quinta-feira, janeiro 31, 2008

Geografias variáveis

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Há exactamente 50 anos eu reflectia no meu caderno de geografia as verdades desse tempo. A África mítica, selvagem, e parte integrante do nosso país, "o terceiro país colonial".

Há exactamente 40 anos fui mandado para a Guiné. Eu e muitos outros milhares de jovens portugueses acordámos então para a relatividade da geografia e da cultura. Aqueles que tinham partido das aldeias ou das pequena vilas observaram, com surpresa, que "os pretos" podiam ser muito mais evoluídos do que a imagem que tinham deles.

Dez anos foram suficientes para o nascimento de uma nova África na mente de uma geração inteira.






quarta-feira, janeiro 30, 2008

Pela valorização das Artes e da Cultura

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Por detrás de um espectáculo de Dança, Teatro, Música, Circo, Cinema ou Audiovisual esconde-se uma realidade preocupante, a realidade com que os profissionais das Artes do Espectáculo se confrontam nas suas condições de vida e de trabalho.
Actores, músicos, bailarinos, coreógrafos, encenadores, realizadores, técnicos de audiovisual e tantos outros profissionais têm vindo, ao longo dos anos, a ser confrontados com condições de trabalho cada vez mais precárias, com graves consequências para a sua vida pessoal e profissional, situação esta que se irá agravar se a Proposta de Lei n.º 132/X, apresentada pelo Governo e aprovada pela maioria PS na Assembleia da República, for promulgada.

Pela valorização das Artes e da Cultura assina e divulga!

http://www.PetitionOnline.com/trabARTE/petition.html

terça-feira, janeiro 29, 2008

A inflação desde 1970.


Este quadro com as taxas de inflação nos últimos 37 anos, publicado no dia 25 no jornal SEXTA, é bastante interessante para quem se interessa por números.
Também permite, de alguma maneira, comparar os desempenhos dos governantes. Cavaco fica muito bem neste retrato.
O problema destas taxas é que, como qualquer outro valor obtido por média, não têm a mesma validade para todos os cidadãos.
O cabaz de produtos considerado na média, independentemente da sua adequação geral, não afecta da mesma forma os vários estratos e sectores da sociedade.
Como se tal não bastasse tem sido prática corrente os governos fazerem previsões de inflação que são sempre superadas pela realidade económica. O problema é que os rendimentos dos cidadãos trabalhadores e reformados são aumentados com base nas previsões...
(resolvi acrescentar, mais abaixo, a evolução do salário mínimo e dos preços de alguns bens essenciais)


domingo, janeiro 27, 2008

As grandes transformações do mundo

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(DN Emprego, 24.01.2008)

A Ásia vive uma espécie de segunda volta do Capitalismo.

sábado, janeiro 26, 2008

A mulher do

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Cientista:





Engenheiro:





Matemático:





Rádio-amador:





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sexta-feira, janeiro 25, 2008

"Humanismo" irresponsável

Um grupo de associações de imigrantes anteciparam para hoje a manifestação inicialmente agendada para sábado, no Porto, para protestar contra a forma como o Governo está a tratar os 23 cidadãos marroquinos que em Dezembro desembarcaram em Olhão.
As associações Que Alternativas, Casa Viva, SOS Racismo, Olho Vivo, Solim, GAIA, Terra Viva e AACILUS emitiram hoje um comunicado no qual consideram que a expulsão destes cidadãos "condena-os à miséria e a arriscar a vida novamente".
Segundo José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda que denunciou a situação, os imigrantes ainda detidos em Portugal estão "muito revoltados com esta decisão, que classificam de cruel e de uma espécie de pena de morte".

Será que estas alminhas não conseguem ver mais longe ? não conseguem perceber as consequências da sua mania infantil de "salvar desgraçadinhos" ?
A única maneira de desencorajar novas travessias suicidas é convencer os candidatos de que não vale a pena tentar. É repatriar todos, mas todos, os que chegarem às nossas praias.

Aqueles que defendem a permanência em Portugal deste punhado de imigrantes, com o seu aparente humanismo, estão a criar condições que podem levar à morte, por naufrágio, de centenas de outros.





quinta-feira, janeiro 24, 2008

UNCYCLOPEDIA




Uncyclopedia, "the content-free encyclopedia" ou, como se diz na versão portuguesa, a Desciclopédia, livre de conteúdos (apesar de já ter 8.322 entradas).
Uma loucura saudável nos dias que vão correndo sob a obsessão da informação.
Algures em 2004 um senhor chamado Gideon Haigh tinha publicado um livro com o mesmo nome, sub-titulado "Tudo o que você nunca soube que gostava de saber".


quarta-feira, janeiro 23, 2008

Capital



Entre 1965 e 1967 fui professor do ensino secundário, numa "Escola Comercial", e tive como manual de Economia Política o livro oficial retratado mais acima. Continha um exemplo bastante original, para não dizer pior, do conceito "capital". Nunca mais o esqueci. Há dias fui dar com ele durante umas arrumações.




Como tinha aderido ao marxismo há pouco tempo fiquei estarrecido. Eu na altura estava até mais inclinado a pensar no polícia como uma força repressiva do Capital.

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terça-feira, janeiro 22, 2008

Era uma vez uma fábrica (2)

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Onde está agora este buraco existia, em tempos, uma fábrica com uma história.
Em abril de 2007 referi-me a este assunto AQUI.

Agora já não resta nada. Se quer ver uma reportagem que fiz em 12 de Fevereiro 2007, que documenta o que então existia, clique AQUI.

