domingo, julho 31, 2005

Descobrir Josef Koudelka


A magnífica exposição Espelho Meu no CCB, para além de outros fotógrafos importantes, levou-me à descoberta de Joseph Koudelka.

As fotos aqui mostradas nem são, quanto a mim, as mais significativas. No CCB ele tem toda uma série de "paisagens desertas" que é simplesmente fabulosa.

Uma maneira de gozar o Agosto em Lisboa e aproveitar para perceber que Portugal continua, como antes, a não rimar com cosmopolitismo.

sexta-feira, julho 29, 2005

Salazar preocupado com o PREC


“As letras estão fundidas no bronze ou simplesmente aparafusadas? É que se estão fundidas no bloco de bronze vão dar depois muito trabalho a arrancar”.

(Salazar, 6 de Agosto de 1966, dia da inauguração da Ponte sobre o Tejo, quando viu o seu nome num dos pilares)

Olha quem voltou



Publicado no genial "Inimigo Público":

Américo Tomás pode ser a surpresa da direita

Perante dois candidatos de centro-esquerda, a direita procura afanosamente um presidente e, à hora do fecho desta edição, já ia em Américo Tomás.
Com Paulo Portas ausente nos Estados Unidos e Sidónio Pais oficialmente morto, a direita portuguesa sente-se desamparada e não se revê nos candidatos que se perfilam no horizonte, especialmente em Freitas do Amaral, que considera uma espécie de Rosa Luxemburgo com um latifundio na Quinta da Marinha e três Rolex.

quarta-feira, julho 27, 2005

Are you talking to me?




por Miguel Poiares Maduro

Are you talking to me?
Esta frase, proferida pelo personagem de Robert de Niro em Táxi Driver, é um clássico. Recentemente, numa eleição do American Filme Institute, foi considerada uma das frases mais marcantes da história do cinema. E, no entanto, em si mesma, esta frase é de uma banalidade confrangedora: "Estás a falar comigo?" Foi o contexto (a que propósito foram ditas mas também como foram ditas, como foram escutadas, e a quem e por quem foram ditas) que deu um significado particular a estas palavras. No filme de Scorsese as palavras do taxista Travis Bickle são mais uma expressão da sua intolerância crescente para com o mundo que o rodeia. Mais um indício da detonação iminente da sua loucura homicida: uma bomba prestes a explodir que Scorsese sugere de forma magistral através de múltiplos símbolos, como o contador de táxi que recorda o tick-tack de uma bomba.
A linguagem é feita de texto e contexto: o que dizemos não são apenas as palavras que proferimos mas também o seu contexto. Neste sentido, a linguagem do cinema, é apenas uma metáfora dos diferentes significados e usos paradoxais da linguagem na vida: ela tanto aproxima como afasta, tanto procura ser clara como se refugia na ambiguidade, tanto democratiza como é um instrumento de autoridade. Eis alguns exemplos:
What we have here is a failure to communicate (Cool Hand Luke, 1967)
A linguagem é acima de tudo entendida como um instrumento de comunicação. De acordo com a sociologia da evolução a linguagem existe para responder à nossa necessidade de cooperar. Para agirmos colectivamente necessitávamos de prever o que os outros iriam fazer e isso exigia um instrumento de comunicação. A linguagem surgiu assim como um instrumento de cooperação e acção colectiva. Não é por acaso que, no episódio da Torre de Babel do Génesis, a forma que Deus encontra para a impedir as ambições do povo que pretendia construir uma torre até ao céu é acabar com a sua língua comum.
Só que a linguagem é hoje também um instrumento de identidade e diferenciação. A nossa linguagem (que é mais do que apenas a língua) identifica-nos com um povo ou com uma classe social ou cultural. Diferentes línguas não são apenas diferentes sons são também diferentes formas de conceber as mesmas coisas. I love you, te quiero, ich lieb dich, não são apenas diferentes traduções do amor, são diferentes formas do entender (como abandono, conquista ou prazer).
As nossas linguagens são uma forma de reconhecermos "os nossos" e, por vezes, excluirmos os outros. A especialização e codificação da linguagem podem ser positivas: são atalhos de reconhecimento daqueles que nos são mais próximos, uma forma de construção de identidade e de comunicação mais profunda entre aqueles que partilham um certo código linguístico. Mas também podem ter muito de negativo: estratificam a comunicação e impedem um diálogo aberto. Nesta segunda dimensão, a linguagem separa em vez de unir.
Toto, I've got a feeling we're not in Kansas anymore (O Feiticeiro de Oz, 1939)
Este exemplo máximo do que os ingleses chamam um understatement (que a linguagem não me permite traduzir…) reflecte um dos paradoxos da linguagem: por vezes é através da ambiguidade que ela nos aproxima. Muitas vezes não se busca a clareza nas palavras que proferimos.
É assim no amor, onde existe essa enorme tensão entre a necessidade de comunicar profundamente mas, também, de preservar algum segredo. Wittegenstein dizia que as palavras disfarçam os pensamentos. Eu acho que, por vezes, elas também disfarçam os sentimentos.
Mas é assim também na nossa vida pública. Muitas vezes, a única forma de concordarmos não é sequer concordarmos em discordarmos. É sim, concordarmos em certas palavras atribuindo-lhes significados diferentes: as mesmas palavras, duas linguagens. Isto não evita o conflito mas pacifica-o e racionaliza-o. Deixa de ser um conflito entre valores diferentes a dirimir através de uma relação de forças para passar a ser um conflito de interpretação a resolver através de mecanismos de decisão racionais aceites por todos.
You can't handle the truth (A Few Good Men, 1992)
Mas linguagem também pode ser utilizada como um instrumento de poder. Uma forma de excluir os outros de certos círculos de conhecimento e decisão ou de se arrogar uma posição de superioridade. É isso que exprime a frase do general representado por Jack Nickolson em A Few Good Men: a incapacidade de alguns para lidar com certa informação justifica que lhes seja negado o acesso a ela. Subjacente, está uma tomada de poder por quem detém um certo código linguístico a cujo conhecimento é atribuída uma autoridade superior.
É a linguagem desprovida de outro sentido que não o impor um certo sentido da vida. Esta arrogância é hoje muito comum, se bem que de forma não claramente assumida, em certas comunidades intelectuais, culturais e científicas. Dizer, por exemplo: "sofri uma metamorfose existencial na minha inteligência crítica aplicada" em vez de… "mudei de ideias". Ou utilizar citações para impor uma pretensa supremacia (não é o meu objectivo aqui…). A linguagem complicada, erudita, difícil, é frequentemente usada como um instrumento de intimidação. É um pouco como aquelas pessoas que confundem o autoritarismo com a autoridade ou que vêem na doçura e gentileza um sinal de fraqueza e insegurança.
As palavras são também poder enquanto forma de reconhecimento social ou político. Ao contrário do que defendeu, a certa altura, Wittgenstein as palavras têm significado mesmo que o significante (a realidade que é suposto elas identificarem) não exista. Elas afectam a nossa percepção da vida mesmo que não existam nela. Num filme dos Monty Python há um personagem masculino que passa o tempo a exigir ter o direito a ter um filho. A certa altura, os seus companheiros, fartos de o ouvir, dizem-lhe: "mas tu és um homem, não podes ter filhos!" Ele responde: "pois, mas quero ter o direito a tê-los na mesma".
É por isso que hoje se batalha tanto pelas palavras. Quanto ao seu género por exemplo. E é verdade que as palavras, por vezes, reflectem mais uma estrutura de poder do que um significado neutral. Hoje, no nosso subconsciente, Deus é uma imagem masculina, mas na versão hebraica da bíblia (bem como noutras religiões) a palavra Deus tende a ser neutral do ponto de vista gramatical. Será que a tradução latina de Deus, atribuindo-lhe um género masculino, reflectiu uma estrutura social de poder ou foi uma pura coincidência? E será que essa atribuição de género masculino se reflectiu noutros aspectos da religião? Trata-se de um debate sobre o poder das palavras.
Oh Jerry, don't let's ask for the moon. We have the stars (Now, Voyager, 1942)
Diferentes expectativas traduzem-se em diferentes compreensões das mesmas palavras. Como escrevia Shakespeare na Tempestade: "disse mais do que queria dizer ou entendeu mais do que eu queria que entendesse." Traduzimos tudo o que ouvimos, no sentido em que o filtramos de acordo com os nossas expectativas ou os nossos desejos. A verdadeira comunicação é aquela em que a linguagem escrita consegue ser também uma linguagem de emoções. Em Lost in Translation, o filme de Sofia Copolla, não sabemos o que Bill Murray segreda ao ouvido de Scarlett Johansson na cena final: terá sido adeus ou até breve? As palavras que lhe atribuímos dependem da nossa leitura de todo o filme. Para mim é uma parábola sobre a dificuldade da linguagem das emoções. Johansson encontra em Murray alguém que consegue traduzir os seus sentimentos. Murray encontra em Johansson alguém que desafia os seus. Terá esse amor futuro? Ambos têm de abdicar de alguma coisa.
Não sei se ao falar de linguagem não utilizei uma linguagem demasiado complicada ou até várias linguagens. Escolha o leitor a sua. Este texto é seu. Por mim, e para citar novamente Wittgensten, "quando já não se tem nada para dizer, deve ficar-se calado!"

