pronunciamento, sem convocação de rede nacional, para cumprimentar a oposição pela vitória e prometer que continuará lutando por suas idéias.
3. O voto na Venezuela não é obrigatório. Como nos EUA também não é, os colonizados não reclamam dessa característica da democracia venezuelana. Mas é argumentável que o sistema brasileiro é melhor. Se o serviço militar é obrigatório, se pagar tributos também é, que há de errado em exigir do cidadão que compareça às urnas nem que seja para anular o voto ou votar em branco?
4. A TV brasileira fez uma cobertura pífia do referendo venezuelano. Mesmo os canais exclusivos de notícia (Globo News, Bandnews) pareciam estranhamente desinteressados, provavelmente porque as pesquisas, inclusive as de boca-de-urna, supunham a vitória de Chávez.
O jeito foi recorrer à CNN em espanhol, que não é mais pró-ianque que as emissoras brasileiras. Parte da cobertura da CNN foi fornecida pelo Globovisión venezuelana, de modo que a noite toda, até às duas da manhã de segunda-feira, ouvimos declarações de líderes oposicionistas, e somente deles. Às duas, porém, quem ainda estava acordado pôde ouvir um belo discurso de 1 hora do presidente Chávez, tranqüilo e bem-humorado, dizendo que oferece seu projeto de reformas “à história”, mas não à história de daqui a 100 anos, mas sim ao futuro próximo.
5. No começo da noite, a CNN informou que os dois blocos haviam concordado em que o primeiro boletim do Poder Eleitoral só seria divulgado quando se alcançassem 90% dos votos apurados.
Quando se chegou a 83%, a Globovisión transmitiu pela CNN iradas declarações de líderes oposicionistas, “exigindo” os boletins, alguns acusando diretamente o Poder Eleitoral de conluio com o Governo para esconder a vitória do Não. Um representante da OEA — um organismo ainda menos confiável que a ONU —, faccioso como o diabo, praticamente endossou a “denúncia”, falando ao vivo com os estúdios da CNN.
6. Quando a presidente do Poder Eleitoral finalmente apareceu, foi um contraste chocante. Tranqüila, sorridente, nem se referiu às acusações. Anunciou os resultados, disse que eram irreversíveis (ainda considerando o que faltava apurar), falou de paz, concórdia e democracia, sugeriu que os partidários do Não celebrassem com alegria, e que os perdedores se recolhessem às suas casas. Foi aplaudida por todos. Não há dúvida. É uma ditadura.
7. As pesquisas davam a vitória ao Sim, que perdeu. Imagine se fosse ao contrário. Manchetes do mundo inteiro gritariam que a “ditadura” chavista havia fraudado a vontade do povo.
8. Algumas das reformas propostas por Chávez incluíam a estatização, pelo Congresso, de algumas empresas nacionais e estrangeiras. Ditadura... Mas quando Fernando Henrique, ao contrário, transformou o Sistema Telebrás, as siderúrgicas, a Embratel e a Vale, de estatais em empresas privadas, ou quando incentivou a venda de bancos nacionais a estrangeiros, sem referendo nem nada, apenas com sua maioria congressual, tivemos o quê? Democracia...
9. Chávez - este é o ponto mais atacado - propôs a reeleição do presidente sem limite de mandatos. É assim na democracia francesa, onde o sistema funciona como presidencialismo ou parlamentarismo, conforme o presidente e o primeiro-ministro sejam do mesmo partido ou não.
É assim no parlamentarismo inglês, no português (que é um tanto afrancesado),no italiano etc. Dizem: mas há diferenças! Sim, uma delas que chefe do Executivo inglês é eleito pelo Parlamento, ao passo que o do Brasil e o da Venezuela são eleitos pelo povo. Outro que Brasil e Venezuela não tem nada tão anacrônico quanto um rei, vitalício, hereditário, dispendioso e inútil.
10. E por que haveria de ser igual? É como diz o advogado e colunista eletrônico Castagna Maia: por que não convocar um plebiscito nos EUA para saber se os ianques devem ou não sair do Iraque ou fechar o campo de concentração de Guantánamo?
Ou isso transformaria a plutocracia estadunidense numa ditadura?
Walter Rodrigues http://www.walter-rodrigues.jor.br/
Dialéctica de uma derrota por Atilio Borón [*] Como explicar a derrota do Sim e até que ponto foi só uma derrota?