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segunda-feira, janeiro 21, 2008

A César o que é de César

Li algures que Akbar, Imperador Moghul do século XVI, disse qualquer coisa como: "As religiões estão todas erradas mas devem ser respeitadas" (cito de memória).
Concordo absolutamente. Akbar tinha nesta questão motivações que eu não tenho pois entre os seus súbditos contavam-se hindus e muçulmanos que lhe competia governar em harmonia.
Em desespero de causa tentou criar uma nova igreja, Ibadat Khana, respigando peças de cada uma das outras, mas os crentes nunca foram numerosos pois eram apenas os seus cortesãos mais próximos.
Convenhamos que a fé, qualquer que ela seja, ao introduzir entidades ou verdades indiscutíveis, acima e para além das regras da convivência civil, assume o carácter de ameaça à sociedade humana. Esse tipo de lógica só funciona quando há unanimidade o que, na sociedade humana, é anti-natural.
Todos sabemos que, por vezes, os crentes podem passar por longos períodos de tolerância para com os "gentios" mas, lá bem no fundo, a predisposição para a exclusão continua a existir e pode sempre reacender-se.
Nos últimos tempos tem havido uma certa agitação mediática acerca de quem persegue quem, se são os cristãos se são os ateus. Também se discute muito a tolerância da Europa para com as crenças intolerantes.
Entendo que se pode perfeitamente respeitar as crenças dos nossos concidadãos sem nunca omitir que as religiões são fontes de equívocos e de violências. Fingir que se considera o fenómeno religioso uma coisa positiva e desejável seria ceder ao oportunismo para evitar ser acusado, injustamente, de intolerância religiosa.
Do que ficou dito tem que resultar a subordinação das religiões, enquanto viverem no seio da sociedade, às regras de convivência que a sociedade tiver por estabelecidas.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

As palavras dúbias de um comentador de direita


Publicou Pacheco Pereira (PP), no Sábado passado, mais uma das suas crónicas (Os velhos do Restelo contra a West Coast of Europe) que escreve regularmente para o Público. Depois da sua leitura, percebe-se que ele se dirige genericamente aos apoiantes de Sócrates e de Luís Filipe de Menezes, ao centrão, que criticam os Velhos do Restelo, que seria formado por ele próprio, Vasco Pulido Valente (VPV) e António Barreto (AB). Este grupo caracterizar-se-ia por não se conformar com o Portugal expresso pelos cartazes com que o Governo entendeu fazer propaganda ao nosso país, localizando-o na Costa Oeste da Europa, fugindo, provavelmente com medo dos camelos e dos atentados, a situá-lo ao Sul. Deste modo, PP e consortes consideram-se os Velhos do Restelo em luta contra os situacionistas do regime.

Partindo desta ideia simples, que no seu conjunto é um disparate, mas que se coaduna com aquilo que PP gostava que pensassem de si, começa a disparar em todas as direcções, atribuindo-se, e provavelmente aos outros, a participação em batalhas em que a maioria dos novos comentadores não participaram.

Assim, fala de um tempo em que a luta contra os comunistas era conduzida por poucos e em que “o arranque da historiografia e da sociologia para fora das baias do antifascismo e do jacobinismo se lhes deva em parte (VPV e AB, digo eu), quando a academia permanecia gloriosamente dominada pelo PCP e pelos esquerdistas”. PP aparece assim como um herói avant-la-lettre, coisa em que o comum yuppie (a expressão é dele) dos nossos dias não tem pergaminhos.

Para um sexagenário como eu, da mesma geração que a dos Velhos do Restelo, esta referência aos novatos, à gente sem espessura, nem história, nem formação é sempre agradável de ouvir. Pode-se dizer que li um pouco embevecido algumas das críticas que lhes eram dirigidas.

Mas eis que um jovem de outra geração, Rui Tavares, numa crónica que escreveu igualmente para o jornal Público, se sente atingido pelas afirmações de PP e acutilantemente lhe responde, garantindo que este, “como opinador independente e corajoso que é,... não consegue citar um nome, responder a uma opinião, refutar um argumento. O seu confronto faz-se fantasmagoricamente, contra categorias vagas de gente — os “modernizadores”, os “pensadores-engraçadistas”, os “inocentes úteis” — em estilo críptico de treinador de futebol”.

Tal como afirmei no princípio, se a crónica tem destinatários gerais, não consegue particularizar nenhum dos seus adversários, ficando de forma enviesada pela generalidade dos comentadores.


Mas o que diz Pacheco Pereira: “Não adianta sequer dizer à ignorância impante que, com excepção de meia dúzia de conservadores, poucos, aliás, a "luta final" que terminou em 1989 com a queda do Muro de Berlim, como escreveu Silone, foi mais entre comunistas e ex-comunistas. Os grandes textos simbólicos contra o comunismo, O Retorno da URSS, O Zero e o Infinito, o 1984 e O Triunfo dos Porcos, vieram de homens como Gide, Koestler e Orwell. Nos momentos mais duros da guerra fria, os ex-comunistas e os liberais mais radicais com quem se aliaram foram os únicos a travar o combate intelectual contra a hegemonia intelectual comunista. Revistas como o Encounter ficaram como exemplo dessa aliança em tempos bem mais difíceis do que os de hoje. E que, nos momentos decisivos do fim do império soviético, quando o expansionismo soviético conheceu o seu espasmo agressivo entre o Afeganistão e Angola, só ex-comunistas, como Mário Soares, e ex-maoistas lutaram contra a URSS, a favor de dissidentes soviéticos como Sakharov, em Portugal, em França com os "novos filósofos", mesmo nos EUA, onde muitos neocons vinham da esquerda radical americana.”

Transcrevi longamente esta pérola de PP para mostrar como este historiador se auto-valoriza e incensa todos aqueles que, como ele, vieram do maoismo e do marxismo-leninismo (M-L).

Começa PP por atacar os tais “ignorantes impantes” que não sabemos quem são. Pode até coincidir com a minha apreciação, que sempre tive a pior das opiniões de alguns dos intelectuais orgânicos do actual situacionismo, mas ao qual não são alheios PP, VPV e AB.

Depois, socorre-se de Silone para afirmar que a “luta final” seria entre comunistas e ex-comunistas, porque os conservadores seriam muito poucos. Desconheço estas afirmações de Silone, mas elas nunca se poderiam referir ao fim da União Soviética, porque este escritor morreu antes de ter a “felicidade” de assistir a tal fim.