por Miguel Poiares Maduro
Miguel.Maduro@curia.eu.int

segunda-feira, julho 25, 2005

Às arrecuas



Depois de várias trapalhadas e de muitos dedos no ar tudo leva a crer que nas próximas presidenciais nos vão obrigar a escolher entre Cavaco e Soares.

Trata-se por um lado da demonstração da decadência da nossa democracia, que já progride às arrecuas, e por outro de uma autêntica provocação perpetrada pelos dois maiores partidos.

Numa altura em que o regime, tendo tomado consciência da sua profunda crise, devia estar a gerar novas ideias, novos políticos ou mesmo novos partidos, eis que nos é apresentado um menu aonde constam os dois principais responsáveis pelo “estado a que isto chegou”.

Bem diz José Gil que os nossos males resultam no essencial de nunca sermos capazes de responsabilizar ninguém.

Ao votar no Cavaco ou no Soares, a grande maioria do povo português como que ilibará a classe política das suas responsabilidades e, sem o dizer expressamente, aceitará para o povo as culpas do cartório. Só se for pelo “deixa andar”...

quinta-feira, julho 21, 2005

Um socialismo da birra ?



"Há "um capitalismo predador e selvático" que "só pode ser substituído por uma sociedade socialista""
Francisco Louçã, Publico 21/07/2005


Faz uma semana fiquei horrorizado com a entrevista do Público ao Jerónimo de Sousa, que considerei paradigmática da pobreza da reflexão e teorização da esquerda em Portugal.

Hoje, após ter lido a entrevista com o Francisco Louçã, em especial a sua parte "teórica", vejo-me obrigado a reeditar o meu desencanto pois ela confirma todos os meus receios.

A salganhada de conceitos, a fuga às definições claras e responsabilizantes, a falta de rigor na caracterização da situação actual e de perspectivação do futuro são a marca de uma política que navega à vista e para a câmara.

Não há uma única referência às relações de produção que parecem ter perdido o protagonismo para as relações sexuais (o homem diz que é marxista ?).

Quando perguntado "E o que é que é ser socialista no século XXI ?" apenas sabe referir aquilo que não quer, não há qualquer laivo de um mundo novo.

Trata-se então de um socialismo da rejeição ? da exclusão de partes ? um socialismo da birra ?

Mais inacreditável só a campanha do Louçã contra as "grandes fortunas" que ele avalia em 750.000 euros.

quarta-feira, julho 20, 2005

A Providência já não é o que era...


