quarta-feira, janeiro 31, 2007

O Mapa do Aborto









(fonte: Revista Veja)

Reflexões sobre o Referendo II - A Concepção Nazi do “Não”


Têm alguns defensores do “não” defendido que, devido à cada vez menor taxa de natalidade, não tem sentido, neste momento, vir, segundo eles, facilitar a IVG, pois estaríamos a contribuir para a diminuição daquela taxa e em último caso a agravar o défice da Segurança Social, pois quantos menos novos trabalhadores entrarem no mercado de trabalho, menores recursos haverá para pagar aos que se irão reformar. Este argumento é mesmo apresentado até à exaustão, com outros exemplos de igual jaez.
Matilde de Sousa Franco, no debate que se realizou no dia 30 na SIC Notícias, chegou mesmo a afirmar que o aparecimento da legislação liberalizadora da IVG que foi aprovada no pós-guerra na grande maioria dos países da Europa Ocidental (empregou mesmo o termo”moda”) teve a ver com a crença dos economistas de que haveria, dado o “baby-boom” que se verificou a seguir àquele conflito, um acréscimo de população e que por isso era necessário fomentar a diminuição de partos. Hoje, como isso não se verifica, seria uma prova de grande civilização (termos da autora) fomentar novamente novos nascimentos. É evidente que esta afirmação não é verdadeira, porque a maioria das legislações europeias sobre a IVG vêm dos anos 70 e 80, quando a situação de taxa de natalidade elevada já não se verificava.
Mas, o que é mais espantoso nas afirmações dos defensores do “não”, é que sem se aperceberem estão a introduzir nas suas ditas reflexões humanistas a problemática aterradora do Estado forçar, pela penalização das mulheres que abortam, o aumento do número de nascituros. No fundo, consideram, tal como os nazis que incitavam as mulheres alemãs a terem mais filhos para lutarem pela Nação, que a função da mulher é ser poedeira para garantir aos mais velhos uma reforma tranquila.
Penso que o “sim”, ao não desmontar esta armadilha e ao não acusar de nazis os defensores de tais ideias, se tem colocado, quanto mim, numa posição defensiva.
Seria importante, com a divulgação das medidas nazis para implementar a natalidade das alemãs de raça pura, confrontar estas “senhoras”, que tão pressurosamente nos vêm recordar que as nossas reformas estão em causa se votarmos “sim”, com os ideais do nacional-socialismo.

Reflexões sobre o referendo I - A IVG e a Maternidade Consciente

Dado a derrota que tinham sofrido no último referendo sobre a IVG (interrupção voluntária da gravidez) decidiram agora os movimentos do sim concentrar todas as suas atenções em duas questões que, segundo o seu ponto de vista, são as que estão em causa neste novo referendo. A primeira é que a mulher não pode ser criminalizada por ter praticado um aborto até às 10 semanas e a segunda é que este deve ser feito em estabelecimentos legalmente autorizados e não em clínicas de vão de escada.
Estamos aqui perante o politicamente correcto, ninguém foge ao tema e todos, com pequenas variantes, defendem o mesmo ponto de vista. Nenhuma mulher, ao contrário do que afirma Henrique Monteiro (do Expresso), voltou a defender que no seu corpo manda ela e as fotografias, que tanto escandalizaram no referendo anterior, de duas ou três mulheres em que aquelas palavras apareciam escritas nas suas barrigas, só têm voltado a ser publicadas por aqueles que querem contrapor ao destempero do não o radicalismo do sim.
Ora eu penso, que sendo verdades indesmentíveis as questões levantada pelo “sim”, aquilo que verdadeiramente está em causa na discussão sobre a IVG é a liberdade de opção da mulher, não para garantir que no seu corpo manda ela, mas se deseja ou não ter o filho que trás no ventre. Ninguém pode obrigar uma mulher a ser mãe do filho que, pelos motivos mais variados, não quer ter. A maternidade, mais até do que a paternidade, deve resultar de uma opção consciente da mulher. Só os filhos desejados é que são amados. Tudo o mais é terrorismo da Igreja e das suas concepções fundamentalistas sobre o que é a vida. Hoje a Igreja Católica com as suas opções doutrinárias extremamente sectárias, que por estranho que pareçam andam sempre à volta da sexualidade, está levando os católicos para becos sem saída e forçando-os a posições cada vez mais isoladas nas sociedades contemporâneas. Hoje, ao contrário do que diz o Cardeal Patriarca de Lisboa, as opções civilizacionais centram-se na liberdade de opção por uma maternidade consciente e não na defesa dessa concepção metafísica de que a “vida humana” se estende desde a concepção (junção do espermatozóide com o óvulo) até ao nascimento do novo ser.