A seguir altera francamente a história do século XX e da luta contra o comunismo. Porque ao citar Gide, começa por localizar o seu início entre as duas Guerras, o que é justo. Ora é preciso ter desplante para esquecer a ofensiva fascista, e não só, contra os comunistas. A “luta final” para alguns, e não foram poucos, foi de facto a sua encarceração na prisão e em campos de concentração e a política levada a efeito por um conjunto de intelectuais, muitos hoje esquecidos, que contribuíram de forma decisiva para a prevalência daquela ideologia e do combate anticomunista. Hoje é prática corrente dos anticomunistas hodiernos tentar provar que se havia uma ditadura fascista havia igualmente uma ditadura ideológica comunista, como o seu confrade Rui Ramos vem regularmente afirmando (ver aqui).

Quanto ao pós-guerra resume a luta anticomunista a uma aliança entre os intelectuais ex-comunistas e uns poucos ultraliberais. Ou seja, tenta generalizar a situação de França a todo o campo “ocidental”. Naquele país, que não é mencionado, a maioria dos intelectuais conservadores bandearam-se com o colaboracionista Pétain e mesmo com o nazismo, e por isso havia uma prevalência das ideologias de esquerda. O que não sucedeu por exemplo nos EUA, onde a sinistra Comissão das Actividades Anti-Americanas, com a sua caça às bruxas, levou à prisão ou forçou à emigração alguns dos mais importantes cineastas e argumentistas de Hollywood, com a acusação de serem comunistas. Depois, para sua desgraça cita a revista Encounter, que hoje se sabe que foi financiada pela CIA, tal como o Congresso para a Liberdade da Cultura, que de facto apostou em alguns ex-comunistas, e não só, como força de choque para a luta contra os comunistas (ver a obra – “Qui Mène la Danse? La CIA et la Guerre Froid Culturelle”, de Frances Stonor Saunders, da Denoel, 2003).

E para provar as suas afirmações mistura três intelectuais de diferentes níveis e formações. André Gide, um grande escritor, que no auge da ascensão do fascismo colaborou momentaneamente com os comunistas, mas que depois de uma visita à URSS (“Retour de l’URSS” - 1936), num ano tão terrível como o dos primeiros processos de Moscovo, se desiludiu com a mesma. No entanto, nunca passeou pelos corredores do poder a sua profissão de fé anti-comunista.

Arthur Koestler que de militante comunista passou, com a sua mais famosa obra “O Zero e O Infinito” (1941) (há uma primeira tradução portuguesa de Domingos Mascarenhas, um jornalista ligado ao cinema e à direita, de 1947, da Livraria Tavares Martins – Porto) a activista anticomunista e a um dos principais suportes do já referido Congresso para a Liberdade da Cultura. A parte final da sua obra é dedicada à ciência e à parapsicologia, deixando em testamento dinheiro para se fundar uma cátedra desta última “ciência”.

Quanto a George Orwell, bem conhecido e incensado, é involuntariamente, porque morreu em 1950, um dos principais expoentes da ofensiva anticomunista do pós-25 de Abril em Portugal – Júlio Isidro dedicou-lhe na televisão pública uma tarde de Sábado no ano referente ao seu mais célebre livro, 1984. Sabe-se hoje que escreveu listas com os nomes de intelectuais com possíveis afinidades comunistas e as entregou ao Governo Britânico.

Continuando na senda do seu auto-elogio, fala em que só um ex-comunista como Mário Soares – há quantos anos ele tinha pertencido ao PCP? - e ex-maoistas empreenderam a defesa de Sakarov e lutaram contra a URSS. Aqui esquece como os maoistas há muito já tinham classificado a URSS e os partidos que a apoiavam como social-fascistas e como o seu camarada de partido Durão Barroso se passou gloriosamente da luta contra os sociais-fascistas para a luta contra os comunistas. Ou então, quando ele e Mário Soares apoiavam, em nome provavelmente da solidariedade atlantista, um bando de assassinos chefiados por Jonas Savimbi, e esqueciam, como foi provado recentemente, o massacre perpetrado em Angola contra comunistas (Nito Alves, Sita Valles, Zé Van Dunen e mais 30 mil companheiros).

É preciso ter uma grande ousadia para transformar em heróis um conjunto de personalidades de diferentes origens e percursos (ex-maoistas, como ele, “novos filósofos” franceses ou neoconservadores americanos) que se prestaram a defender a ideologia dominante e a usufruírem gloriosamente das cadeiras da fama e do poder.

Por tudo isto, sendo sempre agradável ouvir dizer mal dos yuppies dos nossos dias, considero que Rui Tavares tem toda a razão para criticar PP, esse “glorioso” lutador do anti-comunismo.


Texto publicado incialmente no blog Trix-Nitrix

Young Global Leaders



Jovens de menos de 40 anos, seleccionados em todo o mundo pelas provas dadas na liderança de actividades importantes para as suas sociedades,fizeram um exercício de prospectiva, "The 2030 Initiative".
A experiência, desenvolvida sob a égide do Forum Económico Mundial, vale o que vale mas eu nestes casos não resisto à curiosidade.
Pelo menos permite perceber o que vai naquelas cabecinhas ou o que pensam que devem fingir que vai.Veja os resultados a que chegaram clicando na imagem acima.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Afinal era enxofre










Mais um episódio grotesco.
A empregada da limpeza encontra um frasco rachado no frigorífico da Faculdade de Farmácia. Não está com meias medidas, como cheira mal toca a lançá-lo para a rua no primeiro sítio que lhe apareceu.
A gestão dos reagentes e outros produtos químicos da Faculdade parece portanto, a julgar por este exemplo, estar a saque.
Depois, perante o mau cheiro que se espalhou, à porta da Faculdade de Farmácia circularam as mais fantasiosas hipóteses, chamou-se os bombeiros, acorreu a judiciária.
Ninguém se lembrou de pedir aos catedráticos da Faculdade de Farmácia que procedessem à identificação do produto ? Ninguém pensou que poderiam estar, aquelas instituições todas, a fazer uma figura triste ?

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Precariedades

Em tempos, quando ainda me conseguia escandalizar com os desperdícios do consumismo, pensei num estratagema para castigar os consumidores irreflectidos.

Os aparelhos, quando não fossem usados suficientemente, deixariam de funcionar; a máquina fotográfica imponente que só dispara no Natal, o bólide que só anda duas vezes por ano e a estereofonia que a televisão nunca deixa ouvir parariam simplesmente de funcionar.
Para os reactivar o proprietário teria que pagar uma taxa que revertia para um fundo qualquer com fins altruistas. A coisa não pegou.