Num dia em que fomos bombardeados pelos media com minudências sobre os vários possíveis candidatos à Presidência da República, caiu-me sob os olhos esta pérola:

“Por felicidade do País, ao desempenhar-se do encargo constitucional da eleição, não tem que escolher: felizes as nações que nos momentos cruciais da sua vida não são obrigadas a escolher, e às quais a Providência com desvelado carinho dispõe os acontecimentos e suscita as pessoas de modo tão natural a-propósito que só uma solução é boa e essa a vêem com nitidez no íntimo da sua consciência todos os homens de boa vontade! Felizes porque não se debatem em dúvidas angustiosas, porque não se arriscam em desmedidas contingências, felizes sobretudo porque não se dividem!.”

(Do discurso proferido por Salazar em 7/2/1942, véspera da reeleição de Carmona para PR.)

Estou a ver este filme...


...aqui, agora, 10 anos depois....


Raffarin - Munch



Cada primeiro-ministro prometia conciliar o liberalismo económico e o progresso social; todos falharam nessa tarefa e a opinião pública, depois de ter acreditado neles, retirou-lhes a sua confiança.
Finalmente, Jacques Chirac, encurralado pela próxima criação da moeda única europeia, encorajou Alain Juppé a fazer uma política de redução dos défices públicos que se traduziu numa forte baixa dos rendimentos e, portanto, num novo agravamento do desemprego.
A grande crise que rebentou no fim de 1995 não se deveu nem a um movimento social portador de uma visão de futuro nem foi puro efeito da resistência das vantagens adquiridas; sancionou o desmoronamento de uma sociedade política que, decididamente, não conseguia realizar as transformações económicas necessárias de maneira a reduzir desemprego, mantendo intacto o sistema de segurança social.
A crença suicida na incompatibilidade da abertura económica e da integração social empurrava a França para a beira do precipício.

Alain Touraine em "Como sair do liberalismo ?"

segunda-feira, julho 18, 2005

Paraíso perdido ?



Tróia - Sines, 50 km de areia e mar


"Interesse público" de projectos em Grândola pode levar a queixa em Bruxelas


Presidente da câmara acusa Ministério do Ambiente de ceder a interesses da Quercus

Se os ministérios do Ambiente e da Economia emitirem um despacho conjunto declarando a utilidade pública para viabilizar o empreendimento turístico Costa Terra, previsto para Melides, no concelho de Grândola, a Quercus "não terá outra alternativa" senão avançar para os tribunais e para a Comissão Europeia.
O presidente da Quercus, Hélder Spínola, que ontem se reuniu com o ministro do Ambiente, conta que a declaração de impacte ambiental (DIA) do projecto foi emitida, mas que, apesar de favorável, é condicionada à emissão de uma declaração de utilidade pública por aqueles ministérios. "Estamos a estudar os mecanismos legais mais adequados para impedir a concretização do empreendimento, porque consideramos que há matéria e argumentos jurídicos suficientes para o fazer", diz o presidente da Quercus.
Em causa está a construção de um empreendimento com perto de três mil camas num sítio classificado na rede Natura. "Aquele tipo de investimento não se pode confundir com utilidade pública e, a ser feito, tem de ser fora da rede Natura", considera Hélder Spínola. Fonte do Ministério do Ambiente adiantou ainda que, para além da utilidade pública, o despacho conjunto terá de reconhecer que "não há alternativa ao loteamento" e que "são cumpridas as medidas de minimização e planos de monitorização" indicados no estudo de impacte ambiental. O campo de golfe terá de ser compatível com o regime da Reserva Ecológica Nacional.
Um outro projecto previsto para a mesma freguesia do litoral alentejano, conhecido como Herdade do Pinheirinho, também está na mira da associação ambientalista. "Os estudos de impacte ambiental foram feitos com intervalo de dias e é provável que se venha a aplicar o mesmo princípio", antevê Hélder Spínola. Só estes dois empreendimentos prevêem, numa extensão de três quilómetros, 410 moradias, três hotéis, uma estalagem, sete aldeamentos/apartamentos e dois campos de golfe. Dada a dimensão dos projectos, a Quercus exige a realização de uma "avaliação conjunta dos impactes ambientais cumulativos". Para Hélder Spínola, "não basta avaliar os projectos isoladamente, é preciso aferir as suas implicações em conjunto". Tal mecanismo, adianta, "está previsto na lei" e deverá ser conduzido pelo próprio Instituto de Conservação da Natureza, em articulação com o Instituto do Ambiente e com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo.
Para o presidente da Câmara de Grândola, a exigência agora feita pelo Ministério do Ambiente não é mais que "um novo entrave" ao andamento de um processo que se arrasta há 15 anos. Carlos Beato garante nunca ter sido abordada, em reuniões com o ministério, a questão do interesse público. "Fala-se tanto em interesses, esta também é uma cedência a interesses dos ambientalistas", critica o autarca, acrescentando ser "lamentável não ter sabido disto através dos órgãos próprios", o que configura uma "violação da confiança entre os diversos níveis da administração".
O presidente da Câmara de Grândola tem sido a face mais visível na defesa dos projectos turísticos para o seu concelho. A necessidade de uma declaração de utilidade pública para que o processo avance é, em seu entender, "uma mudança de regras a meio do jogo". Todos os procedimentos legais têm sido "rigorosamente cumpridos", pelo que a decisão é "mais um duro golpe para as oportunidades de desenvolvimento do Alentejo litoral", considera Carlos Beato.
A Herdade do Pinheirinho, um loteamento para 200 hectares da empresa Pelicano, apoiado pelo programa One Planet Living, da World Wildlife Fund, contempla 204 lotes para moradias, dois lotes para hotéis, quatro lotes para aparthotéis e três lotes para aldeamentos ou apartamentos turísticos. Associados estarão ginásio, centro de convívio, capela e áreas de comércio. Para a zona sul da área habitacional está projectado um campo de golfe com 27 buracos, em 90 hectares.
O Costa Terra prevê um investimento de 450 milhões de euros, noutros 200 hectares da freguesia de Melides. Terá 2912 camas, distribuídas por 204 moradias e 862 apartamentos, que não ultrapassarão os oito metros de altura e que respeitarão a traça original alentejana. Contempla centro de talassoterapia, centro hípico, clubes de ténis, zonas comerciais e um campo de golfe de 18 buracos.