domingo, janeiro 28, 2007

Depoimento de Jorge Sampaio sobre o referendo


Lido no encontro Eurodeputad@s pelo SIM, em 28/1/2007

No próximo referendo, o que está em causa é um problema de política criminal do Estado democrático. Ou seja, trata-se, em primeira linha, de um problema de Código Penal, um problema de previsão e definição de crimes e de penas.

O que sucede, é que as normas penais em vigor consideram que, salvo algumas excepções já previstas, uma mulher que interrompa voluntariamente uma gravidez até às dez semanas num estabelecimento hospitalar está a cometer um crime e, como tal, deve ser perseguida, condenada e enviada eventualmente para a prisão.

Mas há alguém que no século XXI e na Europa possa conscientemente pretender que, numa sociedade com os nossos valores, a nossa cultura, os nossos princípios e as nossas práticas sociais, uma mulher que interrompa a gravidez naquelas circunstâncias tão precisas e delimitadas é, por esse facto, uma criminosa e que o Estado a deve perseguir penalmente, a deve julgar, a deve condenar e eventualmente enviar para a prisão?

Todavia, é isto que o nosso Código penal, salvaguardadas as excepções já previstas, ainda hoje faz. Por isso é que as normas penais actualmente em vigor nos deixam, a propósito, isolados na Europa a que pertencemos e dão do Estado português, a propósito, a ideia de um Estado retrógrado, injusto, cruel e desumano.

Por demasiadas vezes esta questão tem sido distorcida, procurando-se deixar subrepticiamente a impressão de que aquilo que se coloca à apreciação e decisão dos cidadãos é algo completamente diferente.

Mas não se trata de qualquer discussão complexa e interminável sobre o sentido da vida, sobre o início da vida humana, sobre a natureza da vida intra-uterina, sobre a existência ou inexistência, a propósito, de pretensos ou reais conflitos entre direitos humanos ou direitos fundamentais.

Sobre cada uma destas questões, todas respeitáveis e dignas de discussão, cada um de nós já formou, ou virá a formar, as suas próprias dúvidas ou convicções, as suas próprias opiniões ou sentimentos pessoais de natureza moral, filosófica, religiosa ou política. Esse é um problema de cada pessoa ou de cada grupo particular, constituindo uma zona de reserva íntima ou de convicção pessoal que o Estado de Direito democrático não deve invadir.

Não cabe ao Estado democrático aderir, professar ou defender, a propósito, uma singular ou particular concepção moral, filosófica, ou religiosa. Nem, consequentemente, cabe ao Estado democrático inquirir os cidadãos sobre as concepções que cada um sustenta neste domínio.

Portanto, e definitivamente, por mais que alguns pretendam continuar a confundir, manipular e distorcer sobre o que está em causa neste referendo, que fique claro que não é nada disto que se trata.

Por isso nesta consulta popular a única questão a decidir é saber se, sim ou não, uma mulher que interrompa voluntariamente a gravidez nas primeiras dez semanas em estabelecimento autorizado deve ou não ser penalmente perseguida, julgada, condenada e eventualmente enviada para a prisão. SIM ou NÃO!