A ópera/musical "Evil Machines", em cena no S. Luis, com libreto de Terry Jones e música de Luís Tinoco volta de certa forma ao mesmo tema mas mostra-nos o problema tal como ele é visto do lado das máquinas. Usadas e descartadas à mais pequena avaria. Vítimas da obsolescência programada.


Não é isso que acontece também com os homens ? De que se queixam então as máquinas ?
As máquinas revoltam-se e, na sua ingenuidade, chegam a planear a eliminação de toda a raça humana para se livrarem da opressão. Depois acabam por concluir que, sem as pessoas, as máquinas deixariam de fazer sentido. E acaba tudo em boa harmonia. Não sei se, no caso dos humanos, o problema será resolvido com a mesma facilidade.
Esta questão tem ressonâncias contraditórias para alguém que, como eu, teve as principais escolas no PCP e na IBM.


terça-feira, janeiro 15, 2008

Sabedoria

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Querido filho, estás a cometer no Iraque o mesmo erro
que eu cometi com a tua mãe: não retirei a tempo...

(autor desconhecido)

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Uma bela folha para colher ainda verde ?









O partido nacionalista Kuomintang (KMT) venceu as eleições parlamentares em Taiwan por uma ampla margem de acordo com os resultados divulgados no sábado.
O partido, que é favorável ao estreitamento das relações com a China, conseguiu 81 (72%) dos lugares no Parlamento.
O partido do governo, Democrático Progressista (DPP), obteve apenas 27 lugares (24%).
Eu tinha tido, já em Abril de 2006, um pressentimento acerca desta evolução.

domingo, janeiro 13, 2008

Não confundir os locais

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Não confundir a) com b)...
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sábado, janeiro 12, 2008

Ficções Estatísticas



Ao ler, recentemente, um texto de Eugénio Rosa sobre as pensões de reforma deparei com estes quadros que me provocaram uma sensação de incredulidade.

Como é possível que as pensões com valor inferior ao salário mínimo constituissem 85% dos casos ocorridos até 2005 ? Como podem 74% dos reformados no ano de 2005 ter pensões inferiores ao salário mínimo ? Só os muito pobres é que se reformam ? Tudo isto contraria o senso comum e a mera observação da sociedade em que vivemos.

Para obter uma pensão inferior aos 374,7 euros, que era o valor do salário mínimo em 2005, é preciso ter descontado sobre salários muito baixos, cuja ocorrência não afecta uma parte tão grande da população, ou então ter uma carreira contributiva muito curta.

Dei comigo a pensar em situações concretas que ajudassem a explicar este paradoxo:

- Empresários do comércio ou da indústria que, sendo embora proprietários das empresas de onde auferiam lucros, se declararam assalariados das mesmas (gerentes, directores, etc) com salários muito baixos. Em muitos casos aplicaram a mesma lógica ao conjuge que, na prática, era aquilo que se costuma designar por "doméstica".

- Tabalhadores por conta própria (artesãos, profissões liberais, prestadores de serviços, etc) que descontaram toda a vida como se ganhassem o salário mínimo independentemente do seu rendimento real.

- Imigrantes que descontaram apenas alguns anos em Portugal, tendo passado a maior parte das suas vidas a trabalhar no estrangeiro de onde recebem as suas verdadeiras pensões de reforma.

A lista não se pretende exaustiva mas, apesar disso, indicia algumas centenas de milhares de pensionistas que não são necessáriamente pobres e que, em muitos casos, passaram as suas vidas a "enganar" o sistema.

Deste tipo de estatísticas resulta uma percepção social do problema das pensões de reforma que corre o risco de estar distorcida. Eugénio Rosa afirma com base nos referidos quadros: "Portanto, pode-se com verdade afirmar que a esmagadora maioria dos pensionistas recebia pensões que os atiravam para uma situação de miséria".

Antes de fazer afirmações deste tipo conviria perceber quantos destes pensionistas que auferem menos do que um salário mínimo têm apenas esse rendimento e quantos vivem, realmente, dos rendimentos de bens (por exemplo imóveis) que acumularam ao longo da vida na medida em que se auto-dispensaram do sistema público.

Isto é especialmente importante quando se trata de desenhar políticas sociais pois o peso daqueles que não necessitam pode estar a inviabilizar medidas que muito beneficiariam os mais carenciados. Um bom exemplo deste inconveniente são precisamente as percentagens anuais de aumento das pensões de reforma.

Ao tratar todos estes pensionistas "por igual" está-se na prática a prejudicar aqueles que cumpriram as suas obrigações cívicas e são realmente pobres.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

Um Camelot du Roi à portuguesa


Fui assistir na quarta-feira ao doutoramento no ISCTE do jovem José Neves – a quem dou os parabéns – sobre o tema Comunismo e Nacionalismo em Portugal – Política, Cultura e História no Século XX. No final da sua dissertação afirmou que, com a sua tese, quis também escrever a história na perspectiva dos vencidos e citou, como contraponto à sua intenção, uma frase que tinha lido nesse dia e que atribuiu ao "historiador do Público": Luís Pacheco, recentemente falecido, tinha vivido entre duas ditaduras a de Salazar e a do PCP. Fiquei espantado, tinha lido naquele jornal os textos necrológicos que normalmente são reunidos quando alguma personalidade relevante morre e não tinha encontrado nada que se pudesse assemelhar a tão estranha, mas corrente afirmação.

Descobri que José Neves já tinha lido o Público desse dia e que frase era do historiador Rui Ramos, que semanalmente, às quartas, tem uma crónica naquele diário.

A frase, que depois encontrei, referia-se ao drama dos "jovens intelectuais" da "colheita literária de 1945" – Cesariny, O’Neil e outros, incluindo Luís Pacheco –, que "passaram os trinta anos seguintes a ser moídos entre a ditadura política do Estado Novo e a ditadura cultural do PCP". Ou seja, por outras palavras, confirmava-se o que eu tinha ouvido da boca do José Neves.