Cláudia Veloso
Publico, 16/07/2005

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quarta-feira, julho 13, 2005

"Bits" e "Bytes" nos idos de 70


Já que o Fernando Redondo resolveu desenterrar histórias de computadores, lembrei-me de pôr no “blog” este texto, escrito já há algum tempo. São recordações da minha primeira experiência como informática. Limitei-me a alterar os nomes das pessoas.

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O Sr. Santos aperta a mão a cada um dos colegas, como todos fazem quando chegam de manhã.
O Sr. Silva vira a página do calendário e enfia as mangas de alpaca pretas, com elástico em cima e nos punhos, para poupar o casaco cinzento que comprou no Natal.
O Sr. Martins tira o meio lápis que já tinha guardado atrás da orelha e pega no escantilhão para continuar a desenhar o complexo fluxograma que colocará mais tarde na corticite a que encosta a cadeira.
A Célia começa a perfurar um programa novo em cartões azuis.
A Leonor queixa-se das insónias da noite anterior.
As duas doutoras verificam cuidadosamente os maços de cartões que a Célia pôs nas suas secretárias e voltam a colocar elásticos em cada um. Nessa noite, seguirão de avião para a Bélgica os seus primeiros programas.


É assim que se prepara a chegada de um novo computador, numa cave de Almirante Reis, numa manhã da Primavera de 1970, numa empresa dita de “Service Bureau” - e que, se tivesse existido trinta anos mais tarde, estaria a fazer “Outsourcing”.
O chamado material clássico e os pesados computadores a cartões, todos cinzentos, continuam a executar as aplicações de salários e de contabilidade dos clientes. Mas não chegam para satisfazer as exigências e a visão que o Dr. José Azevedo tem para a sua empresa, no início de uma nova década.
Por isso vem aí “O” computador que ainda precisará de cartões, mas que terá também discos e bandas magnéticas e 30K “bytes” de memória! O seu espaço já está reservado e devidamente envidraçado, o chão falso colocado e a instalação de ar condicionado não tardará. Por isso também admitiu as duas doutoras.

O Sr. Silva combina mais uma almoçarada com frango de churrasco e tenta convencer as doutoras a participarem. (Só é costume irem homens: as perfuradoras levam comida de casa e as doutoras fazem companhia uma à outra num restaurante perto da Praça do Chile.) Elas dizem que talvez para a semana.
O Sr. Martins explica às doutoras por que razão é preciso utilizar tantas instruções de condensação nos programas: há que poupar meios “bytes” sempre que possível, todo o desperdício pode ser fatal, mesmo com o grande sistema que aí vem.


O Sr.Martins é o chefe da Programação e Análise. Só tem a 4ª classe, mas todos acham que ele é um génio. Nem percebem para que servem doutores, o exemplo do Sr. Martins mostra bem que não são precisos canudos para lidar com computadores.

A Drª Júlia telefona para o fornecedor do novo computador para que mande buscar os cartões com os programas. Estes serão compilados em Bruxelas – tem que ser assim já que o dito computador será o primeiro da sua espécie, o maior, o mais rápido a ser instalado em Portugal.
O Sr. Santos pergunta a todos se acreditam que o arranque do novo sistema se fará em Maio como previsto. Ninguém responde porque toda a gente duvida. Ele volta para a sua Separadora.
A Leonor diz à Célia (que é a responsável pela Perfuração, ou seja por ela própria e pela Leonor) que o papel higiénico de reserva não vai chegar até ao fim do mês se não houver um esforço colectivo de poupança.


É 6a feira, 1h da tarde. Os homens atravessam a avenida e vão comer o tal frango de churrasco numa tasca com azulejos brancos na parede. Já está calor desde manhã, mas eles não sabiam porque não há janelas na cave de Almirante Reis.
Os eléctricos passam devagar, meios vazios. Os portugueses continuam tristonhos, mas há algo de diferente nas ruas. As raparigas encurtaram muito as saias, há mesmo algumas de “hot pants”.

O Sr. Martins e o Sr. Santos retomam a codificação dos seus programas.
As duas doutoras não têm nada que fazer porque as listagens de Bruxelas só chegarão lá para 3ª feira. O tempo custa a passar.
A Célia recorda que há um lanche às 5h no átrio da casa de banho das senhoras porque a Leonor faz anos.
A Drª Júlia telefona ao namorado e combinam ir ao cinema. A Drª Rita pergunta-lhe o que vai ver. Diz que ainda não sabe: parece-lhe demasiado esotérico explicar que será “A Paixão de Joana d’ Arc”, numa retrospectiva de Carl Dreyer no Palácio Foz...
A Leonor diz que está desejando que o dia acabe para ir buscar a filha que só vê aos fins de semana: de 2a a 6a fica em casa dos avós na Malveira.
Há menos barulho porque ninguém trabalha com a Separadora – para ela já é sábado...


Acabou o fim de semana, passou-se mais um mês.
É noite e Marcelo Caetano entra pela casa dos portugueses com mais uma “Conversa em Família”. Em Alfama, preparam-se as ruas para a noite de Santo António.

O computador chegou entretanto. Foram abertas dezenas de caixotes, os técnicos do fornecedor esticaram muitos metros de cabos. Já piscam luzinhas desde a véspera.
É tarde mas ninguém se vai embora. Finalmente, “o sistema “arranca”! Vem o Dr. Azevedo, abre-se uma garrafa de champanhe. As perfuradores põem batom, o Sr. Silva tira as mangas de alpaca.
O computador só compila e só executa um programa de cada vez (modernices de multiprocessamentos só virão mais tarde), mas tem 30 K, é grande, é bonito e fica muito bem na sala envidraçada.

Afinal, Portugal não é tão atrasado como dizem!

segunda-feira, julho 11, 2005

Retrato Robot de um Informático




Retrato Robot de um Informático
Publicado em "O Diário" de 29 de Agosto de 1987



Suponhamos que tem 42 anos. E trabalha nestas coisas dos computadores há 18. Terá, por hipótese, aquela formação que se costuma designar por "Frequência Universitária" e passou portanto pelo caldeirão das crises académicas dos anos 60.