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Senhora dos Prazeres



No passado sábado teve lugar em Beja mais um concerto da série TERRAS SEM SOMBRA, de que já aqui falámos.

João Paulo Janeiro interpretou músicaIbérica do Maneirismo ao Pós-Barroco, em cravo e clavicórdio.

O concerto decorreu na recém restaurada igreja da Nossa Senhora dos Prazeres cujo delicioso tecto podem ver a encimar este "post".

quinta-feira, janeiro 25, 2007

PORQUE SIM !

Movimento Cidadania e Responsabilidade pelo SIM

Rua Duque de Palmela, nº 2, 3º

1250-098Lisboa

Tlm. 962546007

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Para memória futura

Passado um ano sobre a eleição de Cavaco Silva, que não apoiei e em quem não votei, não resisto a fazer uma breve súmula de intervenções dos quatro "candidatos da esquerda".

Para quê ?

Talvez eu ainda não me tenha conformado com a falta de seriedade nascida da falta de ideias, talvez eu ainda acredite que a esquerda devia mesmo exibir uma forma qualquer de "superioridade moral", talvez eu ainda não tenha desistido de ter esperança numa nova vaga mesmo nova ...






Mário Soares apresentou ontem o seu programa eleitoral, começando por se demarcar, contra os que, por "messianismo revanchista" da direita, "reclamam abertamente a subversão do regime constitucional". Soares defendeu que o regime semipresidencial "não está esgotado", ainda que possa ser "aperfeiçoado e aprofundado". Foi neste quadro de estabilidade de regime que Soares afirmou o que quer quanto à outra estabilidade, a política. Para, aqui, marcar uma diferença em relação àquele que pareceu eleger, ao longo da intervenção, como principal adversário: Cavaco Silva. Porque, disse Soares, quer "estabilidade política e concertação social" e uma "modernização feita sem convulsões". Ou seja, "estabilidade, mas não a qualquer preço".

Mário Soares, DN 26/10/2005

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Confrontado com declarações suas em que chamava a atenção para os riscos que uma vitória de Cavaco traria para o regime político, Alegre desdramatizou esses riscos - "Acho que ele [Cavaco] se vai portar bem" - e insurgiu-se contra o que chamou de "diabolização" do adversário social-democrata, que considerou "uma pessoa séria e íntregra, mas crispado, que tende a crispar a vida política" e que "tem uma tendência para se cingir apenas aos problemas económicos". No entanto, Alegre acabaria por reconhecer que "se ele [Cavaco] for eleito, e com certo tipo de apoiantes que tem (...), pode haver alguma tentação presidencialista".

Manuel Alegre, DN 08/11/2005

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O candidato presidencial apoiado pelo PS lembrou que já esteve no estrangeiro em contacto com comunidades portuguesas, e constatou que agora também Cavaco vai estar fora do País, "o que lhe permite continuar numa posição de não fazer pré-campanha. É uma posição que lhe agrada certamente, mas vai-se tornando uma espécie de candidato-esfinge".

Mário Soares, DN 11/11/2005

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"A democracia pode ser empobrecida e mutilada, caso se verifique uma vitória de Cavaco com estes apoios." Os apoios a que o líder comunista e candidato presidencial do PCP se referia são os "grandes grupos económicos", nomeadamente banqueiros, que apoiam o antigo governante.