Chavez enfrentou uma fenomenal coligação política e social que aglutinava todas as forças da velha ordem, carcomida até às entranhas mas com os seus agentes históricos a travarem uma batalha desesperada para salvá-la. A grande burguesia autóctone, os latifundiários, o capital financeiro, os dirigentes sindicais corruptos, a velha partidocracia, a hierarquia da Igreja Católica, a embaixada norte-americana, obcecada em derrubá-lo, e, a coroar todo este fluxo de descarga, uma confabulação mediática nacional e internacional poucas vezes vista na história, a qual reunia nos seus ataques a Chavez os grandes expoentes da "imprensa livre" da Europa, Estados Unidos e América Latina. O líder bolivariano atraiu contra si todos os espantalhos sociais com os quais deve lidar qualquer governo digno na América Latina e combateu-os quase em solidão e de mãos limpas. O que unificou os conservadores não foi a cláusula da "reeleição permanente" e sim algo muito mais grave: a reforma concedia categoria constitucional ao projecto socialista em gestação, algo totalmente inaceitável. Apesar de tão descomunal disparidade, o resultado eleitoral foi praticamente um empate.
Para muitos venezuelanos a eleição não era importante, o que explica os 44 por cento de abstenção. A grande maioria dos que não compareceram para votar te-lo-iam feito pelo Sim, o que revela a debilidade do trabalho de construção hegemónica e de conscientização ideológica dos bolivarianos no seio das classes populares. A redistribuição de bens e serviço é imprescindível, mas não necessariamente cria consciência política emancipadora. Por outro lado, alguns governadores e alcaides chavistas não se empenharam a fundo em favor de uma reforma constitucional que democratizaria, em prejuízo das suas atribuições, a organização política do Estado ao criar novas instituições do poder popular. Além disso, há que levar em conta que após nove anos de gestão qualquer governo sofre um desgaste ou deixa de suscitar o entusiasmo colectivo de antanho. A isto há que acrescentar, além disso, alguns erros cometidos na campanha eleitoral intermitente de um presidente que, pelo seu papel protagónico no cenário mundial, não dispõe de muito tempo para outra coisa.
De qualquer modo, apesar da derrota, Chavez saiu-se muito bem. Suas credenciais democráticas fortaleceram-se notavelmente. A oposição chegou às eleições dizendo que jamais aceitaria um triunfo do Sim. Caso se verificassem, repudia-lo-iam por ser produto da fraude e poriam em andamento o "Plano B" da Operación Tenaza [1] . Os que se diziam democratas confessavam que só se comportariam como tais no caso de ganhar; senão, a sua resposta seria a sedição. Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas. Imaginemos o que teria acontecido se por essa ínfima diferença houvessem triunfado o Sim. Os porta-vozes da "democracia" teriam incendiado a Venezuela. Apesar da sua derrota, a estatura moral de Chavez e a sua fidelidade aos valores da democracia converte em pigmeus os seus oportunistas adversários, que só respeitam o resultado das urnas quando estes os favorecem. E, de passagem, deixa numa posição insustentável os senadores brasileiros que, sob o pretexto da débil vocação democrática de Chavez, querem frustrar a entrada da Venezuela no Mercosul. 04/Dezembro/2007 [1] Operación Tenaza: A tradução para castelhano do relatório do sr. Michael Middleton Steere, da US Embassy, ao sr. Michael Hayden, Director Agencia Central de Inteligencia encontra-se em www.tribuna-popular.org.
[*] Economista e sociólogo. Secretario general do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) até Agosto de 2006. Professor Titular de Teoria Política e Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
O original encontra-se em http://www.defensahumanidad.cult.cu/columnista.php?item=8
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terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Democracia confirmada
1. A proposta de reforma constitucional de Chávez perdeu de 50,7% a 49,3% dos votos válidos, segundo os últimos números a que tive acesso. Os dois blocos receberam pouco mais de 4 milhões de votos, a oposição quase 4,5 milhões,
Na última eleição presidencial, a oposição teve quase o mesmo, 4,3 milhões, enquanto Chávez bamburrava com 7 milhões. Votaram, portanto, desta vez, cerca de 3 milhões a menos, fazendo a abstenção saltar de 25% para 44%. A abstenção verificou-se principalmente entre os mais pobres, onde Chávez alcança sempre seus melhores percentuais.
Ninguém pode afirmar com certeza como votariam esses 3 milhões, antes que um boa e honesta pesquisa o investigue, mas a hipótese de que o Sim foi derrotado sobretudo pela abstenção parece razoável. Com a condição, claro, de que se acrescente o reconhecimento do próprio Chávez de que o governo bolivariano e seu esquema político falharam na mobilização.