Os primeiros manuais que lhe meteram na mão foram, provavelmente, ainda os referentes ao "material clássico", máquinas devoradoras de cartões perfurados que os separavam, ordenavam, e totalizavam valores neles contidos.
Esta coisa dos cartões perfurados é já dificil de explicar aos filhos mas os mais velhos ainda se lembram concerteza dos rectangulos de cartolina, cheios de furos, em que lhes chegava a conta da luz.

A programação nesses tempos era uma especie de tricot feito com fios que se emaranhavam disputando uma matriz de orifícios que davam aos painéis um ar de favos metálicos.
Os operadores eram rapazes robustos que passavam horas manipulando milhares de cartões que manuseavam como acrobáticos jogadores de cartas num jogo de milhares de baralhos. Os cartões andavam numa roda-viva da separadora para a ordenadora e daí para a tabuladora num circuito só interrompido pela catástrofe de uma temida queda. Os operadores trajavam uma incompreensível bata branca.

A tecnologia deu um salto e os programas passaram a residir na memória dos computadores. O tricot agora passara para a escolha das instruções dos programas que tinham que caber em memórias tão pequenas que fariam rir os nossos ases do "Spectrum".

Depois vieram os suportes magnéticos para os dados; primeiro as bandas depois os discos e por fim as diskettes. Foi uma revolução e um drama. A informação deixou de estar ao alcance da vista (já não era possivel pregar a partida aos novatos de os mandar procurar aquele "8" perfurado por engano e que era preciso colar no respectivo buraco do cartão).
Mas as máquinas eram mastodonticas e só atendiam um utilizador de cada vez.
Formavam-se bichas e havia discussões pois que a falta de uma virgula obrigava a mais uma hora de compilação do colega anterior. Ninguem se atrevia a fazer planos mais rigorosos do que ao nível dos dias ou das semanas.

Por isso foram bombásticas as primeiras experiências de "spooling". Já era possivel isolar as morosas operações de entrada e de saída do trabalho própriamente dito. As unidades de leitura e as impressoras trabalhavam dia e noite independentes das operações de calculo e agora a luta centrava-se à volta da posição de cada um nas filas de espera de leitura e impressão. Também apareceu um novo cataclismo que consistia no misterioso desaparecimento do nosso mapa que deveria estar no meio da enxurrada despejada pela impressora durante a noite passada.

O salto seguinte teve a ver com os sistemas multiposto com todas as preplexidades resultantes de tentar perceber a lógica que a máquina usava para atender as multiplas solicitações. A guerra transferiu-se para a aquisição de prioridades no atendimento pelo sistema. Os primeiros a ler os manuais entretinham-se a relegar os colegas para estatutos em que a máquina só lhes passava cartão quando não tinha mesmo nada que fazer.

Chegou-se assim aos grandes sistemas de hoje, com centenas de utilizadores locais ou remotos, e com as suas máquinas virtuais que nos dão a ilusão de termos o computador todo só para nós (isto quando o dimensionamento foi correcto pois de contrário em vez de tempo de resposta temos os famigerados prazos de entrega).

Esta breve recapitulação histórica tem como objectivo transmitir aos mais jovens um "cheirinho" das vicissitudes por que passaram os colegas que, como agora parecerá lógico, têm alguns cabelos brancos. As vicissitudes que todos nós, velhos e novos, partilhamos agora com as ultimas palavras da tecnologia ficam para outra ocasião.

Mas vale a pena colocar uma outra questão pertinente depois desta breve viagem pelo passado. Quantas linguagens, comandos e truques foram ficando pelo caminho ?
Quantas palavras-chave, parâmetros e códigos tivemos que aprender para depois esquecer ao longo das nossas vidas ?

Todos os Sistemas Operativos e Arquitecturas foram anunciados com fanfarras de genialidade eterna para morrerem quase de vergonha alguns anos (ou mesmo meses) mais tarde.
Dir-nos-ão que o saber não ocupa lugar. Nada mais demagógico. Com excepção de uma certa disciplina na análise dos problemas pode dizer-se que os conhecimentos que adquirimos (quantas vezes a mata cavalos) não podem ser considerados conhecimento no sentido nobre do termo.

Sentimo-nos um pouco como alguem que tendo aprendido alemão descobrisse algum tempo depois que já ninguem falava tal lingua. Depois aprendesse francês e constatasse que os franceses eram um povo em vias de extinção e assim sucessivamente.

Temos que invejar os velhos camponeses que nem com a esquisitice de um tractor perdem a face perante os netos. Nós temos experiências muito mais traumatisantes com os nossos putos e os seus "pokes".

Quem nos devolve as horas e mesmo noites que mergulhamos nos "traces" de programas cheios de ;,<,),&,%,#,$ ? Como vamos recuperar da erosão provocada por vagas sucessivas de lixas informáticas sobre as nossas memórias pessoais ?

Nós fomos a argamassa de todos os "ease of use, "user friendly", linguagens de query, interfaces em linguagem natural, sistemas periciais e outras iguarias com que se empanturram os utilizadores actuais.

Que captemos ao menos a lição dos factos e passemos a olhar com maior bonomia o que temos que aprender hoje. Não podemos fechar os olhos, e o espírito, ao mundo em que vivemos sob pena de virmos a ser os velhos mais ignorantes da história da humanidade.

Fernando Penim Redondo

domingo, julho 10, 2005

O “Escritório do Futuro”... há 18 anos.



O “Escritório do Futuro”... amanhã às nove e meia
Publicado em "O Diário" de 3 de Outubro de 1987


Chega-se ao 11º andar de um edifício de cimento e vidro pelas 9.30 horas se o percalço de um engarrafamento não ocorre.

O espaço de trabalho pode ser "open" ( descampado, em tradução livre) ou constituído por gabinetes de 3/4 habitantes cada. O que importa agora, o que distingue, é a presença em cada secretária de um terminal de computador ( para não complicar imaginem um televisor com teclado, que serve).