"Torna-se cada vez mais claro o seu projecto de uso da Presidência da República para uma intervenção executiva ao arrepio dos limites constitucionais", disse. O líder explicou mesmo que esta candidatura foi "encenada e preparada (...) pelos sectores mais à direita da sociedade." E irónico "Creio que a decisão de se candidatar não foi tomada, na sua casa, com a família. "

Jerónimo de Sousa, DN 12/11/2005

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"Dou a voz a Cavaco Silva, que ele agora não quer falar 'Como é que nos vemos livres deles? Reformá-los não resolve o problema, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e, portanto, diminuiu também a receita do IRS. Só resta esperar que acabem por morrer.' Cavaco Silva, 2 de Março de 2002." A citação do antigo governante, numa conferência na Faculdade de Economia do Porto, foi feita com ênfase por Louçã. Que, no seu discurso, haveria de repetir até à exaustão o "deixá-los morrer" como a solução preconizada pelo "candidato da direita" para o problema da função pública. A plateia, onde se sentavam cerca de uma centena de apoiantes, reagiu ao nome do ex- -primeiro-ministro com apupos e assobios.

Francisco Louçã, DN 13/11/2005

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"Não dormirei descansado com uma vitória de Cavaco Silva", disse ontem, no Funchal, Jerónimo de Sousa horas antes de se reunir num jantar com apoiantes da sua candidatura.
...
O que preocupa o PCP "são as dinâmicas e os apoios do grande capital financeiro, especulativo e imobiliário, reunidos em torno de Cavaco Silva e que comportam objectivos que colidem com o actual projecto constitucional", designadamente, "sectores ultra neo-liberais" que poderão "condicionar e conduzir Cavaco Silva para uma intervenção que não corresponde àquilo que a nossa Constituição refere".

Jerónimo de Sousa, DN 19/11/2005

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Jerónimo de Sousa foi ontem ao Alentejo tentar convencer a população de Mora de que Cavaco Silva "não pode" chegar a Presidente da República, sob pena da sua eleição "desvalorizar, empobrecer e mutilar" a Constituição portuguesa, como alegadamente pretende "o grande capital" que apoia o candidato da direita a Belém.

Jerónimo de Sousa, DN 20/11/2005

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Jerónimo de Sousa acusou a direita de querer apropriar-se da Presidência da República através da candidatura de Cavaco Silva. Num almoço, ontem, com centenas de apoiantes no Bairro Alentejano, concelho de Palmela, o candidato do PCP afirmou que "a direita política e dos interesses económicos joga na vitória da candidatura de Cavaco Silva a possibilidade de, finalmente, fazer um ajuste de contas com o que resta de Abril, com o que resta de transformação e realização de Abril".
Jerónimo de Sousa, DN 21/11/2005

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Curiosamente, viria a congratular-se com a reacção do candidato apoiado pela CDU, sublinhando que Jerónimo de Sousa tem "toda a razão", quando diz que "ele e os trabalhadores não dormirão descansados, porque se lembravam do que aconteceu no passado. Eu também não dormirei e quero dizer aqui que estou de acordo com ele", sublinhou, ouvindo um dos aplausos mais efusivos da tarde, superado apenas pelo momento em que se mostrou convicto da vitória nas eleições.Soares começou por desvalorizar as sondagens, revelando não se preocupar "com as boas, nem com as menos boas". Disse que continua no seu caminho, alegando que quem vai elegê-lo "é o povo português e não as sondagens, nem a comunicação social". Mais à frente, Soares fez uma confidência - assim a adjectivou - aos jovens presentes, "para ficar entre nós e para dizerem aos vossos amigos. É que sem dúvida, eu não tenho dúvida nenhuma que vou ganhar esta eleição e que vou voltar a ser Presidente da República de Portugal."

Mário Soraes, DN 24/11/2005

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Soares considera que Cavaco Silva é um "homem com talento e grande conhecimento das coisas económicas", mas falta-lhe "sensibilidade social para defender os direitos, garantias e liberdades dos portugueses num momento em que isso possa estar em causa". Lembrou a propósito que, quando Presidente da República, ouviu de Cavaco queixas contra uma greve geral que então qualificava como "força de bloqueio", para frisar que, já nessa altura, teve que alertar o ex-chefe do Governo para o facto de a greve ser um direito constitucional.