2. O resultado da eleição desmoraliza definitivamente a propaganda imperialista, ecoada pelos midiocratas e midiotas nacionais, de que a Venezuela “caminha para a ditadura” ou “já é uma ditadura”.
É a primeira ditadura do mundo em que o governo, depois de vencer oito eleições consecutivas em nove anos — incluindo duas eleições presidenciais, uma constituinte e um plebiscito revocatório — aprova emendas constitucionais livremente debatidas no Congresso, submete-as a um referendo atacado dia e noite pela imprensa transnacional made in USA, perde por pouco mais de 1 ponto percentual, e a única conseqüência é que o presidente faz um pronunciamento, sem convocação de rede nacional, para cumprimentar a oposição pela vitória e prometer que continuará lutando por suas idéias.
3. O voto na Venezuela não é obrigatório. Como nos EUA também não é, os colonizados não reclamam dessa característica da democracia venezuelana. Mas é argumentável que o sistema brasileiro é melhor. Se o serviço militar é obrigatório, se pagar tributos também é, que há de errado em exigir do cidadão que compareça às urnas nem que seja para anular o voto ou votar em branco?
4. A TV brasileira fez uma cobertura pífia do referendo venezuelano. Mesmo os canais exclusivos de notícia (Globo News, Bandnews) pareciam estranhamente desinteressados, provavelmente porque as pesquisas, inclusive as de boca-de-urna, supunham a vitória de Chávez.
O jeito foi recorrer à CNN em espanhol, que não é mais pró-ianque que as emissoras brasileiras. Parte da cobertura da CNN foi fornecida pelo Globovisión venezuelana, de modo que a noite toda, até às duas da manhã de segunda-feira, ouvimos declarações de líderes oposicionistas, e somente deles. Às duas, porém, quem ainda estava acordado pôde ouvir um belo discurso de 1 hora do presidente Chávez, tranqüilo e bem-humorado, dizendo que oferece seu projeto de reformas “à história”, mas não à história de daqui a 100 anos, mas sim ao futuro próximo.
5. No começo da noite, a CNN informou que os dois blocos haviam concordado em que o primeiro boletim do Poder Eleitoral só seria divulgado quando se alcançassem 90% dos votos apurados.
Quando se chegou a 83%, a Globovisión transmitiu pela CNN iradas declarações de líderes oposicionistas, “exigindo” os boletins, alguns acusando diretamente o Poder Eleitoral de conluio com o Governo para esconder a vitória do Não. Um representante da OEA — um organismo ainda menos confiável que a ONU —, faccioso como o diabo, praticamente endossou a “denúncia”, falando ao vivo com os estúdios da CNN.
6. Quando a presidente do Poder Eleitoral finalmente apareceu, foi um contraste chocante. Tranqüila, sorridente, nem se referiu às acusações. Anunciou os resultados, disse que eram irreversíveis (ainda considerando o que faltava apurar), falou de paz, concórdia e democracia, sugeriu que os partidários do Não celebrassem com alegria, e que os perdedores se recolhessem às suas casas. Foi aplaudida por todos. Não há dúvida. É uma ditadura.
7. As pesquisas davam a vitória ao Sim, que perdeu. Imagine se fosse ao contrário. Manchetes do mundo inteiro gritariam que a “ditadura” chavista havia fraudado a vontade do povo.
8. Algumas das reformas propostas por Chávez incluíam a estatização, pelo Congresso, de algumas empresas nacionais e estrangeiras. Ditadura... Mas quando Fernando Henrique, ao contrário, transformou o Sistema Telebrás, as siderúrgicas, a Embratel e a Vale, de estatais em empresas privadas, ou quando incentivou a venda de bancos nacionais a estrangeiros, sem referendo nem nada, apenas com sua maioria congressual, tivemos o quê? Democracia...
9. Chávez - este é o ponto mais atacado - propôs a reeleição do presidente sem limite de mandatos.
É assim na democracia francesa, onde o sistema funciona como presidencialismo ou parlamentarismo, conforme o presidente e o primeiro-ministro sejam do mesmo partido ou não.
É assim no parlamentarismo inglês, no português (que é um tanto afrancesado),no italiano etc. Dizem: mas há diferenças! Sim, uma delas que chefe do Executivo inglês é eleito pelo Parlamento, ao passo que o do Brasil e o da Venezuela são eleitos pelo povo. Outro que Brasil e Venezuela não tem nada tão anacrônico quanto um rei, vitalício, hereditário, dispendioso e inútil.