Já se sabe que para reforçar esta provocação o “historiador do Público” tinha que recorrer à bênção de algumas prestimosas figuras intelectuais: Eduardo Lourenço, que segundo o autor explica bem esta situação, ou então ao diário de Virgílio Ferreira ou à correspondência de Jorge de Sena. Os dois últimos estão mortos e não podem vir desmentir o que se lhes atribui. Provavelmente Virgílio Ferreira até concordaria, quanto a Jorge de Sena, tenho dúvidas. Em relação a Eduardo Lourenço considero-o probo de mais para aparecer misturado com este pequeno provocador de direita.

Mas analisemos a prosa deste camelot du roi de trazer por casa. Os trinta anos a seguir a 45, altura em que surgiu o surrealismo, que desalinhou com o "nacionalismo salazarista e o neo-realismo comunista", vão parar a 1975, o que só por manifesta ignorância se pode considerar como a época "colonizada por “antifascistas” e académicos, todos muito respeitáveis". Todos sabemos, os que vivemos aquela época, que em 75, vá lá nas vésperas do 25 de Abril, há muito que o neo-realismo como corrente literária tinha esgotado a sua capacidade de intervenção, e que se de facto os grandes escritores portugueses eram antifascista, o que deve desagradar muito a este corifeu da direita, a verdade é que novos caminhos literários e com outras problemáticas tinham surgido. Não falando do Virgílio Ferreira, temos, no entanto, o Cardoso Pires, o Augusto Abelaira, o Stau Monteiro, o Nuno de Bragança, o próprio Urbano Tavares Rodrigues, que estava longe de ser neo-realista. Ou gente que veio do surrealismo, como o Ernesto Sampaio, o Virgílio Martinho ou o Mário-Henrique Leiria, e depois, como o Luís Pacheco, se aproximaram do PCP.

É difícil a um historiador, que tinha meia dúzia de anos em 74 perceber este meio literário, cheio de pequenas intrigas, que tinha ódios de estimação, recordava memórias e picardias de há vinte ou trinta anos atrás. Mas uma coisa era certa não usufruíam das sinecuras, dos bons lugares, dos convites para a rádio e a televisão, não reforçavam de certeza o seu fim de mês com a prosa escrita para os jornais do regime. Por isso, para os bens instalados de hoje este meio pode parecer claustrofóbico, mas a única ditadura que havia era de Salazar, com a PIDE a vigiar os cafés e a fazer relatórios sobre o que aqueles “irados” diziam.

Mas depois desta prosa do Rui Ramos, o mais espantoso é lermos o Avante! desta semana, dedicando um longo texto ao Luís Pacheco, escritor e comunista, com um discurso do José Casanova, no seu enterro, lembrando que uma das condições que ele exigiu para se tornar membro do Partido, é que tivesse um enterro como o Ary, com bandeira do PCP e discurso.

Pode o Sr. Rui Ramos tentar recuperar para a sua ideologia o Luís Pacheco, o provocador dos grupos “nacionalistas e neo-realistas”, mas na sociedade dominada pela beatice e pelo respeitinho o Luís Pacheco tinha sempre que ser subversivo, coisa de que está longe ser o “historiador do Público”.

PS.: Camelots du Roi, grupo de provocadores católicos e monarquistas, adeptos da Action française, de Charles Maurras, que pontificavam entre as duas guerras e que participaram activamente nos motins provocados pela extrema-direita em França, no dia 6 de Julho de 1934.


Este texto foi publicado inicialmente em Trix-Nitrix, um novo blog que eu criei.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

O primeiro acidente em Alcochete

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Despenhou-se hoje, em Alcochete, o voo PS2005 alegadamente por erro humano. O piloto, já com dois anos de voo rasante, parece ter sido enganado por uma miragem como as que são habituais nos desertos; por causa da refracção os cidadãos apareciam-lhe como se fossem uma cambada de camelos.

Só depois de encontradas as urnas (normalmente designadas por caixas pretas), o que não deve acontecer antes de 2009, é que saberemos quais foram as causas e, principalmente, as consequências

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Estreia já no Sábado


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Não é bem um musical, não é bem uma ópera... preferimos chamar-lhe uma fantasia musical. A música, essa, é de Luís Tinoco, e a história saiu da pena de Terry Jones - sim, o lendário Monty Python - que também encenou esta aventura.
Batedeiras, telefones, motas, bombas de gasolina, fogões e despertadores, tudo fala e canta neste desvario cómico onde as máquinas se revoltam contra os humanos. No fim, claro, tudo acaba em bem, obra do amor... e de uma boa chávena de chá, pois então!
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quarta-feira, janeiro 09, 2008

SIM ao Referendo, mas outro !




Toda esta guerra acerca da ratificação do Tratado de Lisboa por referendo é simplesmente deplorável.
O Sócrates, como se viu hoje no Parlamento, recebe uma oportunidade para brilhar.
Os portugueses em geral estão-se nas tintas para o assunto, e Sócrates sabe-o, por várias razões:
- têm mais que fazer do que participar em votações pró-forma cujo resultado já se conhece antecipadamente.
- não acreditam que a campanha de tal referendo os viesse a esclarecer já que seria apenas mais um pretexto para dirimir as querelas partidárias habituais.

O que seria realmente interessante era fazer um referendo para consultar os portugueses sobre as várias medidas concretas que são apresentadas como de "inspiração europeia", a saber:

- a lei do tabaco tal como existe
- a fiscalização dos produtos alimentares pela ASAE da forma como é feita
- a proposta de limitar a 30 km/h a velocidade nas povoações e de encher o país de lombas e radares

Esse sim, seria um referendo interessante e talvez muito frequentado...
Não cairão daí abaixo.

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Uma luta que vale a pena...