Tambem lá estarão, é claro, os apetrechos tradicionais: um bloco calendário, um cesto "IN/OUT", um estojo de miudezas como "clips" e elásticos, eventualmente um cinzeiro, mas como veremos mais adiante reduzidos a um papel decorativo. Uma manifestação de tradicionalismo, se quiserem uma ligação sentimental a um passado de mangas-de-alpaca.

Analisemos agora o comportamento desse individuo que, vencidos os engarrafamentos ao volante do seu automovel, pousa a pasta e pendura o casaco num cabide suspenso da ilharga do armário. Em certas situações pode ser que dedilhe um jornal, mas com o ar pouco atento de quem quer apenas ter a certeza de não deixar passar algo de especialmente importante. Posto o jornal para o lado, por vezes mesmo antes disso, os dedos procuram as teclas mais do que batidas, para iniciar a sessão de trabalho com o computador.

Este acto, que técnicamente pode assumir as mais variadas formas, corresponde ao antigo ligar da máquina de escrever, se era electrica, ou mais genericamente ao gesto de preparar a ferramenta com que se vai trabalhar. A diferença estará apenas na poténcia e variedade das fun‡óes proporcionadas pela "ferramenta" computador.

Muito provavelmente o primeiro serviço pedido será aquele que se vulgarizou como "correio electrónico". Como o nome indica permite trocar "correspondéncia" sem fazer viajar papéis ( os cientistas descobriram que os impulsos eléctricos são substancialmente mais rápidos do que os continuos).
O gesto primordial do "correio electrónico" é o de "abrir a caixa do correio", isto é, saber quem e quando nos enviou o qué. Tal pode, no entanto, ter consequéncias indesejaveis. Vejamos porquê.

O seu autor tanto pode pertencer a uma comunidade informática de dezenas de utilisadores trabalhando na área da Grande Lisboa como estar integrado numa rede com dezenas de milhares de membros espalhados por todos os continentes. Assim, feito o pedido de "abertura" da "caixa do correio", pode deparar-se com uma lista de "cartas" vindas tanto do parceiro da sala do lado como de um colega da Austrália.

O caso agrava-se indubitavelmente se o numero de tais "cartas" for, por exemplo, 174. O destinatário, nestes casos, sente que tem o dia estragado. Um dia não chegará, provavelmente, para ler nem que seja em diagonal todas as mensagens recebidas.

Então, perante a lista imensa, lá irá seleccionando e lendo aquelas que lhe parece poderem necessitar de atenção e eventual resposta mais urgente. Convem explicar, para os mais afastados destas coisas, que tanto a lista das mensagens como o respectivo conteudo são visualisados no "ecran" ( um pouco como se pudessemos receber as cartas da família do Norte no televisor lá de casa).

Claro que é reconfortante enviar uma mensagem, por exemplo para Singapura, e saber que o destinatário poderá lé-la daí a instantes ( a não ser que haja bronca na rede telefónica, claro); mas não há bela sem senão. Neste caso, o senão resulta do abuso na utilização destes meios; há quem envie mensagens a propósito e a despropósito. O pior ainda é o abuso das facilidades da redistribuição de mensagens pois nestes casos os prevaricadores nem sequer tém que se dar ao trabalho de produzir um texto original.

Funciona assim: alguem recebe uma mensagem e julga que o seu conteudo é importante para os senhores A, B e C. Então junta ao texto que recebeu uma frase inteligente tipo "penso que este assunto é extraordináriamente importante para si" e envia para os trés presumíveis interessados. Alguns destes podem ter uma ideia semelhante e assim nasce uma assustadora reacção em cadeia. As mensagens que chegam depois de ter passado por vários destes "distribuidores" são particularmente irritantes porque obrigam a ler todos os comentários bacocos antes de poder decidir se o conteudo é, ele próprio, tambem bacoco.

Tal como as cartas em papel estas, as electrónicas, uma vez tratadas são muito bem arrumadinhas em ficheiros magnéticos ( versão actual dos dossiers).

Mas o computador não serve apenas para "correio electrónico". Ao longo do dia vai servindo como:
- Máquina de calcular
- Máquina de escrever (associado a impressoras de qualidade)
- Prontuário ortográfico automático- Enciclopédia técnica
- Consultor técnico em vários domínios
- Agenda e gerador automático de avisos
- Intercomunicador ( mensagens escritas que interrompem o destinatário) etc, etc.

Assim, a ligação do trabalhador a esta super-ferramenta é muito estreita e só quando uma quebra na corrente inviabiliza a sua utilização é possivel retomar os placidos rituais da leitura e do despacho dos papéis (que apesar de tudo continuam a existir, claro).

Moral da história...

A descrição feita não pretende ser exaustiva, e muito menos rigorosa, mas destina-se a divulgar em traços largos o ambiente de trabalho daqueles que, já hoje, vivem uma versão necessáriamente mitigada do "escritório do futuro". Se considerarmos redes com centenas ou milhares de utentes, acesso a grandes bases de dados locais e remotas, a disponibilidade permanente de tais meios e a sua efectiva utilização nas tarefas do dia a dia estaremos a falar do ambiente de trabalho de umas quantas centenas de portugueses.

Se atendermos á previsível generalização deste tipo de ambientes, que tudo leva a crer serão o habitat de cada vez maior numero de trabalhadores dos serviços, é facil perceber como se torna importante analisar as "ilhas" já hoje existentes.

Desde logo o aumento enorme da velocidade de circulação da informação, bem como os volumes disponíveis, se por um lado permitem resolver problemas complexos e numerosos impóem tambem um elevado ritmo de trabalho e situações de atraso permanente relativamente ás solicitações. As relações com os superiores hierarquicos tendem a perder o caracter de relação social ( as conversas para definição das tarefas e suas implicações tendem a ser substituídas por listas "electrónicas").

Os próprios métodos de avaliação do trabalho realizado sofrem grandes alterações pelo recurso a ferramentas do tipo "controle de projectos", memoranduns automáticos e outras (é por exemplo possivel saber em qualquer momento quem está a trabalhar com determinado computador, é possivel pór o computador a verificar se todos os participantes pretendidos numa reunião tém as suas agendas livres nesse dia e hora, etc) .