Mário Soraes, DN 26/11/2005

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O candidato a Presidente da República Manuel Alegre desafiou ontem Cavaco Silva a explicar o que entende por "cooperação estratégica", acusando-o de, quando foi primeiro-ministro, ter "investido na teoria das forças do bloqueio". "Quando foi primeiro-ministro investiu na teoria das forças de bloqueio e hoje defende uma coisa estranha, a 'cooperação estratégica'", afirmou em Coimbra. Ao discursar durante um almoço com apoiantes, Manuel Alegre sublinhou que deve haver "uma cooperação institucional" entre os órgãos de soberania e que o Presidente da República "é o comandante supremo das Forças Armadas e não o comandante supremo do regime".

Manuel Alegre, DN 27/11/2005

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O candidato presidencial Jerónimo de Sousa exortou ontem os seus apoiantes a concentrarem-se na primeira volta e comparou o seu concorrente Cavaco Silva ao "macaco sábio, que não vê, não ouve e não fala" mas tira partido do silêncio.

Jerónimo de Sousa, DN 28/11/2005

sábado, janeiro 20, 2007

Exposição em Sines



A exposição fotográfica "naCHIna 2006" está em Sines, até ao dia 4 de Fevereiro, na

quinta-feira, janeiro 18, 2007

O acto sexual é para ter filhos


Agora que temos novo referendo sobre a IVG aí vai o poema de Natália Correia para recordarmos...
«O acto sexual é para ter filhos» - disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado num debate sobre a legalização do aborto.
A resposta de Natália Correia, em poema - publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano - fez rir todas as bancadas parlamentares, sem excepção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:


Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.


( Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Um ano passa num instante



Um Ano de fotografias de Sérgio Redondo, em exposição na "Trem Azul Jazz Store", até ao fim de Janeiro. Vale bem a pena ir à Rua do Alecrim 21A, em Lisboa.

domingo, janeiro 14, 2007

Apocalisto



Em má hora resolvi ver o filme de Mel Gibson.

Cedi à tentação porque acabara de regressar da América do Sul e também por curiosidade.

Apocalypto é obra de um mentecapto que nos quer pregar moral defendendo, sem nunca demonstrar, que a destruição da civilização Maia e a colonização que se seguiu foram a consequência da sua própria decadência. Esta "ideia" não é de forma alguma explorada no filme limitando-se a constar de uma legenda introdutória.

Trata-se de uma tese reaccionária que culpabiliza os colonizados por o serem e que ignora todas as outras facetas, tecnológicas e outras, que explicam a supremacia militar.

Como se tal não bastasse o homem parece ter querido fazer um mostruário de lugares comuns: lá está o oportuno eclipse e também a fuga através da cascata que enxameiam todos os "filmes de acção" passados naquelas paragens.

A violência constante é tão excessiva quanto ridícula. E, segundo dizem, o ridículo mata mais do que qualquer outra coisa...

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Já me esquecia do Sassetti



Antes de partir para a Patagónia fui ver o espectáculo e fartei-me de ouvir o disco (que é excelente). Agora fui dar com uma crítica de João Carneiro, no Expresso, que corresponde exactamente à minha opinião sobre o espectáculo. Aqui vai:

"Mais ambicioso, do ponto de vista da estrutura e da forma, é o espectáculo de Bernardo Sassetti, Unreal - Sidewalk Cartoon, apresentado no São Luiz, entre 14 e 23 de Dezembro. A música, de Bernardo Sassetti, alterna secções essencialmente tímbricas e rítmicas com secções essencialmente melódicas, é correctamente concebida e, principalmente, irrepreensivelmente executada pelo compositor, ao piano, pelo grupo Drumming, de Miguel Bernat, e por mais alguns músicos. Há também uma narrativa, de carácter surrealizante e absurdo, sem chegar a ser nada destas coisas, sobre uma epopeia irónica e cómica para desenvolver um plano de carácter musical junto de massas trabalhadoras, e é aqui que as coisas começam a resvalar. A narrativa parte de um livro escrito por Bernardo Sassetti e é cenicamente realizada em voz «off» e em filme de animação. As imagens são interessantes e cuidadas, mas os filmes são longos e o texto é pobre e pretensioso. Pior, esta dimensão ficcional é acompanhada por uma espécie de teatralização em que alguns dos músicos, mas principalmente Bernardo Sassetti, intervêm, contando ainda com a participação de Beatriz Batarda (em Lisboa). O resultado é parecido com o constrangimento que sentimos quando vemos pessoas fazer em público brincadeiras que nunca deveriam ter saído da mais estrita privacidade;geralmente, e para bem de todos, fazemos de conta que aquilo não aconteceu."

