quinta-feira, outubro 30, 2008

Obama sub-prime time





Os apoios a Obama continuam a surgir (ver Público).
Ele gastou milhões de dólares na maior campanha televisiva em "prime time" alguma vez realizada na história da América (ver o vídeo acima).

Obama vai ser, estou convencido, o próximo Presidente dos EUA.
Então por que é que isso não me entusiasma ? A resposta é complicada.

Digamos que eu estou convencido de que os problemas que a América enfrenta não são passíveis de solução nem através da extraordinária empatia de Obama.
Um império em declínio não pode interromper esse processo pelo carisma de um homem.
Ele promete cuidar dos americanos mas isso não resolve os desafios estratégicos que a América enfrenta.

Só nos resta esperar que a atitude equilibrada e sensível de Obama ajude os americanos a atravessar os mares agitados que os esperam com dignidade e sentido de responsabilidade, o que já não é pouco.

O principal desafio de Barak Obama, depois de empossado, será a gestão das enormes expectativas que gerou e às quais, estou convencido, até ele sabe que não pode verdadeiramente corresponder. Uma prova de fogo que ditará o seu destino.

Seja como for os americanos não têm nenhuma solução melhor no dia das eleições...

3 comentários:

  1. Alternativa poderia ser votar "em branco". Mas havia sempre o risco de ser interpretado como um voto em John Mackein...

    Felizmente, neste sentido, o problema não se porá quando for a vez de votar em Portugal para a Assembleia da República! Coloca-se, isso sim, o problema contrário de não haver negros - sabe-se lá porquê.

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  2. A "classe política" tem vivido em circuito fechado...

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  3. Anónimo19:10

    Durante os dois mandatos de Bush filho os Estados Unidos perderam poder e credibilidade. Nasceu nos EUA a mais séria crise financeira desde há 70 anos, da qual resultará uma recessão internacional. Os EUA tornaram-se o maior devedor mundial. A sua dívida externa passou de 21% do PIB em 1980 para 116% em 2007. Uma posição insustentável, obrigando agora os americanos a cortarem no consumo, que não pode ser indefinidamente financiado pelas poupanças asiáticas.
    Há uma enorme insatisfação da classe média americana, que desde há décadas vê os seus rendimentos estagnarem, ou subirem pouco - enquanto os mais ricos ganham crescentes somas fabulosas. Ora, com uma economia em recessão, não será fácil responder à revolta da classe média, o que exigiria um segundo New Deal, aumentando a protecção social. Obama gostaria de ir por aí, mas já prometeu muita coisa que não poderá cumprir se for eleito, como dar seguros de saúde aos 40 milhões de americanos que os não têm.
    No plano militar, apesar das melhorias recentes, as coisas correram mal no Iraque e não estão a correr bem no Afeganistão. Os EUA são, de longe, a maior potência militar do mundo e assim continuarão no futuro previsível. Mas tornaram-se evidentes os limites do seu poder. Daí ser improvável Washington voltar nos próximos tempos a envolver-se em operações militares no estrangeiro.
    Politicamente os EUA perderam a simpatia de muitos países, incluindo de aliados, com as suas políticas unilaterais e de desprezo pelo direito internacional. Claro que uma superpotência não vive de simpatias - mas, quando os EUA descobrem, como já descobriram, que afinal precisam da colaboração política, económica e militar de outros países, não lhes dá jeito um ambiente de hostilidade internacional.
    Enquanto campeões da democracia e dos direitos humanos, os EUA também perderam influência. Abu Grahib, Guantánamo, a tortura, a ausência de direitos dos suspeitos de terrorismo, etc., tudo isso minou a credibilidade moral de Washington, oferecendo aos terroristas um êxito que deveria ter sido evitado.
    A vitória, provável mas não certa, de Obama levará a fechar Guantánamo e a proibir a tortura. Ainda bem. E essa vitória será recebida favoravelmente fora dos EUA e facilitará o renascimento do indispensável multilateralismo.
    Mas nem tudo serão rosas. Por um lado, é duvidoso que Obama consiga uma maior contribuição europeia para a guerra do Afeganistão. Por outro, tudo aponta para que a América se vire para dentro, isolando-se do exterior. Ora a liderança americana é indispensável, porque não existe outra no mundo. Sem o empenhamento dos EUA não haverá reforma do sistema financeiro nem das instituições internacionais.
    Entretanto, a crise financeira e económica alargou perigosamente o défice das contas federais - fala-se em 7% do PIB para 2009. Daí que se multipliquem as pressões para os militares americanos saírem depressa do Iraque e até do Afeganistão. Porventura depressa demais.
    Internamente, nenhum dos dois principais candidatos preparou os americanos para os sacrifícios que terão de fazer de modo a equilibrar a economia. Assim, a tendência isolacionista irá manifestar-se na economia com mais proteccionismo. Será a resposta fácil, mas errada, à frustração dos desempregados e dos que perdem poder de compra. Podemos não estar longe de ver repetida a cavalgada proteccionista dos anos 30, durante a Grande Depressão, que só veio agravar a crise.
    Se for eleito, Obama cairá provavelmente na tentação proteccionista. Primeiro, porque nunca foi um defensor do comércio livre. Depois, porque, não podendo corresponder às grandes expectativas que criou na maioria dos americanos, o proteccionismo lhe surgirá como um recurso expedito para mostrar que faz alguma coisa. Acresce que a maioria democrática no Congresso, que amanhã deverá ser reforçada, tende para posições proteccionistas. Se assim acontecer, irão por água abaixo as grandes esperanças criadas por Obama fora dos EUA, sobretudo na Europa. E, a prazo, o bem-estar dos americanos ficará a perder. Jornalista (franciscosarsfieldcabral@gmail.com)

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