Tambem se verifica uma redução das deslocações e dos contactos pessoais delas derivados. Os contactos profissionais, em que se opera uma substituição do telefone pelas mensagens escritas, tendem a formalizar-se. O esclarecimento das situações pode tornar-se mais dificil pois a forma escrita, passível de utilização posterior, retira alguma maleabilidade e espontaneidade na superação dos problemas.

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Muitos analistas prevéem um crescimento enorme do numero de empregados nos serviços o que parece contraditório com as produtividades gigantescas dos meios tecnológicos descritos.
Com efeito já hoje são observaveis reduções nos efectivos de certas tipos de profissões. Alguns exemplos:

- As(os) dactilografas - Hoje, como vimos, cada um pode escrever os documentos que desejar no seu próprio terminal
- As(os) secretárias - As funções de atendimento telefónico durante as auséncias podem ser resolvidas pela telefonista, se dispuser de um terminal para enviar um aviso para a "caixa do correio" do destinatário da chamada. O arquivo é, como vimos, cada vez mais electrónico.
- Os operadores de recolha de dados - A disseminação de dispositivos cuja utilização produz, automáticamente, o registo electrónico está a ser feita a ritmo acelerado (veja-se o caso das transacções bancarias através das máquinas).

Parece pois legítimo concluir que as operações tradicionais do escritório estão sujeitas, tal como as da agricultura e da industria, a um processo de progressiva automatização e provavel redução de efectivos.

Com a produção agrícola e industrial garantidas por robots ou por trabalhadores baratos do "terceiro mundo" e com o trabalho dos escritórios entregue a um reduzido numero de operadores de máquinas complexas, o nosso destino na Europa e na América do Norte, dizem alguns analistas, é tornarmo-nos gigantescas colmeias de super-produtivos "prestadores de serviços".

É neste ponto que me lembro sempre do magistral "Ghost-busters" em que um grupo de jovens empreendedores resolve montar uma empresa para prestar serviços de "caça de fantasmas" na pragmática New York.

Seja como fór:

- O escritório não voltará a ser o mesmo
- Os "serviços" de que se ocuparão tantos milhões dos nossos filhos e netos ainda estão por inventar, bem como as relações socio-económicas que lhes hão-de corresponder.

...mas isso terá que ficar para outra altura.


Fernando Penim Redondo

sábado, julho 09, 2005

Atribulações de um "posterior" no Japão II


Em vez de escrever um comentário ao "post" que o Fernando publicou ontem sobre este assunto, penso que é mais esclarecedor difundir estas instruções detalhadas.

Em todo o caso, e em relação às dúvidas do Fernando quanto às diferenças enter "shower" e "bidet", devo dizer que também as tive: a distinção entre "to rinse" e "to spray" nem sempre era muito nítida na prática!...

Mergulho




Silvia Patrício

Exposição de pintura

Até 30 de junho (Entrada Livre)

Arquivo livraria (espaço de galeria)

Av. combatentes da grande guerra, 53 2400-123 leiria

Segunda a Sábado: 9h30-23h00

Domingos e Feriados:14h30-19h30

www.arquivolivraria.pt

sexta-feira, julho 08, 2005

Atribulações de um "posterior" no Japão

No seu post "E o Japão ali tão longe" a Joana fazia uma declaração que desencadeou a nossa curiosidade: "Por decoro, não descrevo todas as funcionalidades de que dispõe uma simples sanita".

Como não consideramos este assunto inferior, e não gostamos de atirar dúvidas para trás das costas, lá conseguimos aliviar o decoro da Joana e convencê-la a facultar-nos a documentação que segue:

I





II




III




Desafiamos agora a Joana, através dos comentários que entender necessários, a precaver os potenciais turistas contra os percalços que as instruções auguram.

Por exemplo eu tenho alguma dificuldade em diferençar o "shower" do "bidet" o que pode ter efeitos nefastos no "posterior"...

quinta-feira, julho 07, 2005

Em defesa de "Cândido"