terça-feira, janeiro 09, 2007

Até amanhã


Passei o dia em Santiago do Chile, preparando-me para regressar já amanhã.

De manhã assisti a uma cerimónia de render da guarda e fiquei com a sensação de que o Chile é um pouco esquizofrénico, oscilando entre o espírito libertário e a influência das disciplinas germânicas. Esta não será uma observação muito original mas a verdade é que fiquei impressionado.

Almocei no Mercado Central e aproveitei para comparar os peixes deles com os nossos. Por enquanto ainda nao encontrei nenhum país com mercados de peixe melhores do que os nossos.

Antes de me arrastar até ao hotel passei pelo Museu Chileno de Arte Precolombina . Fiquei maravilhado.



Até já.

domingo, janeiro 07, 2007

O cabo dos trabalhos



Terminei hoje uma viagem de 3 dias, num navio, pelo sul da Patagónia que culminou no lendário Cabo Horn debaixo de uma tempestade.

Trata-se de uma região grandiosa com inumeras ilhas, canais, fiordes e glaciares.

Fico optimista quando vejo estas vastidões ainda não degradadas pelo homem. Felizmente uma parte muito grande da América do Sul ainda esta bastante preservada e constitui uma enorme reserva de recursos.

Em pleno estreito de Magalhães ainda é possivel visitar uma ilha com milhares de ninhos de pinguins.

Num outro plano constata-se a fragilidade do cimento social destas sociedades da Argentina e do Chile, por exemplo.
O nacionalismo não tem o lastro do tempo e os heróis fundadores padecem de um certo ridículo.
Torna-se patente que uns quantos usaram as lutas da independência como pretexto para abocanhar quantidades gigantescas de terra, e de outras riquezas.

Puerto Natales, Chile

quarta-feira, janeiro 03, 2007

A cidade mais ao Sul do Mundo




E cá estamos nós na cidade de Ushuaia a 1000 kilometros apenas da Antártida. Ushuaia é a cidade mais ao Sul em todo o mundo (é difícil pensar que estamos a sul da Austrália).

Acabo de encher a barriga de santola e acho que esta cidade, embora caótica do ponto de vista urbanístico, é demasiado normal para aquilo que eu imaginava nestas latitudes.

A cidade está na margem do Canal Beagle (o nome do navio de Darwin) e já ao Sul do Estreito de Magalhães.

Amanha embarcaremos num cruzeiro que nos levará ainda mais perto do cabo Horn.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Reveillon Austral




Ontem festejámos a passagem do Ano em Calafate, 3 horas de avião a sul de Buenos Aires. Ao grupo da excursão até se juntaram dois japoneses entusiamados mas quase incompreensíveis que meneavam os sambas aplicadamente.

Calafate é uma pequeníssima e colorida povoação que cheira a "far west", improvisando e explodindo ao ritmo dos fluxos turísticos que se dirigem ao glaciares andinos.

Hoje fomos ao espantoso glaciar Perito Moreno e andámos de barco junto à parede de gelo com 50 metros de altura e 2000 de comprimento. O gelo parecia iluminado, de azul, por dentro. Absolutamente fantástico.

Ainda bem que Calafate é tão remoto pois se assim não fosse teríamos ordas de turistas poluindo a majestade do lugar.