Fico espantado com o activismo dos partidos da oposição no caso, ridículo, da distribuição dos aumentos das pensões em suaves prestações mensais. É uma coisa que, para o cidadão, roça o irrelevante.
Em contrapartida assiste-se calmamente a aumentos das pensões, abaixo da inflação real, que ameaçam os cada vez mais velhos com a miséria progressiva.
Muita gente desconhece que um diferencial de 1,5% entre a percentagem do aumento das pensões e a percentagem de inflação realmente verificada, durante 25 anos, supondo que se viva até aos 85 tendo-se reformado aos 60, reduz a pensão para 68% dos seu valor inicial em termos de poder de compra.
Isto é completamente inaceitável seja qual for o nível de rendimento do pensionista já que este fez uma poupança forçada (pelo Estado) durante a vida e agora está, pelo menos em teoria, a receber de volta aquilo que poupou.
Para este atentado contra os idosos tem sido usado o pretexto de existirem reformas muito altas obtidas de maneira pouco ortodoxa. Por exemplo os administradores do Banco de Portugal costumavam obter reformas excelentes ao fim de meia dúzia de anos de trabalho.
Se o problema é esse então apliquem as percentagens reduzidas aos pensionistas que não descontaram proporcionalmente às reformas que recebem.
Aos outros a sociedade tem a obrigação de lhes preservar o poder de compra à medida que envelhecem em vez de os empobrecer.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Os rendimentos dos dirigentes de empresas são desproporcionados em relação aos dos seus trabalhadores - Parte II

Acho que, por razões que se prendem com o aspecto gráfico e com a impossibilidade de corrigir os comentários inseridos, as intervenções relativas aos posts não são de fácil leitura, nem proporcionam uma discussão agradável. Sei que se pode dar a volta a isto clicando no cabeçalho do post e lendo os seus comentários como se fosse um texto corrido. Resta, no entanto, para quem os insere o problema de poder ir corrigindo o seu português, como vulgarmente faço em relação aos post que insiro.
Este intróito maçador visa unicamente justificar porque volto ao local do crime, ou seja, porque insisto num novo post sobre a Mensagem de Ano Novo de Cavaco Silva.
Depois de uma leitura mais atenta das intervenções do F. Penim Redondo (FPR), e para isso fiz aquilo que disse, transformei o post mais os seus comentários em texto corrido, reconheço que lhe respondi um pouco ao lado, apesar de achar que no fundo andamos mais ou menos a dizer o mesmo.
Assim, FPR diz que a parte da Mensagem relativa aos rendimentos desproporcionados dos dirigentes das empresas são mais morais e profissionais do que sociais, como me assaca, citando o último parágrafo do meu texto.
A verdade, é que a minha intenção ao escrever este post foi por um lado criticar as posições ultraliberais dos intervenientes de direita na Quadratura do Círculo e por outro, apresentar uma outra interpretação para aquela parte do discurso, ou seja, a consonância de Cavaco com o discurso da Igreja. Ora este é essencialmente moral: o excesso de dinheiro é uma forma de nos deixarmos tentar pelo Diabo. A que Ela junta igualmente preocupações sociais: os que têm muito devem ajudar os mais desfavorecidos.
Portanto, aquilo que eu referi como preocupações sociais, refere o FPR como morais, mas a ideia parece-me ser a mesma. Por outro lado, como ele sabe a Igreja oficial nunca foi anti-capitalista, por isso seria estultice nossa esperar que Cavaco condenasse os lucros dos accionistas.
Resta as motivações que FPR chamas profissionais. Os gestores estão a ganhar de mais para o trabalho que desempenham, no fundo ele confunde-os com os trabalhadores que estão sob as suas ordens, não passando, tal como estes, de simples assalariados. Ao contrário do que prometi pus-me a consultar a literatura disponível sobre o assunto e irei igualmente fazer um post sobre isso.
Mas antes voltaria a outra interpretação daquela passagem da Mensagem de Cavaco, que eu tinha já aflorado quando citei os argumentos de alguns dos intervenientes no Expresso da Meia-Noite e que hoje António Vitorino, no programa Notas Soltas, desenvolveu mais. Esta crítica aos rendimentos dos dirigentes das empresas começou a ser feita nos Estados Unidos, por causa de uma firma que foi à falência, e foi retomada recentemente pelo Governo alemão. Ou seja, não resulta de qualquer apreciação moral ou social mas sim de tornar mais transparente a gestão das empresas, de modo a que aqueles que compram as suas acções na bolsa tenham a informação clara sobre como as mesmas são geridas. Estamos pois perante um claro programa de melhoria de gestão do capitalismo. E isso também está expresso no meu texto, quando refiro que os nossos liberais de trazer por casa não compreendem estas exigências.
Portanto, apesar do FPR achar que eu me enleio na Mensagem do Cavaco Silva, descobrindo preocupações sociais onde ele julga que elas não existem, eu respondo-lhe que tudo aquilo que ele criticou estava já lá inserido, provavelmente de forma pouco visível.

Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe


O Público de 30 de Dezembro inseriu um texto de Manuel Gusmão intitulado "O desejo de futuro". O que pode parecer um facto trivial na verdade não o é, já que nem do PCP nem das pessoas a ele ligadas têm vindo, nos últimos anos, muitas referências ao futuro.

Manuel Gusmão faz do futuro o tema da sua dissertação mesmo que quase só para reivindicar o direito a tê-lo na medida em que o vai fazendo.
Tenta situar-se, demarcando-se, entre duas posições. Por um lado dos que defendem que "a experiência social e histórica disponível" secou a nossa capacidade de futurar e, por outro, da visão pós-moderna em que “a evolução das sociedades seria um processo de tal forma multivectorial e complexo que seria de facto incomensurável para a inteligência, a consciência e acção humanas".

É perigoso tentarmos definir-nos pela redução das ideias contrárias a um número finito de caricaturas pois nos intervalos germinam sempre múltiplas variantes e combinações delas. Exemplificando: a "experiência social e histórica disponível" parece mostrar que "as acções humanas são no limite inconsequentes ou, no mínimo, de fraca consequência, quando não perversamente contraproducentes" sempre que ignoram ou menosprezam certos constrangimentos e teimosias do passado. O curso da história pode e deve ser moldado pelos humanos mas isso não significa que todos os futuros sejam possíveis em qualquer lugar e em qualquer tempo.

Um irreprimível optimismo da vontade, que roça o acto de fé, toma conta de Manuel Gusmão em afirmações como "ora nós precisamos do futuro como do ar que respiramos", "o trabalho da esperança que magoa ensina-nos que o que foi possível, e logo derrotado, será possível (de outra forma) outra vez" ou ainda "não somos adivinhos, nem sabemos rigorosamente prever qual será o rosto do futuro, mas isso não nos impede de o desejar". Nestes enunciados sente-se que quando fala de futuro, MG está sim a falar do regresso futuro das suas convicções, como quem pensa torná-las mais prováveis por afirmar que nelas acredita. Como se o futuro fosse um terno retorno.