Em defesa de "Cândido"
Miguel Poiares Maduro
miguel.maduro@curia.eu.int


Acredita num final feliz? Eu sempre preferi acreditar. É por isso que sempre simpatizei com o "Cândido", eterno optimista vítima do sarcasmo de Voltaire. Na personagem de Cândido, que permanecia optimista face às maiores desgraças, seguindo a filosofia do seu mestre Pangloss para quem todas as desgraças aconteciam para seu bem, Voltaire criticava o naturalismo optimista da condição humana da filosofia do seu tempo. Esse optimismo cego e atávico corre o risco de nos tornar passivos perante a vida, aceitando todas as adversidades sem as combater e sem tentarmos melhorar a nossa existência. Mas Voltaire enganou-se ao confundir Cândido com Pangloss e optimismo com resignação. O optimismo de Cândido é positivo, o que é negativo é o transformar esse optimismo numa filosofia passiva e acrítica da vida como a de Pangloss.
Na verdade, uma filosofia pessimista conduz ainda mais seguramente a um cepticismo imobilista. Para os pessimistas, mesmo o que a vida nos pode dar de bom é seguramente transformado em mau pela natureza humana. O que identifica um pessimista é o seu cepticismo face à natureza humana. Normalmente, isso esconde-se por detrás de uma concepção cínica do que se passa à sua volta que facilmente se transforma numa visão conspirativa do mundo. Para um pessimista há sempre alguma outra coisa por detrás de um gesto simpático, há sempre uma mentira escondida numa promessa, há sempre uma desilusão a seguir a uma ilusão. Da vida, dos outros e, por vezes, até de si próprios nada podemos esperar de bom. Na dúvida, deve-se presumir o pior! Só que isto conduz a negar qualquer capacidade transformadora na nossa condição humana. Não podemos melhorar-nos nem tentar melhorar os outros. A nossa relação com os outros só pode ser vista como estratégia: a bondade não convence, apenas o engano vence.
Claro que o cinismo inerente a uma filosofia pessimista nos dá uma posição confortável perante a vida. Podemos olhar o mundo de cima para baixo e ser sarcásticos com o "engano" dos outros. Talvez seja por isso que hoje em dia se encontrem muitos mais cínicos que optimistas. É bem mais fácil ter piada sendo cínico do que positivo. Sempre me diverti com a escrita de Vasco Pulido Valente mas sempre me perguntei como se sairia ele se lhe pedissem para escrever algo positivo durante algumas semanas…
Diz-se que a arte reflecte a vida e o pessimismo é hoje dominante na arte e até na filosofia. Será porque realmente o mundo nós dá hoje mais razões para sermos pessimistas? O pessimismo é consequência do mundo ou de nós? Adorno escreveu que depois do Holocausto já ninguém conseguia escrever poemas. Neste caso, a arte apenas exprime o mal do mundo. Mas será que o mundo se tem tornado pior? É que me parece que a arte se tem tornado mais pessimista.
Muitos dramas clássicos exprimiam um optimismo triste: na tragédia final estava sempre ínsita uma possibilidade de redenção humana. É importante não confundir optimismo com comédia e pessimismo com drama. Há tragédias optimistas porque acreditam na natureza humana. Mesmo Romeu e Julieta é uma peça optimista ao demonstrar que o amor é possível entre duas pessoas de famílias que se combatem. Shakespeare exprime algum pessimismo quanto ao contexto social que impede esse amor mas é optimista quanto à natureza humana que o concretiza. No lado oposto, o fantástico filme de S. Kubrick Dr. Strangelove, é uma comédia que exprime um enorme cepticismo quanto à natureza humana.
Da mesma forma, não se deve confundir um optimista com alguém feliz. Ser optimista pode é ser a melhor forma de reagir à infelicidade. Nem se confunda pessimismo ou optimismo com vontade de morrer. Será que um optimista é alguém deprimido que não se suicida ou, pelo contrário, ele não se suicida porque é tão pessimista que acredita que o que o espera na morte ainda é pior?... O pessimismo a que me refiro aqui é uma filosofia da vida assente num profundo cepticismo quanto à natureza humana.
Há uma forte tendência na arte actual para exprimir este enorme cepticismo. O que aconteceu? Onde foram parar todos os optimistas? Há duas explicações possíveis. A primeira, é que o crescente pessimismo é uma reacção aos limites da razão: a crença absoluta na razão do período iluminista revelou-se excessiva enquanto instrumento de promoção do desenvolvimento humano e pessoal e isso traduziu-se num enorme cepticismo face à natureza humana. O pessimismo antecipou, neste caso, a crítica pós-moderna à razão.
A segunda explicação é mais banal. É simplesmente mais fácil ser pessimista. Havia um tempo em que a arte mediatizava a vida, exaltando-a ou permitindo-nos esquece-la. Os seus tempos eram lentos pois lenta era a forma de viver a vida. Hoje a arte tem de ser mais rápida que a vida para poder ser consumida ao ritmo desta. Neste contexto, o cinismo é a forma mais rápida de fazer arte. É hoje mais fácil matar um personagem do que encontrar um razão para o fazer viver. Não se enganem, eu também não resisto ao gosto da tirada rápida e espontânea, da arte por instinto, do cinismo bem dirigido. Mas custa-me ver a arte reduzida a uma mera expressão do nosso pessimismo existencial.
Na vida, passa-se o mesmo. Ser optimista dá mais trabalho. Significa reconhecer que temos algum controlo sobre a vida e exige que estejamos dispostos a investir na nossa capacidade de nos transformamos e a transformarmos. Mas isso co-responsabiliza-nos. Somos co-autores da vida e não apenas os seus destinatários. É mais fácil ser pessimista e escondermo-nos no cinismo.
Em Portugal, uma sondagem recente indicava que mais de 70% dos portugueses estavam pessimistas. Seria importante clarificar bem o que isto quer dizer. Estar pessimista e ser pessimista são coisas diferentes. Até um optimista pode por vezes estar pessimista… Mas o optimista acha que pode fazer algo para vencer o pessimismo e assume essa responsabilidade. O importante é que os portugueses parem de agir como pessimistas, cínicos e conspirativos perante tudo o que se passa a sua volta, descrentes da natureza dos outros e, dessa forma, desculpando a sua própria natureza também. Um livro recente de Helmut Gaus faz corresponder as fases de desenvolvimento económico com os anseios e receios psicológicos colectivos. De acordo com esta tese, somos, em larga medida, os executores da nossos próprios receios…
Com o pessimismo acontece o mesmo que com as profecias: se as aceitamos, elas realizam-se, pois somos nós mesmos que nos tornamos nos agentes da vontade dos profetas.
Necessitamos de optimistas embora eu esteja algo pessimista quanto à possibilidade de os encontrarmos…

Miguel Poiares Maduro
miguel.maduro@curia.eu.int

quarta-feira, julho 06, 2005

Estocolmo para amigos



Por Ali !!


Clique na foto se quer ver o resto das fotografias feitas em Estocolmo por altura do Solistício de 2005.

segunda-feira, julho 04, 2005

Atendimento Automático



e agora, para descontrair, uma piada qua "anda por aí"


Responde o atendedor de chamadas da Casa de Saúde:

"Obrigado por ter ligado para o Júlio de Matos (Instituto de Saúde Mental), a companhia mais adequada aos seus momentos de maior loucura."

* Se você é obsessivo-compulsivo, marque repetidamente o 1;

* Se você é co-dependente, peça a alguém que marque o 2 por si;

* Se você tem múltipla personalidade, marque o 3, 4, 5 e 6;

* Se você é paranóico, nós sabemos quem é você, o que você faz e o que quer. Aguarde em linha enquanto localizamos a sua chamada;

* Se você sofre de alucinações, marque o 7 nesse telefone colorido gigante que você, e só você, vê à sua direita;

* Se você é esquizofrênico, oiça com atenção, e uma voz interior lhe indicará o número a marcar;

* Se você é depressivo, não interessa que número marque. Nada o vai tirar dessa sua lamentável situação;

* Porém, se VOCÊ votou Sócrates, não há solução, desligue e espere até 2009.
Aqui atendemos LOUCOS, não atendemos PARVOS ou INGÉNUOS! Obrigado!