10. E por que haveria de ser igual? É como diz o advogado e colunista eletrônico Castagna Maia: por que não convocar um plebiscito nos EUA para saber se os ianques devem ou não sair do Iraque ou fechar o campo de concentração de Guantánamo?
Ou isso transformaria a plutocracia estadunidense numa ditadura?
Walter Rodrigues
http://www.walter-rodrigues.jor.br/
Dialéctica de uma derrota
por Atilio Borón [*]
Como explicar a derrota do Sim e até que ponto foi só uma derrota?
Chavez enfrentou uma fenomenal coligação política e social que aglutinava todas as forças da velha ordem, carcomida até às entranhas mas com os seus agentes históricos a travarem uma batalha desesperada para salvá-la. A grande burguesia autóctone, os latifundiários, o capital financeiro, os dirigentes sindicais corruptos, a velha partidocracia, a hierarquia da Igreja Católica, a embaixada norte-americana, obcecada em derrubá-lo, e, a coroar todo este fluxo de descarga, uma confabulação mediática nacional e internacional poucas vezes vista na história, a qual reunia nos seus ataques a Chavez os grandes expoentes da "imprensa livre" da Europa, Estados Unidos e América Latina. O líder bolivariano atraiu contra si todos os espantalhos sociais com os quais deve lidar qualquer governo digno na América Latina e combateu-os quase em solidão e de mãos limpas. O que unificou os conservadores não foi a cláusula da "reeleição permanente" e sim algo muito mais grave: a reforma concedia categoria constitucional ao projecto socialista em gestação, algo totalmente inaceitável. Apesar de tão descomunal disparidade, o resultado eleitoral foi praticamente um empate.
Para muitos venezuelanos a eleição não era importante, o que explica os 44 por cento de abstenção. A grande maioria dos que não compareceram para votar te-lo-iam feito pelo Sim, o que revela a debilidade do trabalho de construção hegemónica e de conscientização ideológica dos bolivarianos no seio das classes populares. A redistribuição de bens e serviço é imprescindível, mas não necessariamente cria consciência política emancipadora. Por outro lado, alguns governadores e alcaides chavistas não se empenharam a fundo em favor de uma reforma constitucional que democratizaria, em prejuízo das suas atribuições, a organização política do Estado ao criar novas instituições do poder popular. Além disso, há que levar em conta que após nove anos de gestão qualquer governo sofre um desgaste ou deixa de suscitar o entusiasmo colectivo de antanho. A isto há que acrescentar, além disso, alguns erros cometidos na campanha eleitoral intermitente de um presidente que, pelo seu papel protagónico no cenário mundial, não dispõe de muito tempo para outra coisa.
De qualquer modo, apesar da derrota, Chavez saiu-se muito bem. Suas credenciais democráticas fortaleceram-se notavelmente. A oposição chegou às eleições dizendo que jamais aceitaria um triunfo do Sim. Caso se verificassem, repudia-lo-iam por ser produto da fraude e poriam em andamento o "Plano B" da Operación Tenaza [1] . Os que se diziam democratas confessavam que só se comportariam como tais no caso de ganhar; senão, a sua resposta seria a sedição. Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas. Imaginemos o que teria acontecido se por essa ínfima diferença houvessem triunfado o Sim. Os porta-vozes da "democracia" teriam incendiado a Venezuela. Apesar da sua derrota, a estatura moral de Chavez e a sua fidelidade aos valores da democracia converte em pigmeus os seus oportunistas adversários, que só respeitam o resultado das urnas quando estes os favorecem. E, de passagem, deixa numa posição insustentável os senadores brasileiros que, sob o pretexto da débil vocação democrática de Chavez, querem frustrar a entrada da Venezuela no Mercosul.
04/Dezembro/2007
[1] Operación Tenaza: A tradução para castelhano do relatório do sr. Michael Middleton Steere, da US Embassy, ao sr. Michael Hayden, Director Agencia Central de Inteligencia encontra-se em www.tribuna-popular.org.
[*] Economista e sociólogo. Secretario general do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) até Agosto de 2006. Professor Titular de Teoria Política e Social da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
O original encontra-se em http://www.defensahumanidad.cult.cu/columnista.php?item=8
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
"Chavez, em contrapartida, deu-lhes um lição de republicanismo democrático a aceitar com fidalguia o veredicto das urnas."
Classificando a vitória da oposição como "victória de mierda".
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