Ora o povo costuma dizer que o futuro a Deus pertence, numa atitude de prudência que a história lhe ensinou sem ele saber. Mas a perplexidade sobre o futuro é ainda mais forte neste nosso “fim do tempo” e abre campo a todos os catastrofismos, que não se limitam já a equacionar o desmoronamento da nossa civilização pois vão ao ponto de admitir o desaparecimento da espécie. Perante isto o optimismo tem que ser de uma outra natureza.

Eu teria preferido que MG privilegiasse e desenvolvesse a sua outra linha argumentativa como quando diz "E contudo tudo se transforma. Transforma-se o mundo em nós e fora de nós. E da mudança dos tempos e das vontades, nós participamos. Não como animais caminhando para o abate, nem como demiurgos incondicionados. Mas como agentes procurando o máximo de consciência possível, estendendo as mãos e tacteando os possíveis; fazendo de acordo com os tempos a vinda de um outro tempo".

Para tal abordagem ser mais do que um anseio difuso tem que aceitar o desafio dos prognósticos. Não lhe pode bastar, como tem bastado, "tatear os possíveis" já que estes estão ao alcance da mão. Deve meter as mãos na terra em busca do que vai nascer sem descartar os sinais do imprevisto e do impensável.

Quando damos o primeiro passo já estamos a escolher um dos 360 graus da circunferência à nossa volta, se não quisermos fazê-lo na lógica da roleta.
Nesse sentido escolher o azimute do futuro é não só imprescindível como inevitável. Mesmo quando erramos na escolha.
O facto de os navegantes a certo ponto corrigirem o rumo não significa que não tivessem um quando iniciaram a viagem.

A resposta aos que dizem "será sempre assim, porque sempre assim foi" não é que podemos "sem mais garantias, prometer um futuro, uma terra sem amos" mas sim que "não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe".

domingo, janeiro 06, 2008

Tiro o chapéu a VPV

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(clique na imagem para ampliar)

Impressiona a unanimidade que se gerou contra as moscambilhas do BCP e da CGD; Pacheco Pereira, António Barreto, Miguel Sousa Tavares, Saarsfield Cabral, Vasco Pulido Valente, e muitos outros.
Os principais influenciadores de opinião desancaram as manobras de accionistas, administradores e ministros.
Vai ser curioso observar o desfecho desta luta entre a opinião pública e a desfaçatez dos poderosos.

Os rendimentos dos dirigentes de empresas são desproporcionados em relação aos dos seus trabalhadores

Na sua Mensagem de Ano Novo, Cavaco Silva resolveu interrogar-se “sobre se os rendimentos auferidos por altos dirigentes de empresas não serão, muitas vezes, injustificados e desproporcionados, face aos salários médios dos seus trabalhadores”.

Foi, sem dúvida, o assunto mais falado da sua comunicação, até porque num discurso cinzento e de meias palavras, foi aquilo que sobressaiu como mais explícito. Assim, e sem referir os múltiplos comentários que foram escritos na imprensa, destacaria os dois programas da SIC Notícias que lhe fizeram pormenorizadas referências: Quadratura do Círculo e Expresso da Meia-Noite.
O primeiro constituído por um grupo de comentadores, todos a puxar para o mesmo lado, referiu-se lhe criticamente, o segundo mais matizado, prestou, quanto a mim, até algumas informações úteis.

Mas passemos aos factos. Na Quadratura do Círculo, António Lobo Xavier, claramente o representante do grande capital e da alta finança, foi muito crítico sobre aquela passagem. Achava que o Presidente da República não tinha nada a ver com isso. E na sequência de intervenções anteriores do mesmo jaez, achou que na vida privada das empresas ninguém se devia meter. Elas são donas e senhoras daquilo que administram. Foi o mesmo personagem que no caso da menina Esmeralda se insurgiu contras as críticas que foram feitas ao Tribunal, que decidiu que aquela deveria ser entregue rapidamente ao pai biológico, sem ter em conta os problemas psicológicos e afectivos que essa decisão iria causar na pequena. Considerou que o Sargento, o pai afectivo, era um raptor e que não havia pais biológicos, havia unicamente pais. Revelando uma insensibilidade típica das gentes bem nascidas, que consideram que têm desde a nascença direito de pernada sobre o comum dos mortais. E isso tanto se aplica aos filhos como às empresas que administram ou de que são consultores.

Pacheco Pereira, mais político, não se indigna tanto com as palavras do Presidente da República, mas considera que elas traduzem a posição ideológica de Cavaco Silva, que não se consegue libertar totalmente da tralha do Estado Social, que para Pacheco Pereira é a raiz de todos os males e a causa do empobrecimento da Nação. E apesar destas afirmações, que são ridículas aplicadas a este Governo, nunca vi Jorge Coelho fazer o mais pequeno esforço para se demarcar delas.

Por fim, este último, usando uma daquelas tiradas demagógicas, que são apanágio do PS, diz que o que está mal é haver tantos a ganharem tão pouco e não os ordenados chorudos dos administradores. Ou seja, neste caso, porque lhe convém, para não destoar dos seus companheiros de debate, quer nivelar por cima, ao contrário dos seus camaradas de Partido e de Governo, que no dia a dia vão nivelando por baixo, afirmando sempre que os que têm umas migalhitas a mais são uns privilegiados e que há pôr todos por igual.

Quanto ao Expresso da Meia-Noite a corrente era outra. Excepto Inês Serras Lopes que no princípio, ainda embalada pela opinião de vários comentadores de direita, criticou aquelas palavras do Presidente da República, todos os outros, apesar de terem posições ideológicas diferentes, se manifestaram favoravelmente em relação a elas. Afirmando, com conhecimento de causa, que este assunto está a ser debatido noutros países.
Na Alemanha, por exemplo, a chanceler pretende até legislar sobre o assunto. Nos EUA é também objecto de discussão. Por outro lado, as empresas cotadas na bolsa devem fornecer o vencimento dos seus dirigentes, dado que quanto maiores eles forem menores serão os lucros dos seus accionistas. Ou seja, traçaram um perspectiva sobre o assunto que foge á tradicional reflexão dos nossos liberais de trazer por casa, que quando se critica a sacrossanta propriedade privada e a gestão das suas empresas, aqui D’el-rei que estão a limitar a liberdade dos patrões.

Por outro lado, chegou-se a insinuar que as palavras de Cavaco Silva se referiam aos ordenados desmedidos dos administradores do BCI, agora que começaram a ser conhecidas as trapaças que aqueles cometeram.

Quanto a mim, aquelas afirmações de Cavaco Silva, que, ao contrário do que alguns têm dito, não se converteu à esquerda, vêm na linha, não da social-democracia, de que alguns dizem que Cavaco Silva é um lídimo representante, mas sim do ensinamento social da Igreja, que sempre achou que a riqueza desmedida de alguns, é uma ofensa a Deus e os pobrezinhos” e que os que muito têm devem ajudar os que menos têm e isso se pode desde logo aplicar às empresas que administram.

Reconhecendo que este discurso não resolve nada, tem pelo menos o mérito de opor ao neo-liberalismo vigente, algumas preocupações socais, que hoje estão completamente ausentes do discurso dominante.

sábado, janeiro 05, 2008

PIN UP Girl




"Call Girl", o filme de António Pedro de Vasconcelos, não adianta muito sobre os esquemas de influências, chantagens e negócios à custa do espaço público, embora deva reconhecer-se que os ambientes e as situações são bem recriados e os actores muito credíveis nos seus personagens, com destaque para o consagrado Nicolau Breyner e para a bela Soraia Chaves.
A prostituta de luxo que corrompe um autarca bonacheirão chega a ser uma figura intrigante no seu mecanicismo fingido.
O Senhor Presidente da Câmara de Vilanova mostra bem como uns vagos idealismos preservacionistas são impotentes contra a força avassaladora dos PINs.
Muitos PINs, Projectos de Interesse Nacional, conceito lançado e promovido por Sócrates, desestabilizam hoje o sonolento país real prometendo mundos e fundos às cavalitas dos omnipresentes campos de golfe.
Confesso que me escapa o interesse despertado pelo golfe; se alguém quer deambular pelo campo porque não o faz por entre chaparros e prefere uma versão de relvado pechisbeque para o fazer ?
A traulitada na bola não seria bem mais saborosa se arrancasse polens das gramíneas selvagens e tivesse como objectivo acertar num vetusto sobreiro em vez de decorrer num simulacro campestre cuja manutenção dá uma trabalheira e gasta imensa água ?
Enfim, os gostos não se discutem...
Voltando ao filme eu diria que o mais interessante é, precisamente, trazer para a ribalta uma versão mais realista da sigla PIN: Putas, Influências e Negociatas.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Vai ser preciso aumentar os horários de trabalho...



"Deixar o posto de trabalho para ir à rua fumar um cigarro pode implicar a perda de 18 minutos de tempo útil de laboração, pelo que a aplicação das medidas antitabágicas nas empresas deve ser feita com "bom senso", defende o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP). De outra forma, diz Francisco Van Zeller, a produtividade será "sensivelmente afectada", sobretudo nos primeiros tempos da proibição do tabaco. Um estudo feito em Espanha - onde a lei é menos restritiva -, lembra, concluiu que estas "ausências" podem atingir quase meia hora, se se considerar que, após regressar ao seu posto, o colaborador não retoma imediatamente o que estava a fazer. E que, antes de ir à rua, já está desconcentrado a pensar no vício. "
JN, 23 Dezembro 2007.
A trinta minutos por cigarro as 8 horas diárias só dão para 16 cigarros. É bom não esquecer que há milhares de trabalhadores habituados a fumar um maço. Precisam pelo menos de mais duas horas por dia.
Sugiro as horas extraordinárias...

Novas oportunidades


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MAKE LOVE NOT SMOKE.
Eles reconverteram-se aos apelos do Governo para o aumento da natalidade.


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quinta-feira, janeiro 03, 2008

Ninguém "segura" este PS!




Na actual epidemia de promiscuidade entre Estado e Sector Privado, o "imbróglio" BCP/OpusDei/CGD/Maçonaria/PS/Governo, monopolisou de tal modo as atenções que fez passar despercebida uma outra pérola da ingerência: o Governo decidiu impôr tectos aos valores das indemnizações que as Seguradoras podem pagar!!!!!
Desenganem-se os que acreditavam que ao fazerem um Seguro estabeleciam livremente um contrato com uma empresa e portanto se presumia que os termos e montantes desse contrato eram exequíveis para ambas as partes.
A vigilãncia omnipresente do Estado lá está para proteger...os mais fracos(?). Neste caso as seguradoras que precisam de aumentar os seus lucros.
Curiosamente, a "explicação" avançada pelo Governo vem na linha do "fundamentalismo higienista" que há-de corrigir os nossos maus hábitos desde a cozinha ao confessionário: impedir que alguns segurados oportunistas se aboletem com "chorudas" indemnizações só porque perderam o pai e a mãe num acidente!
É caso para dizer "Depois da ASAE. o Dilúvio".

terça-feira, janeiro 01, 2008

2008


Iniciamos 2008 protegidos, legalmente, de nós mesmos. Filhos de uma Europa e de uma civilização em decadência que abominam qualquer diferença e qualquer risco.
O catastrofismo alastra como é próprio destas fases. Multiplicam-se os filmes da "lenda-sou-eu no dia-depois-de-amanhã".
O tabaco, os acidentes de viação, a obesidade, os fogos florestais e os restaurantes imundos da ASAE mais as crianças abusadas, raptadas ou mal distribuídas prenunciam o apocalipse.
E é tudo culpa nossa e dos nossos vícios como já dizia o padre Malagrida depois do terramoto.
O aquecimento global, o embrutecimento geral e o rebentamento tribal ameaçam a sobrevivência da espécie humana.
É caso para perguntar se, mal comportados como somos, merecemos melhor sorte.